20100531

Menos 231 dias


O lançamento em CD da trilha de Shorty The Pimp em 1998 veio acompanhado de uma série de factoides. O filme foi cancelado antes de concluído; o único copião disponível acabou nas mãos de Quentin Tarantino; a maioria das músicas saiu em compactos em 1973. De certo, mesmo, é que seria classificado como blaxploitation (protagonistas negros + baixo orçamento + temática policial) e que, se tivesse a pegada da faixa-título, poderia concorrer a algum Oscar do gueto – nas categorias “Melhor Traquejo na Quebrada”, “Malandragem Mais Glamurosa” e menção honrosa em “Paraíso dos Gângsteres”.

DON JULIAN & THE LARKS, Shorty The Pimp

20100527

Menos 227 dias

(resenha publicada na revista Bizz #191, junho de 2001)

Difícil dizer como Shuggie Otis seria classificado hoje. Talvez sua música nem tivesse lugar no mercado atual, ou seria colocada entre Prince e D’Angelo. Em 1974, o problema foi o mesmo. Depois de três anos de lapidação, o segundo disco do californiano ganhou as lojas sem saber em que prateleira deveria ficar. As comparações, pelo menos, eram melhores: Marvin Gaye, Curtis Mayfield, Sly Stone. A reedição em CD (acrescida de três canções da estréia, Freedom Flight, de 1971) mostra a razão de tamanho alvoroço em torno do rapaz. O rótulo que Inspiration Information costuma receber – soul psicodélico – só simplifica a fluidez com que Shuggie vai do soul ao R&B, do funk a um certo ar “alternativo”.

Logo na abertura, com a faixa-título, o artista californiano desfila um balanço suave, com a lisergia na dose “boa viagem”. O estado continua sossegado com um suingue leve aqui (“Sparkle City”), um ritmo programado para dançar juntinho ali (“Aht Uh Mi Hed”). Para descolar o corpo, as levadas sofisticadas de “Not Available” e “Strawberry Letter #23” (esta, de seu primeiro disco), que fez sucesso em 1977 pelas mãos dos Brothers Johnson. Mas Shuggie usa outros meios para proporcionar o mesmo relaxamento, como em “Pling!”, “XL-30” e “Rainy Day”, feitas de paisagens sonoras tão eletrônicas quanto bucólicas – daí se entende por que Tortoise e Stereolab o apontam como influência.

Diante da fartura de inspiração, os Rolling Stones não perderam tempo e convidaram Shuggie para substituir Mick Taylor. Como bom torto, ele recusou. Assim como disse não às ofertas para integrar o Blood, Sweat & Tears e o Emerson, Lake & Palmer. Pouco depois, devido ao fraco desempenho do disco, foi dispensado da gravadora e se retirou da cena (rumores apontam para complicações com drogas) para sempre. Agora vem o detalhe: quando finalizou Inspiration Information, no qual cantou e tocou guitarra, piano, órgão, baixo e bateria, Shuggie tinha apenas 22 anos. Atualmente aos 48 e excitado com a repercussão bombástica (ainda que tardia) de seu trabalho, pensa em reunir uma banda e voltar a fazer shows. Vai fundo, tio.

SHUGGIE OTIS, Inspiration Information

20100510

Menos 210 dias


A pedidos, Mayer Hawthorne retorna com mais uma aplicação efetiva & afetiva de seu falsete liberal. É um cover de James Pants, outro branquelo com melanina excedente na alma. Saiu em um single no qual seu colega de gravadora, em retribuição, canta “Green Eyed Love”. Fiel ao estilo que o consagrou (pelo menos neste VEÍCULO), Hawthorne troca os timbres espaciais do original por um pianinho martelado na medida para não rivalizar com seus vocais, deixando tudo mais acolhedor.

MAYER HAWTHORNE, Thin Moon