20110129

A Justiça é surda

Bem que uma leitora havia alertado, em comentário enviado no último dia 21: “O Globo, o jornalista e Larry Mullen foram condenados. Bono escapou”. A sentença saiu no dia 18 e determina que o jornal, seu então repórter e o baterista do U2 paguem, “solidariamente”, R$ 800 mil ao empresário Franco Bruni. Agora, está em tudo quanto é lugar. Foi um desfecho célere (para os padrões do Judiciário) para um processo marcado, desde o início, pelo surrealismo da ação, do local e das cifras envolvidas.

As gazetas e portais não fizeram as contas, mas os protagonistas ficaram no lucro. Bruni, que já não acreditava na Justiça e dava como perdido o investimento na vinda da banda ao Brasil, em 1998, vai ser indenizado. A banda, cujos representantes legais estimaram que a querela poderia custar R$ 40 milhões aos seus cofres, gastará somente 2% disso – e ainda manteve a ficha limpa de seu vocalista.

O juiz estipulou também os honorários dos ADEVOGADOS e das custas processuais. O empresário deverá arcar com R$ 35 mil para o defensor de Paul Hewson (como Bono é referido nos autos) e mais 2/3 dos R$ 35 mil fixados para cada um dos causídicos dos réus parcialmente vencidos. Estes, por seu turno, terão de pagar 1/3 dos 15% do valor da condenação aos representantes legais de Bruni.

“Publique-se. Registre-se. Intimem-se”, finaliza o despacho. Esqueça-se.

20110127

Doze músicas de 2010:
10) ROUND AND ROUND, Ariel Pink's Haunted Graffiti



Em outras épocas, esse tipo de som manso, com vocal PLÁCIDO e sutilezas eletrônicas, seria indexado em algum ponto entre o pop “adulto-contemporâneo” e “gay-fino”. Como vivemos em tempos mais anel-liberais, o rótulo inventado para classificá-lo é um primor de frescura: chillwave. Considerando que o angeleno Ariel Pink era chamado de freak folk antes de reunir o grafite assombrado, há que se reconhecer que o upgrade foi benéfico. Principalmente para quem ouve.


(extraída do disco Before Today)

20110121

Doze músicas de 2010:
11) ONLY LOVE CAN BREAK..., I Blame Coco



É a persona artística de Coco Sumner, filha de Sting. Nascida em 1990 na italiana Pisa, Eliot Pauline Sumner herdou do pai, Gordon, mais do que a vocação para a música por trás de um apelido. Sua voz carrega o DNA dele – com um par de cromossomos XX de vantagem. Como o Police, ela forjou sua identidade com uma leitura muito particular dos ritmos jamaicanos e foi se abrindo até o pop tomar conta (inclusive desta cover de, ora veja, Neil Young). Tomara que a mocinha não viaje na escolha dos parceiros e perca a graça.


(extraída do disco The Constant)

20110120

Novo Jovem Eterno

Às voltas com um dos meus carmas profissionais, nem acusei que este VEÍCULO completou três anos no último dia 15. Ficam o registro de data tão significativa para a internet e a promessa de prosseguir oferecendo nada que não seja sonho.

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Também não disseminei como devia a publicação de uma resenha sobre o primeiro show da turnê de Amy Winehouse por estas plagas no Bate-Estaca, mantido pelo chapa Camilo Rocha.

Eu sou mesmo de uma humildade impressionante.

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Eu vi as melhores cabeças da minha geração possuídas pela loucura, fanáticos histéricos com camisetas de bandas, errando na madrugada por Jacarepaguá atrás de uma ponta caída onde antes havia grama, goiabas de cabeça feita, elementais urbanos debatendo-se em comunhão orgânica e ideológica com aquele senhor em cima do palco, que esperança e sangue e guitarras potentes e sentimentais despejou sobre o menor público do festival enquanto o futuro só não era mais brilhante do que o rock executado na noite de 20 de janeiro de 2001.

Há dez anos, Neil Young tocava no Rock In Rio.

20110118

Doze truques de 2010:
11) REGGAE SO, REGGAE NO, Mayer Hawthorne



No dia 19 de julho, Mayer Hawthorne chegou a 16 mil seguidores no Twitter. Para comemorar (?!), liberou essa versão reggae de “Maybe So, Maybe No”. O prêmio é proporcional à marca alcançada. É divertido, grátis e não tem maiores consequências. No máximo, vai dar vontade de revisitar seu belo disco de estreia (A Strange Arrangement, de 2009). Isso já credenciaria o remix como uma das boutades musicais do ano, não fosse ele um cara que só quer agradar – o que torna o gesto ainda mais simpático.

20110113

Doze truques de 2010:
12) BURN DA FUNK, Fissunix



Só mesmo uma mente muito doentia (e/ou audaz) para cogitar que a combinação entre Daft Punk e Deep Purple daria liga. Desafiando o senso comum, o francês Fissunix apostou na ideia e botou o groove sintético de seus conterrâneos para assar os vocais de David Coverdale. Acrescida de pontuais forçadas de barra eletrônicas para encadear estilos e épocas tão diferentes, não é que a música ainda queima? Puristas de ambos os lados, por exemplo, imolam-se em chamas.

20110107

Doze músicas de 2010:
12) LIFE SO HARD, Aloe Blacc



Financiado pelo aproveitamento comercial de “I Need A Dollar”, o californiano com raízes panamenhas mudou-se da meia-água do indie rap para o confortável bangalô do soul e do R&B que lhe tiraram do anonimato. Se os rendimentos de seu (até agora) único sucesso não forem suficientes para pagar o condomínio, ele poderá lembrar que há sofrimentos maiores e desabafar contra a fome e a guerra. A vida é dura, mas fica mais suportável com uma baladona dessas.


(extraída do disco Good Things)