20111130

Doze truques de 2010:
2) CHAOS, New Young Pony Club (Rory Phillips Mix)



Esta já folclórica retrospectiva vai acabar e continua não havendo explicação lógica para o descaso com que o segundo disco do New Young Pony Club foi tratado pelos mesmos hipsters que lamberam sua estreia como um sorvete de sonhos imorais. A banda inglesa tem um nome MANEIRO, três de seus integrantes são mulheres (incluindo uma na bateria, o que sempre é legal) e o som, se não é de todo original, a faz facilmente reconhecível entre seus pares. Rory Phillips entendeu o apelo e respondeu com um pouquinho mais de caos.

20111025

Quando pagar o mico é o preço justo

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Afrika Bambaataa desembarcou em Florianópolis para se apresentar no acanhado palco do John Bull a R$ 20 por cabeça e sobrou lugar. Snoop Dogg fará show na megaestrutura do Stage Music Park e o primeiro lote de ingressos, de R$ 90 (pista) a R$ R$ 180 (camarote), esgotou com mais de um mês de antecedência. O abismo entre o “pai do hip hop” e uma de suas crias mais bem-sucedidas ficou claro para os pouco mais de 50 abnegados que resistiram até as 4h da madrugada de uma quinta-feira pós-feriado para assisti-lo. Envolve fama, exposição, sucesso, quantidade de hits, cotação no mercado, apelo, lenda pessoal. E, sobretudo, entretenimento.

Remanescente de uma era em que bastavam um DJ e um MC para animar manos e minas, Bambaataa foi fiel às suas raízes. Nenhum de nós estava em Nova York quando, ali pela metade da década de 1970, ele começou a usar toca-discos como instrumento para acompanhar rimas improvisadas com ritmo & poesia (rap, para os chegados). Mas devia ser algo similar ao mostrado naquela noite chuvosa, com o acréscimo de um notebook e de um guitarrista. Só que, por mais verdadeiro que parecesse, não funcionou. Não em uma época na qual os grandes nomes do gênero dispõem de produção esmerada e backing vocalistas calipígias para agradar a playboys e biatches. Nem depois de esperar a noite inteira.

Aqui é imperioso abrir um parêntese para se fazer justiça às bandas de abertura. Os Skrotes desafiaram a linearidade com sua concepção peculiar de música, que abrange de jazz a metal, de samba a rock. O trio é, disparado, a coisa mais original do cenário musical ilhéu, a ponto de o estranhamento da plateia ser normal. O groove da Sociedade Soul, como sempre, desceu redondo, alavancado pela performance invertebrada do frontman Gustavo Barreto. Não satisfeito em desfazer o carão dos b-boys do gargarejo, o vocalista e guitarrista ainda pulou para a pista e encarnou James Brown na dança.

Todo o arrebatamento e comoção provocados pelas duas bandas evaporaram com a aparição de MC Duarte. Não que o rapaz não tenha caprichado, revezando sua ladainha com o R&B de uma cantora vestida para matar. É que, a essa altura, a expectativa atingia seu nível máximo. Principalmente porque, assim que terminou a Sociedade Soul, Bambaataa chegou ao recinto. Enquanto o rotundo black vencia a escadinha à esquerda do palco que dava acesso ao camarim quase sem ser notado, o DJ Naomi mandou a clássica “The Message”, de Grandmaster Flash: “Don’t push me, cause I’m close to the edge/ I’m trying not to lose my head”. Já havia demorado demais para começar a atração dita histórica.

***

Durante sua estada em Florianópolis, Afrika Bambaataa teve tempo para permanecer seis horas ao vivo em uma rádio e tocar cowbell (!) em uma jam com rappers locais. Além da agenda, do valor do ingresso, da casa em que se apresentou e do tipo de espetáculo que proporcionaria, o lugar onde se hospedou era mais um indício da distância atual que o separa de Snoop Dogg. O parceiro de Katy Perry em “California Gurls” deve desabar em uma suíte luxuosa no Norte da ilha; o fundador da Zulu Nation dormiu em um duas estrelas no centrinho da Lagoa da Conceição. Na véspera de seu show na cidade, ele conversou com a Naipe no bar do hotel.

Nascido há 55 anos no Bronx, Bambaataa pediu para que seu nome de batismo não seja mencionado. “Aquele é outro cara, que não existe mais”, disse, referindo-se a Kevin Donovan (como atendia antes de adotar a alcunha que o celebrizou, tirado do filme Zulu). O conflito entre ingleses e nativos na África do Sul retratado na película o marcou tanto que, mais do que uma alcunha, rendeu uma causa para o então líder da gangue Black Spades: lutar pelo povo preto. É esse o discurso que permeia qualquer declaração sua, sempre pontuada por “respeito”, “união” e “consciência”.

De boné, óculos escuros, camiseta preta com a inscrição “Thugs of War”, moletom azul-marinho e um par de Crocs em tom mais fraco sobre meias pretas, Bam – como gosta de ser tratado – contou que seria advogado se não tivesse enveredado pelo hip hop. “Para defender os mais fracos”, garantiu. De certa forma, é isso que ele vem fazendo, ao espalhar a “mensagem” via música ou palestras. Por isso, lamenta a maneira com que a arte que ajudou a forjar é tratada pela mídia. “Dependendo do rapper que está em evidência, aparece apenas o lado negativo, não o cultural”, queixou-se.

O discurso continua ao falar do que o motiva a prosseguir na ativa, mesmo sabendo da dificuldade de um ideal em competir com dólares. “Sou humildemente guiado pelo Poder Supremo, pela beleza do planeta, pelas pessoas que se juntaram para tornar o hip hop essa força que é hoje”, pregou, qual um messias retinto. E fim de papo, que a van que o levaria até o Morro da Cruz para gravar chamadas para o show já estava estacionada na frente do hotel. Apesar da fé professada, Bam precisaria de muito mais do que as três palavras que elegeu como mantra particular para salvar sua reputação da danação eterna.

***

À exceção dos óculos escuros, Bambaataa subiu ao palco do John Bull com o mesmo figurino que vestia no dia anterior, incrementado por uma bandeira do Brasil pendurada no pescoço e tênis preto em vez dos Crocs. Acomodou sua barriga atrás das pick-ups, apertou o teclado do MacBook e disparou sequências pré-arranjadas. À sua frente, o americano King Kamonzi encarregava-se da empatia com o público bradando clichês como “put your hands up”, “jump”, “make some noise” e “let’s say hey” em dueto com outro MC. Não foi um início dos mais promissores, mas talvez engrenasse no decorrer da noite.

A esperança transformou-se em constrangimento com o repertório avançando em variações do mesmo tema. Bambaataa, impassível, mantinha seu olhar vago, interrompido por scratches primários e uma conferida no monitor. “Ele está atualizando seu Facebook”, debochou o maroto fotógrafo da Naipe. Saiu o MC anônimo e entrou o dominicano Shaka Genaro para mais uma sessão de empulhação. E a vergonha virou certeza de que o negócio não ia passar disso quando, finalmente, a introdução inconfundível de “Planet Rock” bombou nos alto-falantes. Que deprê.

O hino surgido em 1982 da fusão de “Trans Europe Express” (dos alemães do Kraftwerk) com a bateria eletrônica da Roland TR-808, que originou o electro e serviu de base para o Miami bass e, posteriormente, para o funk carioca, foi assassinado sem dó nem piedade pelo seu próprio criador. Desprezando o potencial de seu maior hit, ele trocou os versos da Soul Sonic Force (“Everybody say, rock it, don't stop it/ Say Planet Rock”) por samples de “tá dominado, tá tudo dominado”. Sem chance, Bam. Que Snoop Dogg, em novembro, restabeleça a diversão que o senhor inventou – e fez questão de estragar com um show em que todos pagaram, literalmente, um mico-leão dourado. (foto: Thiago Momm)

20110907

Realidade objetiva

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20110811

Doze músicas de 2010:
2) THE ONLY ONE, The Black Keys



Entre as muitas joias de um álbum brilhante, ela resplandece com seu órgão vintage arrepiando até o mais insensível dos ogros. O vocal derramado em falsete alimenta a impressão: o cotovelo tem de estar em petição de miséria para motivar uma declaração tão rasgada a um amor não correspondido. No blues rock primevo da dupla americana, a fossa ensina, purifica e inspira. E então a infinita tristeza já não machuca tanto porque é só uma fase, um rito de passagem a ser vencido para se entregar novamente.


(extraída do disco Brothers)

20110805

Doze músicas de 2010:
3) I LOOK TO YOU, Miami Horror



Quando degustei o disco novo dos australianos do Miami Horror, tive uma certeza e uma dúvida. Alguns daqueles arquivos fariam morada no tocador de mp3. Mas qual permaneceria por mais tempo no menu das favoritas, esta ou “I Look to You”? A definição veio em uma sexta-feira fadada ao zero-a-zero. Assim que a voz da neozelandesa Kimbra irrompeu pelo vazio da noite, a CINTILAÇÃO encarregou-se de renovar a fé na viabilidade da música feita para ouvir na pista, não para dançar. O clipe confirma a proposta.


(extraída do disco Illumination)

20110718

Doze truques de 2010:
3) I THINK I LIKE U 2, Jamaica (Breakbot Remix)



Um milita no Justice. Outro fez engenharia de som para o Daft Punk. No Jamaica (melhor nome), são menos eletrônicos e mais descarados. Ao que parece, tudo o que a dupla francesa almeja é pop derivativo. O toque do conterrâneo Breakbot facilita: o produtor trabalha com a mesma matéria-prima, um extrato oitentista atualizado somente o necessário para se equilibrar entre a esperteza contemporânea e o pastiche datado. Pode até ter ficado com um jeitão meio, sei lá, Rádio Táxi. Eu acho que gostei. Você também deveria.

20110708

Eu, abusado

Há meses este VEÍCULO vem travando uma luta quixotesca contra os moinhos de vento da indústria fonográfica. Primeiro, foi a cançoneta que liderava a lista das mais baixadas dentre as disponíveis sob a categoria “retrô 2010”. Em seguida, a cover de Neil Young, talvez descontente por não figurar na lista de truques, como deveria. Que essa gente tenha resolvido exercer seu direito à propriedade é razoável e, até, previsível. O irônico é receber um aviso de ABUSO – “Esta é a última notificação a respeito de sua atividade ilegal. As próximas violações vão levar ao bloqueio permanente de sua conta.” – justamente por causa de um rato que fez fama & fortuna surrupiando a obra dos outros.

Era só o que faltava.

PS: Já vetaram mais duas músicas depois da ameaça e minha conta continua ativa. Apesar do blefe, estou mudando de serviço.

20110531

Doze truques de 2010:
4) YOU WANTED AN ANTHEM, João Brasil



Você queria um hit. James Murphy também. Um que tivesse refrão fácil e parecesse meio errado, que fosse simples e durasse mais de nove minutos, que grudasse na memória sem manchar sua reputação; um anti-hit. João Brasil não é tão exigente nem precisa prestar tantas contas à pose. Apropriou-se de um terço do filé desprezado pelo dono do LCD Soundsystem, adicionou os vocais do C+C Music Factory (“Robi-Rob’s Boriqua Anthem”) e dividiu a farofa com o universo. Cada um ao seu modo, todo mundo é mocinho aqui.

20110525

Doze músicas de 2010:
4) PLASTIC BEACH, Gorillaz



Que me desculpem os símios, mas é um fardo voltar a 2010 – incluindo esta retrospectiva – depois de passar as últimas semanas envolto em uma realidade que só comporta presente e futuro. Ainda que 99% do meu potencial sejam gastos com aspectos comezinhos da vida, é o 1% de ilusão autoral que me impele a olhar para frente. Damon Albarn inverteu a equação trocando carne, osso & recalques por uma animação impermeável à banalidade. Como não posso fazer o mesmo, finjo que sou percebido como, er, escritor.


(extraída do disco Plastic Beach)

20110405

Que bonito é

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20110325

Palavras que só a literatura sabe que existem

“Por que dar tanta responsabilidade a um alcoólatra consuetudinário? Porque, além de leguleio, ele conhecia economia. Saiu-se bem à frente do Banco Central e, por alguns meses, do setor de Finanças.”
(A Festa do Bode, de Mario Vargas Llosa)

leguleio
le.gu.lei.o
sm 1 Aquele que observa servilmente a letra da lei. 2 Chicaneiro, rábula.

Ah, é ADEVOGADO! Eu ia completar com “no sentido pejorativo”, mas acho que daí vira pleonasmo.

20110324

Doze músicas de 2010:
5) THE FALL, Teenage Fanclub



Era primavera no hemisfério Norte, outono no Sul. Cronologicamente, o nono disco do Teenage Fanclub representou sua volta após cinco anos. Espiritualmente, porém, a banda escocesa – ou as sensações por ela despertadas – sempre esteve circulando, ainda que em animação suspensa. No calendário do quarteto, o tempo é mera convenção, seja para pautar seus lançamentos, seja para concatenar acordes e vocais que consolam, felicitam e revelam: entre a dor perene e a delícia transitória, há uma zona de conforto.


(extraída do disco Shadows)

20110321

Doze truques de 2010:
5) CALL ON ME, Andy Bell (Hey Champ Remix)



Sim, é o Andy Bell do Erasure, que eu nem desconfiava que ainda andava dando seus pulinhos. E, se desconfiasse, também ignoraria. Mas o single que introduz seu segundo disco solo caiu na mão do Hey Champ, tornando impossível não acusar sua existência. Como de praxe, o trio de Chicago injetou manhas & malícias que o autor – um senhor prestes a completar 47 anos, 25 deles dedicados ao tecnopop gay e à bandeira idem – jamais alcançaria. Aí, cercou-se de sobrinhos capazes de levantar a poeira do armário.

20110317

Doze truques de 2010:
6) WAITING IN HEAVEN, Mighty Mike



Ela é da grife dos Bobs, lá do note de um francês sacana. De tarde, na praia, o que ela causa é de tragar e de passar de novo. É Marley, jamaicano, maconheiro, devotado. É Smith, anglicano, curandeiro, apaixonado. E assim poderia prosseguir até amarelar o dedo, com o reggae de “Waiting in Vain” derretendo as estrofes de “Just Like Heaven” espichadas pelas intervenções vocais do neto de Omeriah. Pergunte para Jean Mafra, que fechou os olhinhos e começou a cantar, doido para mostrar o quanto é saliente.

20110316

Doze músicas de 2010:
6) THE GHOST INSIDE, Broken Bells




Desde que saiu do anonimato em 2004, ao colidir Jay-Z com Beatles no Gray Album, todo ano o produtor-autor Danger Mouse aparece envolvido em algum bagulho bom. Em 2010, foi o Broken Bells. Em dupla com o vocalista e guitarrista James Mercer (The Shins), o nova-iorquino dispõe seu manancial de referências para forjar uma atmosfera TERNA, em que os cacoetes do parceiro podem deitar e rolar sem risco de reduzirem tudo ao estilo indie. O falsete, no caso, é a afetação que faltava para elevar a experiência.


(extraída do disco Broken Bells)

20110224

Menos 500 dias

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Foram cinco computadores, sete casas, quatro cidades. Agora falta pouco.

Muito pouco.

20110221

Doze músicas de 2010:
7) DRAGON PROW, Free Moral Agents



Acompanho as incursões paralelas dos integrantes do Mars Volta com a fidelidade do cão que late meus defeitos no horóscopo chinês. A concepção deles de música me atrai – apesar de, na maioria das vezes, esses projetos acabarem descendo tão ou mais estranhos do que a banda matriz. No Free Moral Agents, o tecladista Isaiah Owens também dá suas viajadas. A partir do litoral californiano, pega a estrada para o Sul em um dia claro. A luz que o guia é a mesma que provoca desvios e solavancos no caminho.


(extraída do disco Control This)

20110218

Doze truques de 2010:
7) NIGHTCALL, Kavinsky feat. Lovefoxx (Breakbot Remix)



O francês Breakbot integra o seleto grupo de manipuladores que imprime sua marca em qualquer música. Ligeira, lenta, pesada, suave, eletrônica, acústica, enfim; a todas ele calibra a velocidade no modo mellow e injeta elementos que evocam os anos 1980 de uma forma idealizada, muito mais elegante do que a década realmente foi. Como nesse remix para o conterrâneo Kavinsky, no qual o astral sombrio do original é iluminado com guitarrinhas e metais para Lovefoxxx nunca se cansar de ser sexy.

20110216

Doze truques de 2010:
8) CALIFORNIATIKTOKGURLS, Mash2Mix



Até os malditos ácaros do almoxarifado da Jovem Pan sabem que “California Gurls” e “Tik Tok” são a mesma música. Ambas foram produzidas por Benny Blanco, também responsável por “Circus”, de Britney Spears. Como tanto Kate Perry (“I Kissed I A Girl”, 2008) quanto Kesha (“Blah Blah Blah”, 2009) já eram suas clientes, o malandro repetiu na morena o serviço prestado na loura e ganhou em dobro. Menos PEJO ainda teve o holandês Mash2Mix, que embaralhou as duas e instaurou a metapicaretagem.

20110214

Doze músicas de 2010:
8) AM/FM, !!!



No começo do século, o !!! (pronuncia-se “chk chk chk”) foi saudado como um dos expoentes da safra nova-iorquina que iria impregnar as pistas com seu electro-funk indie. O não-cumprimento da promessa reduziu a banda à sua verdadeira dimensão. Passada uma década, dela não se pretende nada além de brilharecos ocasionais, como nesse single em que a funcionalidade vem antes do conceito. Primeiro, o escapismo. Depois (e se possível), alguma revolução. Tudo é uma questão de reajustar as expectativas.


(extraída do disco Strange Weather, Isn’t It?)

Anotações de leitura

“Tem gente que nasce rebelde. Lendo a história de Zelda Fitzgerald no livro de Nancy Milford, identifiquei-me com seu espírito insubordinado. Lembro de passar com minha mãe olhando vitrines e perguntar por que as pessoas não chutavam e quebravam aquilo. Ela disse que existiam regras implícitas de comportamento social, e que era assim que as pessoas conviviam. Lembro que na hora me senti confinada diante da ideia de que nascemos em um mundo onde tudo já foi mapeado pelos outros antes. Lutei para reprimir impulsos destrutivos e, em vez disso, trabalhei impulsos criativos. Ainda assim, a pequena inimiga das regras dentro de mim não morreu.”

(Só Garotos, de Patti Smith)

20110211

Início do ano letivo

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Hoje, a partir das 23h30, aqui. Traga seu carisma.

Doze músicas de 2010:
9) THE SUBURBS, Arcade Fire



Seria incorreto teclar que Arcade Fire é uma naba – não conheço a banda. Não me interessou quando surgiu nem por quem era recomendada. Fui escutar o combo canadense em uma compilação da revista Les Inrockuptibles contendo a cançoneta que vende e batiza seu elogiadaço último disco. É de uma perfeição tão, er, conservadora que encerra uma lição: por mais esquisita e multifacetada que esteja a cena, sempre haverá espaço para a caretice pop que em um abençoado dia nos fez gostar de música.


(extraída do disco The Suburbs)

20110208

Doze truques de 2010:
9) ACAPELLA, Kelis (Ming Remix feat. Chiddy Bang)



De uma artista BALOUÇANTE como Kelis, espera-se que o remix vá para outra direção e lhe confira crédito ante a crítica. O DJ e produtor Aaron Albano (o popular Ming) inverte a lógica. A gravação oficial é que soa cabeçuda perto do tratamento aplicado por ele, prenunciado pelos tradicionais cowbells indicativos de festinha. Então os rappers bacanas do Chiddy Bang chegam para dobrar a resistência – da opinião dita especializada, porque a cintura, essa já se rendeu e saracoteia sem vergonha pelo salão.

20110204

Doze truques de 2010:
10) HYPNOTIZE U, N*E*R*D (Boss in Drama Remix)



O que eu mais curto na corrente geração que não faz música longe do computador é essa irreverência impelida pela autoconfiança. Gente como o curitibano PÉRICLES, que se aventura sobre o trabalho alheio sem permissão e simplesmente ignora a fama que precede seus autores. Pouco importa se é o single de um trio badalado, produzido pelo respeitado Daft Punk: ele acelera a batida e muda o arranjo, ressaltando o potencial manhoso do falsete de Pharrell. Compare, feche os olhos e se deixe hipnotizar.

20110129

A Justiça é surda

Bem que uma leitora havia alertado, em comentário enviado no último dia 21: “O Globo, o jornalista e Larry Mullen foram condenados. Bono escapou”. A sentença saiu no dia 18 e determina que o jornal, seu então repórter e o baterista do U2 paguem, “solidariamente”, R$ 800 mil ao empresário Franco Bruni. Agora, está em tudo quanto é lugar. Foi um desfecho célere (para os padrões do Judiciário) para um processo marcado, desde o início, pelo surrealismo da ação, do local e das cifras envolvidas.

As gazetas e portais não fizeram as contas, mas os protagonistas ficaram no lucro. Bruni, que já não acreditava na Justiça e dava como perdido o investimento na vinda da banda ao Brasil, em 1998, vai ser indenizado. A banda, cujos representantes legais estimaram que a querela poderia custar R$ 40 milhões aos seus cofres, gastará somente 2% disso – e ainda manteve a ficha limpa de seu vocalista.

O juiz estipulou também os honorários dos ADEVOGADOS e das custas processuais. O empresário deverá arcar com R$ 35 mil para o defensor de Paul Hewson (como Bono é referido nos autos) e mais 2/3 dos R$ 35 mil fixados para cada um dos causídicos dos réus parcialmente vencidos. Estes, por seu turno, terão de pagar 1/3 dos 15% do valor da condenação aos representantes legais de Bruni.

“Publique-se. Registre-se. Intimem-se”, finaliza o despacho. Esqueça-se.

20110127

Doze músicas de 2010:
10) ROUND AND ROUND, Ariel Pink's Haunted Graffiti



Em outras épocas, esse tipo de som manso, com vocal PLÁCIDO e sutilezas eletrônicas, seria indexado em algum ponto entre o pop “adulto-contemporâneo” e “gay-fino”. Como vivemos em tempos mais anel-liberais, o rótulo inventado para classificá-lo é um primor de frescura: chillwave. Considerando que o angeleno Ariel Pink era chamado de freak folk antes de reunir o grafite assombrado, há que se reconhecer que o upgrade foi benéfico. Principalmente para quem ouve.


(extraída do disco Before Today)

20110121

Doze músicas de 2010:
11) ONLY LOVE CAN BREAK..., I Blame Coco



É a persona artística de Coco Sumner, filha de Sting. Nascida em 1990 na italiana Pisa, Eliot Pauline Sumner herdou do pai, Gordon, mais do que a vocação para a música por trás de um apelido. Sua voz carrega o DNA dele – com um par de cromossomos XX de vantagem. Como o Police, ela forjou sua identidade com uma leitura muito particular dos ritmos jamaicanos e foi se abrindo até o pop tomar conta (inclusive desta cover de, ora veja, Neil Young). Tomara que a mocinha não viaje na escolha dos parceiros e perca a graça.


(extraída do disco The Constant)

20110120

Novo Jovem Eterno

Às voltas com um dos meus carmas profissionais, nem acusei que este VEÍCULO completou três anos no último dia 15. Ficam o registro de data tão significativa para a internet e a promessa de prosseguir oferecendo nada que não seja sonho.

***

Também não disseminei como devia a publicação de uma resenha sobre o primeiro show da turnê de Amy Winehouse por estas plagas no Bate-Estaca, mantido pelo chapa Camilo Rocha.

Eu sou mesmo de uma humildade impressionante.

***

Eu vi as melhores cabeças da minha geração possuídas pela loucura, fanáticos histéricos com camisetas de bandas, errando na madrugada por Jacarepaguá atrás de uma ponta caída onde antes havia grama, goiabas de cabeça feita, elementais urbanos debatendo-se em comunhão orgânica e ideológica com aquele senhor em cima do palco, que esperança e sangue e guitarras potentes e sentimentais despejou sobre o menor público do festival enquanto o futuro só não era mais brilhante do que o rock executado na noite de 20 de janeiro de 2001.

Há dez anos, Neil Young tocava no Rock In Rio.

20110118

Doze truques de 2010:
11) REGGAE SO, REGGAE NO, Mayer Hawthorne



No dia 19 de julho, Mayer Hawthorne chegou a 16 mil seguidores no Twitter. Para comemorar (?!), liberou essa versão reggae de “Maybe So, Maybe No”. O prêmio é proporcional à marca alcançada. É divertido, grátis e não tem maiores consequências. No máximo, vai dar vontade de revisitar seu belo disco de estreia (A Strange Arrangement, de 2009). Isso já credenciaria o remix como uma das boutades musicais do ano, não fosse ele um cara que só quer agradar – o que torna o gesto ainda mais simpático.

20110113

Doze truques de 2010:
12) BURN DA FUNK, Fissunix



Só mesmo uma mente muito doentia (e/ou audaz) para cogitar que a combinação entre Daft Punk e Deep Purple daria liga. Desafiando o senso comum, o francês Fissunix apostou na ideia e botou o groove sintético de seus conterrâneos para assar os vocais de David Coverdale. Acrescida de pontuais forçadas de barra eletrônicas para encadear estilos e épocas tão diferentes, não é que a música ainda queima? Puristas de ambos os lados, por exemplo, imolam-se em chamas.

20110107

Doze músicas de 2010:
12) LIFE SO HARD, Aloe Blacc



Financiado pelo aproveitamento comercial de “I Need A Dollar”, o californiano com raízes panamenhas mudou-se da meia-água do indie rap para o confortável bangalô do soul e do R&B que lhe tiraram do anonimato. Se os rendimentos de seu (até agora) único sucesso não forem suficientes para pagar o condomínio, ele poderá lembrar que há sofrimentos maiores e desabafar contra a fome e a guerra. A vida é dura, mas fica mais suportável com uma baladona dessas.


(extraída do disco Good Things)