20090318

Não me fale em reforma

A partir de hoje, a postagem neste VEÍCULO passa a ser adiada segundo o novo acordo ortográfico da língua portuguesa. A previsão é de que, mesmo com a presença de guia e dicionário no desktop, a adaptação à lusografia universal só seja considerada completa quando o processador de texto aceitar ideias sem acento. Na pior das hipóteses, em 2013. Na melhor, meu escritório troca a acusação de pirata pela condição de aberto.

A outra reforma, essa vai longe. Pensei que voltaria para casa no carnaval; já sei que antes da Páscoa ainda estarei literalmente sem chão. Desconfio que o momento em que eu parar de fixar efemérides como marcos para tomar alguma atitude representará um baita adianto na minha vida. Vou começar a fazer promessa – para os outros pagarem.

20090306

Doze músicas de 2008:
1) A LITLLE BETTER, Gnarls Barkley

Photobucket

Esqueça “Crazy”. No segundo filho do casal esquisito, a loucura é outra. Crescendo mais para os lados do que para cima, o disco chega à última música nas condições ideais de temperatura e pressão para transportar o viajante a uma dimensão dolorosamente linda. Danger Mouse conduz o bonde com a parcimônia que a situação requer, apostando na eloqüência do vazio preenchido pela voz absurda de Cee-Lo. Em três partes, a dupla percorre um arco-íris de cores vivas que redunda em um preto ofuscante, que brilha até esmaecer rumo ao Absoluto em agradecimento às forças da natureza, do amor e da imaginação. Eu que agradeço por vocês fazerem me sentir um pouquinho melhor.

(extraída do disco The Odd Couple)

Ainda me livro disso

É com resignação que constato que não li o quanto nem o que planejava em 2008. Queria também ter investido mais em ficção (sobretudo de autores brasileiros), contando com o mergulho em O Tempo e o Vento para tirar o atraso em grande estilo. Mas, na coleção de sete volumes que descolei da monumental obra de Érico Verissimo, faltava o terceiro. Chapei com os dois primeiros e parti para outros. Aí não teve como escapar: é mais fácil adotar a nova ortografia (em breve, em breve) do que negar o jornalismo três vezes. Fui parar em biografias, ensaios, reportagens, memórias e... revi a minissérie em DVD. Que momento.

Não que tenha sido pouco; é que em 2007 foi demais. Abaixo, a lista completa, na ordem cronológica e com os destaques em negrito:

Socialismo para Milionários, Bernard Shaw
Barão Vermelho – Por que a Gente É Assim, Ezequiel Neves, Guto Goffi e Rodrigo Pinto
Afonsinho & Edmundo – A Rebeldia no Futebol Brasileiro, José Paulo Florenzano
Claudinha no Ano da Loucura, Alexandre Evremidis
Imigrantes 1748-1900 – Viagens que Descobriram Santa Catarina, Mariléa M. Caruso & Raimundo C. Caruso
O Planeta Diário
Reino do Medo, Hunter Thompson
O Castelo na Floresta, Norman Mailer
O Tempo e o Vento – O Continente vol. 1, Erico Verissimo
O Tempo e o Vento – O Continente vol. 2, Erico Verissimo
Sangue Ruim, Joe Coleman
Pot Culture – The A-Z Guide to Stoner Language & Life, Shirley Halperin & Steve Bloom
Gravando!, Phil Ramone
Stasilândia, Anne Funder
A Vida Secreta dos Grandes Autores, Robert Schnakenberg
Tim Maia – O Som e a Fúria, Nelson Motta
A Lógica do Cisne Negro, Nassim Nicholas Taleb
A Guerra do Futebol, Ryszard Kapuscinski
Música, Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download, André Midani
Eva Peron – A Madona dos Descamisados, Alicia Dujovne Ortiz
A Revista do Lalau, Stanislaw Ponte Preta/Sergio Porto
Escanteio, Paulo Fernando Lago
Cem Anos de Paixão – Uma Mitologia Carioca no Futebol, Cláudia Mattos
Cem Quilos de Ouro [e Outras Histórias de um Repórter], Fernando Morais
Os Quatro Cantos do Sul – Operação Barriga Verde, Celso Martins
Bola na Rede: A Batalha do Bi, Stanislaw Ponte Preta

20090305

Doze truques de 2008:
1) LEFT BEHIND, João Brasil Tropical Mix

Photobucket

Depois de causar com “Baranga” e “Pau Molão”, João Brasil apontou sua infâmia para o CSS. A ironia, no caso, não está na lambada revestindo com autoridade a faixa que apresentou o segundo disco da banda. E sim que Lovefoxxx teve de se mudar para Londres para descobrir que, hype por hype, o do Kaoma na Europa já dura desde 1989. Ainda dá tempo de ela aprender a dança proibida. Qualquer dificuldade, Adriano Cintra ensina como Beto Barbosa adocica.

20090303

Doze truques de 2008:
2) JUSTICE FOR BILLIE JEAN, DJ Schmolli

Photobucket

Ninguém suporta mais “D.A.N.C.E.”, do Justice; muito menos “Billie Jean”. Manjadas demais, estavam apenas esperando uma alma abnegada revelar que nasceram uma para outra para ganharem sobrevida na pista. Sem temer o ridículo, o alemão assumiu o papel com denodo – a ponto de, não satisfeito em botar Uffie soletrando com Jacko, ainda sacar da algibeira o “everybody dance now” do C+C Music Factory para estimular a soltura de frangas.

Doze músicas de 2008:
2) JUST AIN’T GONNA WORK OUT, Mayer Hawthorne & The County

Photobucket

Ele tem 29 anos, é branco e nunca integrou coral de igreja. Seu único single foi o suficiente para consagrá-lo como o dono do falsete liberal que mais dilacerou corações em 2008 e fermentar expectativas quanto ao disco que vem por aí. Lançado por um selo de hip-hop, Hawthorne é exceção em uma época de rótulos compostos por cantar soul – “new” coisa nenhuma – como os rouxinóis negros de sua infância em Detroit. Puro, simples e matador.

(extraída do single Just ain’t Gonna Work out)

20090301

Doze músicas de 2008:
3) COMPACTO, Curumim

Photobucket

Em um ano no qual o mainstream do B da música nacional (do A pouco se espera) viu Mallu Magalhães comandar, ninguém foi mais brasileiro – na acepção internacional do termo – do que Curumim. Na defesa de um suingue universal com DNA japaulistanegro, o baterista proporciona um fino e raro prazer em seu segundo disco. Fino por carregar a música no macio, no gostoso. Raro porque nem Jorge Ben tem provocado mais esse arrebatamento.

(extraída do disco Japan Pop Show)

Doze truques de 2008:
3) CROSS THE DANCEFLOOR, Chromeo remix

Photobucket

Vale ouvir o original, só para sacar o que o Chromeo aprontou na faixa do americano Treasure Fingers. A dupla não se intimidou com o balanço da matéria-prima e a recriou à sua imagem e semelhança. Estrofes foram acrescentadas, efeitos entraram sem pedir licença, o som engordou. E o que já era dançante explode usando armas oitentistas de eficiência comprovada, encorpadas com recursos das noites atuais.

Doze truques de 2008:
4) DON'T YOU EVER GIVE UP..., MadMixMustang

Photobucket

Do rickrolling, a coisa evoluiu para a sua eleição como “the best act EVER”, culminando em um disco tributo. Dos 13 mashups envolvendo seu hit supremo “Never Gonna Give You Up”, é a mistura com “Don’t You Want me Baby”, do Human League, que melhor simboliza o culto a Rick Astley (aquele): inexplicável e aderente ao extremo, com MadMixMustang mais uma vez exibindo sua destreza em potencializar o pop.