20080628

Camiseta nova para sair no sábado #15

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20080627

A cigarra é a formiga (ou vice-versa)

(publicada hoje na Revista de Inverno do Diário Catarinense)

Era uma vez uma formiga e uma cigarra que moravam no Rio de Janeiro. Como na antiga fábula, uma trabalhava no verão enquanto a outra cantava o ano todo. Por mais alta que estivesse a temperatura, a formiga passava o dia inteiro carregando folhas da rua para o formigueiro. O crepitar dos gravetos secos no terreno onde ia buscar alimento, a algazarra das irmãs diante de um canudo melado de refrigerante caído no caminho, mesmo as imprecações que, mentalmente, rogava contra os impostos leoninos; tudo era abafado pelo chiar incessante e estridente da cigarra. E assim cada uma ia seguindo seu destino, sem maiores questionamentos.


O que pouca gente sabe é que havia outra formiga e outra cigarra – em Santa Catarina. Como suas congêneres cariocas, as duas viviam naquele ramerrão. Nascida e criada na terra, a formiga era funcionária do Estado em regime integral e dedicação exclusiva. Desde que se lembrava, carregava folhas entre repartições e gabinetes. Tinha direitos, licença-prêmio, gratificações, abono-qualquer-coisa. Prestes a ser promovida por tempo de serviço, um pensamento a inquietava com cada vez mais freqüência: não fez metade do que imaginava que faria e fez o dobro do que jamais imaginou que fosse fazer.


Com a cigarra, a situação era exatamente oposta. Para efeito externo, trocou a carreira corporativa na metrópole pelo sonho colaborativo na província ao se mudar para cá. No íntimo, porém, tomou a decisão com base em um conceito pessoal e intransferível de qualidade de vida, que compensava somente as ausências. Não teria contrato, mas não teria chefe. Não teria empresário, mas não teria horário. Não teria muito dinheiro, mas não teria muitas despesas. Aqui chegando, descobriu que seu carma envolvia uma dose bem mais generosa de estoicismo. Não teria nem metade pelo dobro. Por isso, rebolava.


Encerrado o verão, as perspectivas mostravam-se tão desoladoras que a cigarra abriu mão de mais um de seus princípios. Comparado com as concessões que já havia feito para continuar a aventura catarinense, entoar canções de outros bichos em um bar seria moleza. A estréia coincidiu com a Festa do Pinhão, em Lages. No fim de semana seguinte, nevou na Serra. Pelo resto da estação, o frio lotou hotéis e restaurantes, aumentou o consumo de vinho, aproximou e renovou espíritos. Havia demanda para as mais variadas atrações, menos para as versões cicadídeas de sucessos de Kid Abelha, Pato Fu, Nara Leão, Edson Cordeiro, Pantera e demais espécimes de fauna pop.


Em uma noite das mais geladas, a formiga foi ver o show da cigarra. Entrou, pediu uma bebida e ficou encostada no balcão, avaliando o (fraco) movimento. Quanto pior, melhor para suas intenções. Negociou sua saída do funcionalismo e apresentou uma proposta abaixo do valor de mercado pelo bar. Diferentemente de como a vovó já dizia, ela não trabalhava só porque não sabia cantar. Era porque ninguém pagava – com razão – para ela cantar. Sendo dona do lugar, convocaria a si própria para subir ao palco. Não pelo talento, muito menos pela grana, e sim pela realização. A cigarra também estava resolvida: iria se inscrever em um concurso público.


Na mesma época, em uma tarde especialmente quente no Rio de Janeiro, a formiga carioca se encheu.


— Já estamos no meio do ano, não tem lugar para mais folha nenhuma lá em casa e nada de esse calor ir embora! — protestou.


Sem parar de inflar seu abdômen ao ritmo de “Grilo na Cuca”, a cigarra retrucou:


— No Rio não tem inverno...


Pois é, em Santa Catarina tem.


Moral da história: Visite o zoológico de Pomerode. Lá, os animais não falam.


20080621

Camiseta nova para sair no sábado #14

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Comentários gratuitos sobre músicas idem

Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, Sessão das 10
Em 1971, o presidente da gravadora CBS (atual Sony-BMG), Evandro Ribeiro, foi viajar. Mal sabia o executivo que, durante sua ausência, o então produtor musical da companhia, Raul Seixas, criaria a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista. Sem lenço, sem documento e sem juízo, o grupo gravou um dos discos mais anárquicos, escrachados e inovadores da música brasileira: Sessão das 10. (continua)


20080614

Camiseta nova para sair no sábado #13

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20080611

Alô alô torcida do Framengo

Com Obama nas alturas, nada mais conveniente do que conhecer sua linhagem. Um bom material de referência é este African American Almanac, que retrata nomes e feitos da negritude divididos por áreas do conhecimento. No verbete dedicado ao então senador por Illinois, o candidato à presidência dos Estados Unidos é descrito como “uma estrela ascendente do Partido Democrata”. Além de políticos, há acadêmicos, cientistas, escritores, esportistas, atores, diretores, artistas plásticos, músicos. Monumental (1468 páginas!), a obra só peca por ater-se exclusivamente aos irmãos norte-americanos, fazendo apenas menções a emblemas da causa como Mandela, Marley e Pelé e ignorando o gênio de Jorge Ben. Mas parece que Obina vai entrar na próxima edição.

20080607

20080606

Comentários gratuitos sobre músicas idem

Vários, Funky Nassau – The Compass Point Story 1980-1986
Você nasceu rico, criou a gravadora que lançou o reggae em escala mundial e também lucra com artistas de outros gêneros. Se você se chama Chris Blackwell, o próximo passo é montar um estúdio... nas Bahamas. Foi o que produtor e dono da Island fez em 1977, depois de apresentar Bob Marley ao público branco e de ganhar dinheiro com Traffic, King Crimson e Jethro Tull.
Pela mesa de 24 canais do Compass Point passaram Talking Heads (Songs about Buildings and Food, 1978), Dire Straits (Communique, 1979) e Rolling Stones (Tattoo You, 1981). Nenhum dos citados aparece no disco. O período coletado parte da formação de uma banda da casa, baseada na dupla mais pulsante da Jamaica, o baterista Sly Dunbar e o baixista Robbie Shakespeare – que o filho dos ingleses que colonizaram a ilha conhecia tão bem.

Mas essa não é uma história sobre Blackwell. Nem sobre um disco de reggae.

É o recorte de uma reunião de propósitos iguais e conceitos musicais, origens, cores e credos diferentes. Artistas que, à sua maneira, acreditavam que o pop não pertencia a uma única cultura, encontraram em Nassau os parceiros e condições ideais para expandirem funk, disco music, ritmos afrolatinos. Aqui em casa, muitas noites envoltas na densidade dub de Adventures In Success, de Will Powers, foram dissipadas na manhã seguinte pela levada (sampleada à exaustão) revigorante de Genius Of Love, do Tom Tom Club. Renovado o espírito, a carcaça alonga-se com o remix engendrado pelo mago Larry Levan para Padlock, de Gwen Guthrie. De repente, o Paradise Garage pode ficar em algum ponto do eixo Trindade-Itaguaçu.



Beck, Odelay
No último mês de janeiro, Odelay foi relançado em edição de luxo. Sem nenhuma efeméride na qual se pendurar, o marketing apelou para um CD extra com raridades, sobras de estúdio e lados B de singles. Não precisava. O conteúdo original vale per se, quer pelo impacto que causou, quer pelo valor intrínseco da obra. Gravado em 1996, tornou-se um dos discos definidores da década e elevou seu autor à condição de cara a ser notado dali em diante. (continua)


20080604

Nanotecnologia

Foi-se o tempo em que o herbífumo contumaz era tachado de “cabeção”. Cientistas ocupadíssimos com o desenvolvimento das ervilhas detectaram que ocorre justamente o contrário.

20080601

Empresário faz chover dinheiro na Indonésia

Domingo sim
Domingo não
Deus criou a plantinha
O diabo inventou o plantão.