Tudo o que você precisa é paz. Para trabalhar, para acreditar, para retomar. Aí você acha que vai encontrar esse tudo lá.
Na primeira madrugada, assiste ao pouso forçado de um urubu acompanhado por duas garotas anunciadas como prostitutas. Mas não passavam de pombas tolas enganadas pelo nojento alado. O estupro iminente só não se consumou devido à aparição monopolizadora de Michael Caine. Desprezadas, elas foram embora. Insultado, o urubu ficou. Pela manhã, você escuta o responsável pelos hóspedes gritando com ele: “Vai tomar um banho, tu tá fedendo” e não sabe se está acordado ou não.
Na segunda madrugada, você é alugado por um elemento da nobreza que, caído em desgraça, só quer um ouvido paciente para narrar histórias de tempos invencíveis. A carne já passou do ponto, a cerveja esquentou, o gelo derreteu, a boca fechou. Não tem problema: suas aventuras são movidas a cigarro e Veneno. Com todo o tato do mundo para não melindrá-lo, você o avisa que vai deitar. Levanta com ele na mesma cantilena, alternada com lágrimas provocadas por lembranças proibidas. Você resolve dar uma saída para ver se alivia. Na volta, ele reclama que estava esperando você para evaporar.
Na terceira madrugada, ninguém mexe na corrente do portão. É o próprio anfitrião que se encarrega do entretenimento. Nem os momentos de expiação vespertina tinham lhe trazido equilíbrio, nem a visita da dona da voz rouca havia apaziguado sua alma. Ele queria acelerar, acelerar, acelerar até bater. Você lhe promete cumplicidade sem se envolver. Ele conversa com os cachorros, tranca-se na solitária, deixa seus transtornos obsessivos compulsivos aflorarem livremente. E então desfalece. Você o conduz até sua cama.
São 6h47 da manhã. Você chegou anteontem e não conseguiu dormir direito uma noite sequer. Bem-vindo ao Asilo Arkham.
20091230
20091228
Menos 76 dias
Saudemos a melhor segunda-feira do ano – nem que seja por ser a última:
RARE EARTH, I Just Want To Celebrate
I just want to celebrate another day of livin'
I just want to celebrate another day of life
I put my faith in the people
But the people let me down
So I turned the other way
And I carry on, anyhow
That's why I'm telling you
I just want to celebrate, yeah, yeah
I just want to celebrate, yeah, yeah
Another day of living,
I just want to celebrate another day of life
Had my hand on the dollar bill
And the dollar bill blew away
But the sun is shining down on me
And it's here to stay
That's why I'm telling you
I just want to celebrate, yeah, yeah
Another day of living, yeah
I just want to celebrate another day of living
I just want to celebrate another day of life
Don't let it all get you down,
Don't let it turn you around and around
And around and around
Well, I can't be bothered with sorrow
And I can't be bothered with hate, no, no
I'm using up my time by feeling fine, every day
That's why I'm telling you I just want to celebrate
Aw, yeah
I just want to celebrate yeah yeah
Another day of living, yeah yeah
I just want to celebrate another day of livin', yeah
I just want to celebrate another day of life
Don't let it all get you down, no, no
Don't let it turn you around and around,
And around and around, and around
Around round round
'Round and around round round round
Don't go 'round
RARE EARTH, I Just Want To Celebrate
I just want to celebrate another day of livin'
I just want to celebrate another day of life
I put my faith in the people
But the people let me down
So I turned the other way
And I carry on, anyhow
That's why I'm telling you
I just want to celebrate, yeah, yeah
I just want to celebrate, yeah, yeah
Another day of living,
I just want to celebrate another day of life
Had my hand on the dollar bill
And the dollar bill blew away
But the sun is shining down on me
And it's here to stay
That's why I'm telling you
I just want to celebrate, yeah, yeah
Another day of living, yeah
I just want to celebrate another day of living
I just want to celebrate another day of life
Don't let it all get you down,
Don't let it turn you around and around
And around and around
Well, I can't be bothered with sorrow
And I can't be bothered with hate, no, no
I'm using up my time by feeling fine, every day
That's why I'm telling you I just want to celebrate
Aw, yeah
I just want to celebrate yeah yeah
Another day of living, yeah yeah
I just want to celebrate another day of livin', yeah
I just want to celebrate another day of life
Don't let it all get you down, no, no
Don't let it turn you around and around,
And around and around, and around
Around round round
'Round and around round round round
Don't go 'round
Saudade de nada
O post anterior foi a 200ª manifestação deste VEÍCULO. Que os próximos 200 sejam mais frequentes, interessantes e, principalmente, mais leves.
20091226
Anotações de leitura
“Todas as grandes ações e todos os grandes pensamentos têm um começo ridículo. Muitas vezes as grandes obras nascem na esquina de uma rua ou na porta giratória de um restaurante. Absurdo assim. O mundo absurdo, mais do que outro, obtém sua nobreza desse nascimento miserável. Em certas situações, responder ‘nada’ a uma pergunta sobre a natureza de seus pensamentos pode ser uma finta de um homem. Os seres amados sabem bem disso. Mas se a resposta for sincera, se expressar aquele singular estado de alma em que o vazio se torna eloquente, em que se rompe a corrente dos gestos cotidianos, em que o coração procura em vão o elo que lhe falta, ela é então um primeiro sinal do absurdo.
Cenários desabarem é coisa que acontece.”
Cenários desabarem é coisa que acontece.”
(O Mito de Sísifo, de Albert Camus)
20091225
O Natal como ele é III
(coluna publicada no jornal Correio Popular, de Campinas/SP, em 21 de dezembro de 2004)
Sua mulher, Dionéia, só esperou pela confirmação do marido para conjugar seu verbo predileto, comprar. No caso, o figurino do Papai Noel. Achou o tradicional uniforme vermelho e branco no camelódromo pela bagatela de R$ 19,90, incluídos o cinto preto e a barba postiça. O preço baixo embutia um senão – e não era o fato da inscrição "made in China" na etiqueta levantar a suspeita de uso de mão-de-obra infantil na confecção: a roupa era toda de feltro, tecido que proporciona a quem o veste a sensação de que até o inferno deve ser mais refrescante. Idiomar experimentou a peça, notou que o manequim tinha uma bunda enorme e, já suando, pensou na felicidade de sua filha de 3 anos ao receber o triciclo tão desejado diretamente das mãos do bom velhinho.
A pantomima envolvia toda uma logística. Idiomar começaria a ceia à paisana, representando papéis muito mais difíceis e demorados do que o disfarce para o qual estava escalado. Papai Noel não durava três horas e aparecia uma vez por ano; já as falas para marido, pai e genro exigiam decoreba constante. Em determinado momento, ele alegaria ter de sair para comprar qualquer coisa (“um elmo”, pensou) e sumiria, reaparecendo fantasiado e com a indefectível risada. A cumplicidade dos demais adultos estava assegurada, o que o deixava ressabiado era o sobrinho e afilhado Maiolo. O peste de 8 anos não iria engolir essa história e, com certeza, faria de tudo para sabotar o plano.
Chegou a noite derradeira e tudo ia correndo surpreendentemente bem. A filha, Jaqueline, ficou maravilhada ao descobrir que a cartinha que mandara três meses antes com o seu pedido funcionara. A sobrinha, Aline, de 4 anos, não se importou com mais nada depois que ganhou sua casinha de boneca. Maiolo, que ameaçou desmascará-lo ao puxar sua barba, foi domado a base de beliscões dados na surdina. Os altinhos escutaram os desaforos de Idio (como o chamavam, com a tônica no primeiro “i”) sem tirar o sorriso do rosto. À mulher e à sogra, disse que foram muito linguarudas no ano que passou. O cunhado, bêbado, respondeu ao insulto de “parasita” com um arroto. A concunhada teve sua gordura denunciada. E o sogro foi avisado para não esquecer mais de tomar seu remedinho.
Os estrategistas só não pensaram na retirada do Papai Noel. É claro que Maiolo quis acompanhá-lo até o portão de casa. Sem outra alternativa, o Papai Noel acabou no meio da rua. A idéia de Idiomar era aguardar a poeira baixar, tirar aquela roupa insuportável e voltar dizendo que não achara o elmo que procurava. Mas outras famílias o viram caracterizado e o chamaram para encantar também os seus Natais. Ele passou a noite toda de casa em casa, levando alegria e bem-aventurança. Quando terminou, o dia raiava. Bateu no portão uma vez. Duas. Na terceira, Dionéia arremessou a perfume na sua cabeça, aos gritos de “canalha, nem no Natal abandona a farra!”. De nada adiantaram os argumentos de Idiomar: “Mas Néia, que nóia é essa?”. Ela estava convencida. No próximo dia útil, iria entrar com o pedido de divórcio.
20091218
O trabalho aperfeiçoa a obra

Para falar a verdade, as únicas informações confiáveis na assertiva anterior são as datas. De 10 de maio, quando Zuleika gentilmente nos escalou para apertar “play” e “pause” no Blues Velvet em uma festa chamada Sabatina; a 26 de setembro, na comemoração dos três anos da coluna Contracapa, foram poucas as vezes em que a noite revelou-se especial por causa da nossa trilha sonora.
Não é questão de os bípedes estarem dançando ou não. Quem já bancou o DJ-sem-diploma sabe do que se trata: há um momento em que algo simplesmente acontece, sem porquês nem ressalvas. É mais do que “bombar”. É um negócio meio encantado, uma sensação que o som emanado tem alguma influência sobre alguma coisa individual ou coletiva, mas sempre excepcional.
De trás das pickups, com a visão panorâmica do contexto, percebe-se que determinada música mexeu com os hormônios das biatches, que outra animou um grupinho que estava parado, que uma terceira explodiu em um beijo. Dessas situações todas, duas me marcaram nessa temporada de seletor:
A primeira foi no Blues Velvet, com uma audiência predisposta para os mais diversos tipos de crimes (principalmente os não previstos no código penal) em uma sexta-feira NELVOSA de agosto. Um rapaz se aproxima e implora por Amy Winehouse. Fico sem jeito, não trouxe nada dela. Marcos E tinha uma em seu case infinito. Serve? “Qualquer uma, quero pedir a mão dela em casamento”, responde o guapo, apontando para uma fêmea que sorriu com cumplicidade. Botamos. Que sejam felizes enquanto a vida quiser.
A segunda não está ligada a um lugar, público ou noite específicos. É o remix do MSTRKRFT para “Sexy Results”, do Death From Above 1979. Saiu em 2006 e esteve presente em todos os [glup] sets como se fosse a “reserva da casa”, aquela em que o anfitrião serve com a sincera intenção de agradar – mas não fica nem um pouco preocupado se não agrada: ELE (o próprio anfitrião) gosta.
E concessão uma ova! Conhece? Deveria. A levada já um assombro, crua & sensual. Uma fêmea sussurrando “les résultats sont super sexuelles” precede a letra, que se limita a repetir, como um mantra: “sexy woman take me to your bedroom, let me show you how I work work work work”. Dá vontade de ficar trabalhando a noite inteira. Procuraê, é facinha de achar. Ou aparece lá, que eu te mostro.
20091216
Menos 64 dias

Nunca acompanhei um disco dos Beatles, do Led Zeppelin, de Bob Marley assim que saíram porque ainda não tinha nascido ou era criança demais para me importar. Com o LP da então desconhecida banda irlandesa, não. Tão logo li que iria ganhar edição nacional (se minha memória não me trai, em 1985, um ano depois de seu lançamento no exterior), corri para a Record, a única loja do pedaço que vendia vinis e cassetes. Jamais havia ouvido U2 antes. Mas ouviria muito pelas próximas décadas – e contando.
Naqueles tempos risonhos e francos, era “Pride” que eu escutava quando queria cantar junto, “Bad” quando queria impressionar a gatinha e “Elvis Presley and America” quando queria bancar o doidão sem ter experimentado nem tabaco. Hoje, não reconheço mais o bairro em que cresci. A casa do Dudu agora é uma loja, a do Xulipa (onde antes morava o Ubiratan) está à venda, a do Lucius deu lugar a um edifício.
Meus pais também se mudaram. Não tenho mais quarto na casa deles. Vivo calado, não sinto necessidade de convencer ninguém de que eu valho a pena e eventuais alterações da consciência só têm me servido para acentuar dissabores. Apenas os harmônicos da guitarra de The Edge continuam me causando o mesmo bem-estar. Certo estava Bono, que virou um cínico.
U2, Wire
20091214
Anotações de leitura
“A vaidade nos faz escrever a história de nossas grandezas e não a manifestação evolutiva da nossa vulgaridade.”
(Os Filhos da Candinha - Crônicas, de Mário de Andrade)
20091207
Seu ódio será a nossa herança
O 10,000 Words, em sua incansável cruzada para disseminar a tecnologia entre os jornalistas, publicou uma lista com sete razões que levam os leitores a odiar um blog. Sem disfarçar a frustração, este VEÍCULO reconhece que incorre em apenas quatro dos motivos citados. Mas não há de ser nada: com a graça da Santa Ignorância, não vamos medir esforços para completar a relação em 2010.
Contamos com o seu repúdio.
Contamos com o seu repúdio.
20091127
Menos 45 dias

Mas não foi para batucar rudimentos de espanhol que interrompi meu coito com as Musas. O verdadeiro propósito destas mal-tecladas é dizer que acabei conhecendo o produtor do CD, Holger Beier. Surpresa recíproca: minha, por descobrir quem ele é; dele, por eu saber que o MIS existe. Gente finíssima, vocação de agitador, cabeça da Bungalow Records, vive desembarcando em São Paulo, Nova York, Porto Alegre, Berlim. Mora com a cantora Pat C, igualmente bacana, responsável por mais uma felicidade mútua & fortuita ao (me) lembrar que resenhei um disco seu no tempo em que minha ascensão profissional parecia inexorável.
Ele, alemão. Ela, mineira. Foram parar em Florianópolis, no Rio Tavares. Nesse mundo ovo, quero ser o pinto que vinga. Se a frigideira for meu destino, que seja então com o lado ensolarado para cima. Gema dura, por favor.
MEXICAN INSTITUTE OF SOUND, Te Quiero Mucho
20091116
Anotações de leitura
“A arte de escrever histórias consiste em saber extrair daquele nada que se entendeu da vida todo o resto; mas, concluída a página, retoma-se a vida, e nos damos conta de que aquilo que sabíamos é realmente nada.”
(O Cavaleiro Inexistente, de Italo Calvino)
20091113
Menos 31 dias

JUNIOR ENGLISH, Heading for the Wrong Direction
20091112
20091106
Menos 24 dias
O fato de ter Suicidal Tendencies estocado no acervo RESIDENTE do player, isto é, naqueles 100 megas imunes ao hype, diz muito sobre um homem. Agora, o fato de o Poder Randômico escolher isso para rolar quando se está dentro de um ônibus no sentido Campeche-Centro – vendo a restinga que separa o asfalto da praia sendo detonada para construção de prédios com todas as facilidades de um clube (ainda vou escrever um tratado sobre como a criação do espaço garage band nos condomínios modernos matou o rock’n’roll), achando um crime de lesa-natureza e doido para viver ali, de cara para a Ilha do Campeche – diz muito mais do que qualquer aposto gigantesco faz supôr. A ocasião exige a tomada de grandes decisões.
Preciso comprar créditos para o meu cartão-cidadão.
SUICIDAL TENDENCIES, Choosing My Own Way of Life
20091104
20091022
Menos nove dias

Aqui eu dispenso o Google para dizer que então já conhecia esses caras. Estão no filme Boogie Nights, emprestando gritos e sussurros para as peripécias falocêntricas do espadaúdo Dirk Diggler. A sacanagem é não ter descoberto isso antes.
EL CHICLES, The Snake
20091018
20091016
Menos três dias
Um dá o ar da graça com sua alegriazinha. Outro lançou disco com nome trocado. O terceiro acaba de ser internado em um rehab. Ou ando muito desinformado ou Julian Casablancas é muito discreto. Tirando Nick Valensi, ele é o stroke de quem menos ouvi falar nos últimos meses – justamente aquele que atraía a maior parte das atenções quando a banda estava na ativa. Enquanto o quinteto não volta, o filho do descobridor de algumas das mais famosas modelos do mundo também vai sair em aventura solo. Seu primeiro single é essa TETÉIA aí embaixo, diferente – para melhor – de qualquer coisa que tenha feito com o grupo e dos trampos paralelos de seus integrantes.
Respeitei.
JULIAN CASABLANCAS, 11th Dimension
20091015
Sem medo da água quente
(coluna publicada no jornal Correio Popular, de Campinas/SP, em 10 de outubro de 2001)
Era um cara que facilitava a tarefa da posteridade. Teve o cuidado de olhar para o relógio e anotar a hora exata em que resolveu o que fazer. À 1h57 da madrugada de uma terça, ele matou a charada. E disse “não”. Chamou o amigo, que estava botando som para ninguém, e lhe contou. Seus olhos emitiam um brilho esquisito, realçado pela iluminação roxa do local. Jogado em um sofá no canto da pista vazia, refletia sobre a decisão recém-tomada. Em questão de segundos, ia de uma certeza que dilatava suas pupilas a uma insegurança que deixava suas mãos suadas e cerrava seus dentes, um nervosismo que um trago ou uma tragada poderiam aliviar. Mas ele não bebia e estava sem o seu cigarro.
Lembrava de uma entrevista com o Angeli que lera em uma Caros Amigos. Depois cometeu um aposto em seu raciocínio, só para destacar que a revista nem era dele, era de um amigo que ainda comprava leitura universitária. Leitura universitária... De uns tempos para cá, ele estava com a mania de usar esse rótulo, “universitário”, para definir qualquer coisa que não sabia por quê considerava tão irritante. Não existia o forró universitário, um sucesso? Então. Sem muito esforço, ele conseguia detectar também o pop universitário, o funk universitário, o rap universitário, os filmes universitários, os programas de TV universitários, os DJs universitários, os estilistas universitários.
Voltou ao Angeli antes que fosse muito longe para retomar o fio da meada. Na referida entrevista, o cartunista explicava a ausência de seus trabalhos em certas empresas que monopolizam a comunicação. Nada a ver com liberdade, pois isso seu talento conquistou na marra, e sim com grana. Angeli fala que, em determinados lugares, o fato de estar ali é oferecido como benefício extra-salário. Você terá plano de saúde, vale-transporte, vale-refeição e bônus semestral por desempenho (seja lá o que isso signifique), além de integrar os quadros de uma companhia reconhecida, importante e tal. Imediatamente, ele começa a analisar com mais carinho a tese de outro amigo seu. Que Liminha, que Nelson Motta! O verdadeiro inventor do rock brasileiro como o conhecemos hoje é Angeli.
Ainda saboreava o “não” que o cartunista esfregou e esfregava na cara dos barões quando um calafrio partiu de seu joelho esquerdo, vindo se alojar na altura de seu fígado. Mentiu para si mesmo e culpou o esdrúxulo drinque à base de menta que fora parar em sua mão. Na verdade, seu t(r)emor tinha outro motivo: ele não era o Angeli. Não contava com um milésimo de tanta moral, embora rivalizasse em termos de ego. A dúvida lhe assaltou. Devia ter dito “sim”, pego o seu dinheiro (que, se não era muito, era bom) e aproveitar o logotipo no crachá para tirar onda com a família – o tal benefício extra-salário. Há pouco, seu colega de mercado aceitara proposta similar, compensando a previsível frustração com uma poupança para morar no exterior.
Não, isso não funcionava para ele. Não precisava ser desse jeito. Mas havia outro jeito? Seu último chefe o alertou em várias ocasiões: só se descobre o preço de um homem ao jogá-lo em um caldeirão de água quente. A música da Legião Urbana que ele mais gostava dizia algo parecido: “Você é tão esperto, você está tão certo, mas você nunca dançou com ódio de verdade”. O pai, ouvidor-mór, repetia: você pode até estar morrendo de fome, mas ninguém precisa saber disso. “O que é que você falou?”. Era seu amigo com o fone no ouvido acertando a próxima música, mais uma de alguma banda de Maceió. Aos 22 anos, o moleque não havia escutado o que ele lhe dissera quatro parágrafos atrás e não estava nem aí. Quero vê-lo com 30.
20091014
20091006
Dez desculpas manjadas para não atualizar o blog
1. Estou sem tempo
2. Quando sobra tempo, falta assunto
3. Não tenho publicado mais nada, mas ando comentando direto por aí
4. É de propósito, para ver se alguém reclama
5. Já me incomodei muito com coisas que escrevi aqui
6. É que estou preparando uma série de novidades
7. Twitter*
8. Deixa a loucura passar
9. Amanhã eu atualizo
10. Pode ser SÓ música, sem texto?
* a mais esfarrapada de todas, pois nem conta tenho
2. Quando sobra tempo, falta assunto
3. Não tenho publicado mais nada, mas ando comentando direto por aí
4. É de propósito, para ver se alguém reclama
5. Já me incomodei muito com coisas que escrevi aqui
6. É que estou preparando uma série de novidades
7. Twitter*
8. Deixa a loucura passar
9. Amanhã eu atualizo
10. Pode ser SÓ música, sem texto?
* a mais esfarrapada de todas, pois nem conta tenho
20090908
Missão: matar Che Guevara
(Reportagem publicada na revista UM #1, novembro de 2004)
Em Capivari de Baixo, ele é o “gringo Gregório”, que ali chegou em 1989 para trabalhar como técnico mecânico e hoje dirige a pequena metalúrgica Saturno. Patrão de 31 funcionários, casado e pai de três adolescentes, o boliviano aponta satisfeito para o asfalto da rua onde mora. “Fizemos um mutirão para tocar a obra”, orgulha-se. Apenas mais um caso de empreendedorismo mesclado com responsabilidade social, não fosse o passado que, aos 58 anos, Gregório Santillan Merubia lembra com frieza. Em 1967, o titular da “libreta del servicio” nº 059246 do exército de seu país embrenhava-se pela província de Vallegrande, na divisa entre os departamentos (equivalente a estados) de Santa Cruz e Chuquisaca. A milhares de quilômetros da cidade catarinense, ele era o segundo-sargento “Gato”, codinome que adotou na caçada que culminou na morte de Che Guevara.
Filho de um químico e de uma dona de casa, Gregório nasceu em Catavi, na fronteira com a Argentina. Ainda moleque, mudou-se com a família para a capital La Paz. “Eu queria aventura”, diz. “Por isso, me apresentei na embaixada americana para lutar no Vietnã.” A gozação do oficial que o recebeu, aliada à surra que levou do pai, arrefeceu o ímpeto do rapaz de 17 anos. “Goyo”, como era apelidado, não precisaria ir tão longe para pegar em armas. Em novembro de 1966, um senhor careca, de terno e gravata e usando pesados óculos de grau, registrou-se na cidade como o economista uruguaio Adolfo Mena Gonzalez. Tratava-se de Ernesto Guevara de La Serna, o Che, disfarçado para libertar o continente do “imperialismo ianque”.
Em fevereiro do ano seguinte, Gregório alistou-se no serviço militar boliviano. A tropa a qual pertencia passou por Cochabamba, juntou-se a outros destacamentos e, finalmente, descansou no quartel Manchego, em Guabirá, sede do 12º exército de infantaria. “Depois de uma semana, os oficiais avisaram que a missão que nos aguardava seria dura, quem quisesse desistir estava livre”, conta Gregório, acrescentando que, “dos quase mil homens que compunham as tropas, uns duzentos foram embora”. Em uma tarde de sábado, jipes, caminhões e caminhonetes oferecidos pelo Pentágono transportaram os recrutas até Esperanza, a cerca de 250 quilômetros. O contingente foi dividido em quatro companhias, cada uma com quatro pelotões. Gregório ficou no terceiro pelotão da companhia A, liderado pelo tenente Eduardo Huerta.

Guevara, no resumo daquele mês no diário que manteve durante toda a sua temporada boliviana, sentia o ar carregado. “Estamos em um momento de baixa de nossa moral e de nossa lenda revolucionária. As tarefas mais urgentes prosseguem sendo (…) restabelecer contatos, incorporar novos combatentes, conseguir remédios e equipamento”, escreveu. Seus temores não eram infundados: a Central de Inteligência Americana (CIA) e as autoridades locais confirmaram sua presença no país em abril, ao capturarem o intelectual francês Regis Debray e o argentino Ciro Bustos em Muyupampa, um vilarejo no sul. Torturado, Debray confessou a verdadeira identidade do guerrilheiro “Ramón” (adivinhe quem). No acampamento de Gregório, porém, não se tocou no assunto. “A gente queria pegar o ‘Pombo’ [Harry Viegas Tamayo, do grupo de Guevara], um cubano moreno, alto e que havia matado alguns soldados”, garante.
Em 24 de setembro, as quatro companhias desfilaram por Santa Cruz de la Sierra, misturando-se à parada alusiva ao aniversário da cidade para alcançarem incólumes o quartel da oitava divisão do exército. À meia-noite, com os soldados ainda digerindo o jantar (“fricassé de carne de porco”), o coronel Joaquín Zenteno Anaya pediu a palavra. “Ele falou: ‘Chegou a nossa hora. Vamos entrar na zona de operações’”, recorda Gregório. Caminhões lotados de recrutas demoraram 15 horas para percorrer os 250 quilômetros até Vallegrande. No outro dia, o terceiro pelotão partiu para Pucará levando fuzis e mochilas com toalha, repelente, um par de botas, gaze, morfina e ração. “Inclusive o Brasil mandou suprimento da Marinha, com polvilho, chocolate, cigarro”, conta. Comida e água eram aquecidas em um fogareiro de querosene sólido “do tamanho de uma lata de graxa de sapato”.
No começo de outubro, Gregório e seus companheiros já haviam fuçado a Quebrada del Yuro (uma espécie de cânion) e cruzado com pára-quedistas do Centro de Instrução de Tropas Especiais no outro lado do rio Grande. O capitão Gary Prado, da companhia A, vasculhava Picacho. A “inteligência” infiltrava-se nas comunidades mais isoladas. Ficava claro que o objetivo não era derrubar o “Pombo”. “Tirando ele, a gente não falava de nenhum guerrilheiro em especial, até que o nome do Che vazou em uma conversa”, diz. No dia 6, orientados pelos relatos dos camponeses sobre homens sujos, maltrapilhos e armados, dormiram em La Higuera. Ao amanhecer, continuaram as buscas. De repente, “Gato” recebeu um chamado pelo rádio. “Era o ‘Tigre’ [Eduardo Huerta] , que estava rondando com parte do grupo, dizendo para a gente se encontrar no rio porque ele localizou a toca deles com restos de comida.” Fechava-se o cerco.
As anotações de Guevara refletiam a situação: “A rádio chilena informou sobre uma notícia censurada que indica existirem 1.800 soldados na região nos procurando”. Às 4h00 de 8 de outubro, as forças retornaram para a Quebrada del Yuro somente com a roupa do corpo, armas e munição. “Tigre” rumou para o norte, “Gato” permaneceu no leste e os demais felinos marcharam para o sul. Às 11h00, ecoou o primeiro disparo. “Às duas, comecei a descer pelo sul. Encontrei Gary Prado, o ‘Wily’ [Simón Cuba Sarabia, boliviano do bando de Guevara] e o Che, sem sapatos, com três pares de meia e as mãos amarradas”, lembra Gregório. À noite, em La Higuera, ele foi ver os prisioneiros, trancafiados na escola do vilarejo. “Che tinha uma ferida na panturrilha esquerda e queria mijar. Arrumei uma panela de barro. Desamarrei suas mãos e seus pés e ele se aliviou. Também pediu para fumar seu cachimbo.”

Enquanto o destino do cadáver ilustre tomava proporções novelescas, Gregório continuou no exército até abril de 1968. Civil novamente, foi para Buenos Aires prestar cursos de pilotagem e de metalurgia. Na Argentina, virou dirigente sindical (“peronista”, ressalta). De volta à Bolívia como torneiro mecânico, conheceu Joana, catarinense que trabalhava como voluntária no colégio salesiano Dom Bosco, em La Paz. Casou com ela e se estabeleceu em Capivari de Baixo, a 140 quilômetros ao sul de Florianópolis, perto dos sogros. Dos tempos da guerrilha, sobrou pouca coisa. “Já fiz tantas mudanças que perdi quase tudo”, desculpa-se. “O garfo, faca e colher checos que ganhei do Che meu pai jogou no lixo.” Restaram duas fotos, o diploma de pára-quedista e a caderneta do serviço militar.
Para o ex-combatente, Guevara não ia vencer nunca. “Sua luta aconteceu na hora e no lugar errados, com a Bolívia sendo governada por um militar nacionalista [o general René Barrientos] e em uma área desabitada, longe de qualquer cidade”, opina. Gregório naturalizou-se brasileiro em 2002. Na quintal em frente de sua casa, uma placa do candidato a prefeito da cidade pelo Partido Progressista (PP) entrega de que lado ele sempre esteve.
BOX: O santo justiceiro
Com Che Guevara fuzilado, as autoridades bolivianas apressaram-se em divulgar a surrada (e eficiente) versão da “morte em combate”. A lorota não se sustentou nem dois dias. Em 10 de outubro de 1967, o médico Reginaldo Ustariz Arze examinou o cadáver na lavanderia do hospital de Vallegrande e denunciou o assassinato à imprensa. Os militares resolveram a polêmica com a sutileza habitual: obrigaram o doutor linguarudo a fugir (ele veio para o Brasil, seu lar até hoje) e sumiram com o corpo. Os restos mortais só reapareceram em 1997, em uma vala comum próxima ao aeroporto da cidade, depois que o general reformado Mario Vargas Salinas resolveu abrir a boca. Os ossos viajaram para Cuba, onde o “companheiro” Fidel Castro os recebeu com honras de Estado.
Os trinta anos em que o paradeiro final de Che Guevara permaneceu ignorado deram um toque sobrenatural à biografia do guerrilheiro. Na região em que travou suas últimas batalhas, a imagem de homem martirizado por lutar pelos pobres despertou a fé cristã. Ele se tornou Santo Ernesto de la Higuera, a quem os nativos pedem para salvar a colheita, recuperar a vaca roubada ou curar o filho canceroso. O “lado escuro da Força” também se manifestou com intensidade: existiria uma maldição, corroborada pelas desgraças que acometeram muitas pessoas relacionadas com a captura e morte de Guevara. A série de coincidências trágicas foi observada pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano no livro Dias e Noites de Amor e de Guerra (publicado no Brasil em 1979 pela editora Paz e Terra, e pela coleção L&PM Pocket em 2001).
O presidente da Bolívia, general René Barrientos, que deu a ordem para matar o guerrilheiro, foi carbonizado na queda de seu helicóptero, em 1969. Em 1970, o tenente Eduardo Huerta morreu em um acidente de carro. O coronel Roberto Quintanilla, que exibiu o cadáver de Guevara a fotógrafos e jornalistas, tombou com dois tiros no peito em Hamburgo, na Alemanha, em 1971. O tenente-coronel Andrés Selich, que preparou a execução, não resistiu ao tratamento que recebeu dos torturadores leais ao ditador da hora, o general Hugo Banzer, em 1972. O general Juan José Torres, chefe do Estado-Maior e um dos que decidiram pela solução radical, foi assassinado em Buenos Aires, onde estava exilado após sua deposição da presidência boliviana, em 1976. No mesmo ano, o coronel Joaquín Zenteno Anaya sofreu um atentado fatal em Paris.
Em 1981, o coronel Gary Prado, capitão da companhia A na época da guerrilha, ficou paraplégico por causa dos tiros que levou durante um protesto dos petroleiros em Santa Cruz de La Sierra. O sargento Mario Terán, autor dos disparos que mataram Guevara, vagueia pirado por Cochabamba. O segundo-sargento Gregório Santillan Merubia, que improvisou um penico para o prisioneiro da escola de La Higuera, não acredita em bruxas. Nem no santo, nem no justiceiro.
20090829
Um tapa na cara da sociedade

MAYER HAWTHORNE, Green Eyed Love
20090824
Diálogos hipatéticos (versão jornalismo-empresa)
— Tu é pessoa física ou pessoa jurídica?
— Nenhuma das duas: sou pessoa NEFASTA.
— Nenhuma das duas: sou pessoa NEFASTA.
20090820
Palavras que só a literatura sabe que existem
“O número do quarto era duzentos e dois. Era um número capicua: isso me pareceu um sinal de bom augúrio e, de certo modo, foi.”
(Duas Vezes Junho, de Martin Kohan)
capicua
ca.pi.cu.a
sf 1 Mat Número que, lido da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, apresenta o mesmo valor. 2 A pedra que pode fazer dominó ou ganhar a partida nas duas pontas.
Tipo um palíndromo numérico. Capicua. Massa. Já está incorporada ao vocabulário. Não estranhe se me ver forçando a barra para usá-la por aí.
ca.pi.cu.a
sf 1 Mat Número que, lido da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, apresenta o mesmo valor. 2 A pedra que pode fazer dominó ou ganhar a partida nas duas pontas.
Tipo um palíndromo numérico. Capicua. Massa. Já está incorporada ao vocabulário. Não estranhe se me ver forçando a barra para usá-la por aí.
20090818
Eu não sei o que falar sobre as estrelas que povoam este meu céu
Estava louco atrás de um gancho [N. do E.: é mais fácil tirar o diploma do que certos DOGMAS de um jornalista] para falar de “Shooting Stars” aqui. Lançada na segunda metade do ano passado pelos Bag Raiders no EP Turbo Love, a faixa só não entrou na lista das melhores de 2008 por puro vacilo. E, sem fato novo da dupla australiana no horizonte, não havia nenhum gancho para proclamar minha adoração. Agora há: a música acaba de ganhar clipe e sair em single com remixes e talz, mas nada que supere o crescendo da versão original. Não é sempre que se tem uma segunda chance de, estabelecida a rendição, buscar a redenção.
BAG RAIDERS, Shooting Stars
20090815
20090731
Comece agosto se acabando
No momento em que você se deleita com estas mal-tecladas, Marcos E & eu já estamos com tudo pronto para mais uma sessão de alongamento hormonal sob os auspícios de FALCATRUE. Desta vez, é a perfumada pista do El Divino que servirá de cenário para as colisões ILÍACAS promovidas pelo “duo” (é assim que o release da casa refere-se a nós) com a finalidade de desossar até as cinturas mais teimosas. Ainda conforme o material distribuído à imprensa, devemos rolar “groove, funk e rock”, mas não é porque a festa chama-se Déjà Vu que vamos restringir sua noite de sábado a esses ritmos manjados. O set contempla também – e principalmente – as últimas novidades autorizadas pela juventude badalada, em um CONLUIO de caras, bocas e franjas jamais visto antes. Nem depois: o local fechará para reforma após nossa TONITRUANTE passagem por lá. Portanto, toda a devastação é bem-vinda.
KESHA, (Fuck Him) He's a DJ
20090726
20090715
Anotações de leitura
“A burrice das pessoas vem de elas terem uma resposta para tudo. A sabedoria do romance vem de ele ter uma pergunta para tudo. (...) O romancista ensina o leitor a compreender o mundo como uma pergunta. Nessa atitude há sabedoria e tolerância. Num mundo baseado em certezas sacrossantas, o romance morre. O mundo totalitário – seja ele baseado em Marx, no Islã ou em qualquer outra coisa – é um mundo de respostas e não de perguntas. Nesse mundo o romance não tem lugar. Seja como for, creio que em todo o mundo as pessoas hoje em dia preferem julgar e não compreender, responder e não perguntar, de modo que a voz do romance é difícil de ouvir em meio a toda tagarelice insensata das certezas humanas.”
(Milan Kundera para Philip Roth em Entre Nós – Um Escritor e seus Colegas Falam de Trabalho)
20090709
20090707
O charme inerente aos homens de 50 anos
O derradeiro adeus ao Rei do Pop mobiliza jornalistas, parentes, fãs e artistas, entre outros catartídeos menos badalados. Aqui do seu cantinho virtual, este VEÍCULO também faz a sua parte para corresponder à sanha por notícias sobre o ilustre cadáver — nem que, para isso, tenha de apelar. Com base em fotos do astro quando criança e nas modernas técnicas de envelhecimento à disposição da indústria de efeitos especiais, um bando de especialistas tremendamente ocupados imaginou como seria o rosto de Michael Jackson aos 50 anos (à esq.) se ele não tivesse se submetido a nenhuma de suas trocentas cirurgias plásticas (à dir.). [via Next Nature]
20090706
20090705
Dominguerreira
Anoitece. Enquanto mentes regulares preparam-se para entrar em um longo estado de inércia em frente à televisão, corpos animados aproveitam-se do cochilo do Senhor para saracotear em pleno domingo. Daqui a pouco, a partir das 21h, os empreendedores do EhRock promovem uma festa cheia de atrações na Confraria das Artes. Falcatrue deve apertar o play por volta da hora dos drinques liberados (até as 22h30h) e do bufê de macarronada (até às 23h00). O CONTRATANTE não estava brincando quando disse que teríamos a missão de sacudir as massas.
Vou ali meter um molho e já volto.
20090701
Arnaldo Baptista chama e responde
20090618
Atropelado pelos fatos
Cheguei em casa ontem à noite seriamente disposto a escrever sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Ia chover no molhado dizendo que não entendia como a medida melhoraria a qualidade da informação oferecida ao distinto público; que a argumentação usada para derrubar a exigência de formação acadêmica vale para qualquer ciência humana (abram o olho, ADEVOGADOS); que sempre haverá espaço para bons profissionais, diplomados ou não.
Aí vi o publicitário corintiano Washington Olivetto e o emo colorado TAVARES, da banda Fresno, ocupando a bancada do Jornal da Globo. Enquanto eles falavam de futebol – ou do esporte praticado por seus times –, percebi que eu estava tentando defender uma realidade que já não existe mais.
Aí vi o publicitário corintiano Washington Olivetto e o emo colorado TAVARES, da banda Fresno, ocupando a bancada do Jornal da Globo. Enquanto eles falavam de futebol – ou do esporte praticado por seus times –, percebi que eu estava tentando defender uma realidade que já não existe mais.
20090617
Se isso é som, nisso posso voar
Antes de prosseguir, é MISTER avisar que: a) acompanho-os desde a estreia, em 2000; b) já fui ao interior do interior da cidade gaúcha de Três Coroas entrevistar o casal nuclear do grupo, Nenung e Yang Zan, no templo Chagdud Gonpa Khadro Ling e c) não saio de casa sem o meu mala, o terço budista. Sou o que tecnicamente chama-se de fã. Portanto, não tenho nem quero ter a menor condição de discorrer sobre a banda com isenção.
Ainda mais depois que seu quarto disco materializou-se em plástico e papel na minha caixa de correio justamente quando eu me perguntava aonde foi parar aquele menino que queria cantar como o beatle George. “Folk psichedelia” (sic), diz o selo estampado na contracapa, como se o estilo predominante do hoje sexteto representasse uma das Quatro Nobres Verdades. As letras haveriam de trazer respostas mais claras. Para quê, mesmo?
Seja lá sobre o que for, o que Nenung escreve sempre traz algum alento. Sem dogmas, sem cobrança, sem culpa. Mantras em potencial rendem-se na faixa-título, (“amar sem querer mais que amar simplesmente”), acusam o golpe com “Srta. Saudade da Silva” (“entendo que você esteja feliz/ você tem a você e eu não tenho”) e atingem a SUBLIMAÇÃO em “Sem Eira nem Beira” (“busco por ti aqui dentro e me voo/ solto da reta de sempre”).
Transitoriedade, imperfeição e recomeço passam por “Gigante”, oferecendo em versos simples (“sei que não sou nada que possa durar/ mas me reconheço e sei mudar”) um intensivo de budismo para iniciantes. Como mente de principiante é igual a mente zen, os Darma Lóvers não poderiam estar mais alinhados com a não-dualidade, o vazio e a iluminação. Usando o pop como suporte, a banda cumpre o que toda religião promete: jogar um pouco de luz sobre nossos enigmas de desejo & finitude.
OS THE DARMA LÓVERS, Gigante
PS: Para falar a verdade, quase não uso meu mala. Mas li Sidarta na idade certa para jamais esquecer de escutar o rio e assimilar seus conselhos.
20090602
É preciso tocar a vida para dela emergir
As escassas leitoras deste VEÍCULO debatem-se, indóceis. Querem mais, querem melhor, querem tudo e querem agora. Lamento, sorrio, finjo que não é comigo e tento me justificar: ando tocando umas musiquinhas por aí. Só não digo que a repórter foi profética em sua dúvida porque minha performance sobre dois CD players e um mixer me credencia, na maior boa vontade, como um DISCOTECÁRIO e, na menor, como uma fraude. Em ambos os casos, saio no lucro – e não me refiro somente aos trocados que pingam na minha mão no final da noite, dobrados dentro do cartão de consumo carimbado com um “livre”.
Afinal, não estou enganando ninguém. Quem escala o maximal Marcos Espíndola pode até ignorar que faço parte do pacote, desde que alertada que está sujeitando a sua festa aos caprichos da FALCATRUE. A alcunha, de inspiração inequívoca, traduz a natureza do nosso, er, set. Picareta, sim. Mas de coração. E é nesse espírito enlevado pela incondicional paixão ao Movimento Curvilíneo Uniforme delas que temos sido mobilizados para saciar pistas interessadas e interessantes. Sem expectativa, sem frustração.
O nome na filipeta já veio acompanhado de (em ordem cronológica) rótulos como breakbeat, electro, rock, funk e pop, todos vagos para descrever com precisão o que vai rolar – nem a gente sabe. Somos conduzidos por sinais, como a lapidar frase de um intelectual químico diante da JOGAÇÃO causada por algum truque sujo gravado em um CD identificado por garranchos em tinta verde: “O som de vocês está mais gay do que o do próprio gay que tocou antes”. Sem nenhum demérito, a assertiva apenas ratificou que estávamos promovendo, com sucesso, o importante fundamento que a norma culta manda chamar de UMBIGADA.
Isto posto, as cada vez mais escassas leitoras deste veículo continuam indóceis. Não entendem o que três ou quatro discotecagens têm a ver com não serem mais entretidas, ainda que no período diurno, com uma reles migalha de autossabotagem ou, que seja, com algum “baita papo furado” aqui expelido. OK, vou direto ao ponto: é muito mais enriquecedor mostrar música para os outros do que escrever sobre música. Ou, Matias que o diga, das pickups sai mais jornalismo musical do que dos impressos.
Restariam outros assuntos, não fossem vetados por um pessoal e intransferível critério de classificação. Sexo é muito melhor praticar do que EXPLANAR; política estaria influenciada pela minha atual atuação profissional; futebol só depois que meu time libertar a América; vida pessoal me recuso a expor. Donde sobra a música, soberana. Com a nada desprezível diferença de que, ao contrário da função da crítica, tocar para uma audiência implica em agradá-la – desafio que, segundo o Marquinhos, nossos recém-adquiridos dotes de SELETORESterão a próxima oportunidade de enfrentar nesta quinta-feira (4/6) já foram recrutados para enfrentar no dia 4 de julho, no El Divino. Não vejo a hora de ser intimado, de cabeça inclinada, fone na orelha e dedo em algum botão que desconheço a serventia, para soltar qualquer coisa que estimule a FRITURA.
Afinal, não estou enganando ninguém. Quem escala o maximal Marcos Espíndola pode até ignorar que faço parte do pacote, desde que alertada que está sujeitando a sua festa aos caprichos da FALCATRUE. A alcunha, de inspiração inequívoca, traduz a natureza do nosso, er, set. Picareta, sim. Mas de coração. E é nesse espírito enlevado pela incondicional paixão ao Movimento Curvilíneo Uniforme delas que temos sido mobilizados para saciar pistas interessadas e interessantes. Sem expectativa, sem frustração.
O nome na filipeta já veio acompanhado de (em ordem cronológica) rótulos como breakbeat, electro, rock, funk e pop, todos vagos para descrever com precisão o que vai rolar – nem a gente sabe. Somos conduzidos por sinais, como a lapidar frase de um intelectual químico diante da JOGAÇÃO causada por algum truque sujo gravado em um CD identificado por garranchos em tinta verde: “O som de vocês está mais gay do que o do próprio gay que tocou antes”. Sem nenhum demérito, a assertiva apenas ratificou que estávamos promovendo, com sucesso, o importante fundamento que a norma culta manda chamar de UMBIGADA.
Isto posto, as cada vez mais escassas leitoras deste veículo continuam indóceis. Não entendem o que três ou quatro discotecagens têm a ver com não serem mais entretidas, ainda que no período diurno, com uma reles migalha de autossabotagem ou, que seja, com algum “baita papo furado” aqui expelido. OK, vou direto ao ponto: é muito mais enriquecedor mostrar música para os outros do que escrever sobre música. Ou, Matias que o diga, das pickups sai mais jornalismo musical do que dos impressos.
Restariam outros assuntos, não fossem vetados por um pessoal e intransferível critério de classificação. Sexo é muito melhor praticar do que EXPLANAR; política estaria influenciada pela minha atual atuação profissional; futebol só depois que meu time libertar a América; vida pessoal me recuso a expor. Donde sobra a música, soberana. Com a nada desprezível diferença de que, ao contrário da função da crítica, tocar para uma audiência implica em agradá-la – desafio que, segundo o Marquinhos, nossos recém-adquiridos dotes de SELETORES
20090519
Sempre em frente círculos, sem saber aonde vai chegar
Isto não é uma resenha. Não é uma reportagem, nem uma crônica. É uma tentativa de capturar um momento, de escrever em primeira pessoa sem submeter cada frase a uma rígida autocensura, de se entregar às sensações despertadas por um disco – logo comigo, que havia apregoado que não ligava mais para o formato. Mas essa é a menor das certezas dissolvidas depois que Eating Us, do Black Moth Super Rainbow, revolveu minha alma.
Era para ser só mais um disco apropriado de forma indébita, como tantos outros de que nada se espera além de dois ou três arquivos salvos para posse & gozo não perecíveis. Ainda mais sendo de uma banda da qual eu tinha apenas duas referências. Uma, o fato de vir da Pensilvânia, de onde brota mais da metade da produção de cogumelos dos Estados Unidos. Outra, o álbum anterior (Dandelion Gun, de 2007), uma longa e densa jornada que dá a impressão de que na conta acima entraram também os fungos com propriedades alucinógenas.
Tais credenciais tornavam o Black Moth Super Rainbow sempre elogiado, embora raramente ouvido. Ainda que a distância, eu nutria uma vontade de gostar mais, de entender melhor o quinteto. Principalmente após saber que Iffernaut, a criatura que pilota a bateria, chama-se Donna Kyler (e, Meg White à parte, mulher baterista é um baita fetiche). Aí Eating Us chegou e, sem avisar, transformou a predisposição em paixão. Faz quase três semanas que não consigo escutar outra coisa.
A lisergia que rege a sonoridade do grupo permanece impávida, inclusive no farto uso de vocoders e demais brinquedinhos que acentuam o caráter viajante do negócio. A diferença está nos seus efeitos. Apesar da surpresa, não há estranhamento. Tudo agora soa leve, bucólico, melancolicamente belo. Até que ponto a produção de David Fridmann (Flaming Lips, MGMT) contribuiu para forjar essa atmosfera é irrelevante. Vencido o impacto inicial, a percepção tem o caminho livre para se aguçar – reafirmando convicções, aceitando a nova realidade que se insinua.
Pois, por mais pop-entre-aspas que se apresente, o disco emana uma não-adequação, como se sussurrasse “não sou como vocês” (abrazzz, Frank Jorge) à guisa da falta de refrãos pontuando as curtas estrofes de suas doze músicas. Durante pouco mais de meia hora, sucedem-se desespero e alívio, danação e conforto, revolta e resignação. Não é para concluir nada, nem escolher o que sentir. E, sim, para se convencer de que CONSEQUÊNCIAS conflitantes não pedem permissão para coexistir. Eis a graça.
BLACK MOTH SUPER RAINBOW, Twin of Myself
20090504
Para começar a semana no molejo

MAYER HAWTHORNE, Maybe so Maybe no
20090424
A/C Congresso Nacional
Seus problemas acabaram! Com este sensacional gerador de passagens aéreas de primeira classe, a sociedade nunca mais vai pegar no seu pé. [dica do altovolta]
20090415
Em vez de estrelas, asteróides
Foi o alemão quem levantou o tema, pouco antes de Curumim, afônico, forrar o ambiente com uma sessão de DUBWISE. Para ele deixar de lado a beldade com quem conversava e vir me perguntar isso, devia ser uma questão que o estava atormentando muito mesmo. Sempre ligado no movimento, nem esperou os cumprimentos protocolares para disparar:
— Cara, o que tá acontecendo nesse ano? Não saiu nenhum disco que preste até agora...
Reagi esvaziando sua angústia. Tentei RELATIVIZAR o suposto problema:
— Também não é assim, né? — ganhei tempo para pensar em algo que desmentisse a certeza saxônica. Mas só fiquei com cara de bobo falando “tem o..., também o...”, sem citar nenhum nome. No máximo, consegui dizer que ouço músicas, não discos.
A gravidade que emanava do palco evitou um debate que não levaria a nada. Ele voltou para a sua querida, eu fui perseguir o diabo da caretice com golpes baixos. Se nossa conversa continuasse, eu lhe explicaria que aboli aquela bolacha redonda com um punhado de canções gravadas. Que este formato só interessa ainda à indústria, que empurra ao consumidor um produto no qual é comum mais da metade ser descartada; ou a artistas com ambições conceituais, com resultados desastrosos na maioria das vezes.
Mas diria também o seguinte: cada um sabe o que fazer com o seu dinheiro ou com o seu tempo. Eu mesmo ocupo o meu escutando ocasionalmente discos inteiros – lançamentos de conhecidos com quem nutro uma relação afetiva (U2 e Neil Youg, por exemplo), álbuns antigos que apenas surtos idiossincráticos justificam sua ressurreição (jamais imaginei que desenterraria o Slide it in, do Whitesnake) e, ora se não, coisa nova de gente idem.
Como Fruit, do Asteroids Galaxy Tour. É uma banda dinamarquesa capitaneada pela vocalista Mette Lindberg (a radiante dona do ombrinho na foto ali em cima) e pelo baixista e produtor Lars Iversen. Já havia me ASSANHADO no final do ano passado com o cartão de visitas “The Sun ain’t Shining no More”, um popzinho retrô de raízes negro-espaciais. Atrás de mais faixas como essa, catei o disco inteiro tão logo ele deu mole, há poucos dias, predisposto a salvar duas ou três e deletar o resto.
Para minha surpresa, tem mais um monte do mesmo naipe, sempre com uma sonoridade que remete a soul, psicodelia light e vocação para se enquadrar entre Amy Winehouse e Lily Allen. Sem me esforçar, aponto “The Golden Age”, “Bad Fever”, “Around the Bend”, “Satellite” e “Lady Jesus” como aproveitáveis. Pode não representar muito. Com certeza, porém, é mais do que a média – o que credencia a estreia (pega aqui na minha reforma ortográfica) do grupo como uma das boas recordações que 2009 reserva. Tudo indica que este sol promete brilhar até dezembro.
THE ASTEROIDS GALAXY TOUR, The Sun ain't Shining no More
20090414
Noção do atraso*
O que (já) é não é (ainda) – eis a Surpresa.
O que não é (ainda) (já) é – eis a espera.
O que não é (ainda) (já) é – eis a espera.
* Paul Valéry (1871-1945), Cahiers, vol. 1.
20090408
Juro que vi um javali cor-de-rosa

O CD vem cheio de nomes para exibir: produção de Kamal Kassin e Berna Ceppas (Los Hermanos, Caetano Veloso); participações de Villa-Lobos, Moreno Veloso e Domenico Lancelotti; marca da carioca Dubas, de Ronaldo Bastos. Nada de sólido além da evidência de que Nenung e Yang Zan não passam mais tanto tempo em Três Coroas. E de que o som do hoje sexteto parece que está mais encorpado, mais bonito, com mais preZENça – ao menos em “Júlia”, uma das duas faixas que estão circulando por aí no maior desapego.
Ainda não ouvi todo, mas já gostei. Por enquanto e para sempre.
OS THE DARMA LÓVERS, Júlia
20090405
Anotações de leitura
“Assim, em um átimo de segundo, em meio à maior vertigem de sua existência, a rigor a única que ele não teve tempo (e durante a vida inteira não terá) de domesticar numa representação literária, apreendeu a intensidade da expressão ‘para sempre’ — a idéia de que algumas coisas são de fato irremediáveis, e o sentimento absoluto, mas óbvio, de que o tempo não tem retorno, algo que ele sempre se recusava a aceitar. Tudo pode ser recomeçado, mas agora não; tudo pode ser refeito, mas isso não; tudo pode voltar ao nada e se refazer, mas agora tudo é de uma solidez granítica a intransponível (...)”
(O Filho Eterno, de Cristovão Tezza)
20090401
Primeiro de abril (edição revista e ampliada)
Hoje eu começo a trabalhar fora.
É o segundo ano consecutivo em que isso me acontece. Deve ser o Acaso tentando me passar alguma mensagem – que eu me recuso a entender para não dar mole à ansiedade. Já há sinais demais por aí me acenando com um porvir desafiador.
É o segundo ano consecutivo em que isso me acontece. Deve ser o Acaso tentando me passar alguma mensagem – que eu me recuso a entender para não dar mole à ansiedade. Já há sinais demais por aí me acenando com um porvir desafiador.
20090318
Não me fale em reforma
A partir de hoje, a postagem neste VEÍCULO passa a ser adiada segundo o novo acordo ortográfico da língua portuguesa. A previsão é de que, mesmo com a presença de guia e dicionário no desktop, a adaptação à lusografia universal só seja considerada completa quando o processador de texto aceitar ideias sem acento. Na pior das hipóteses, em 2013. Na melhor, meu escritório troca a acusação de pirata pela condição de aberto.
A outra reforma, essa vai longe. Pensei que voltaria para casa no carnaval; já sei que antes da Páscoa ainda estarei literalmente sem chão. Desconfio que o momento em que eu parar de fixar efemérides como marcos para tomar alguma atitude representará um baita adianto na minha vida. Vou começar a fazer promessa – para os outros pagarem.
A outra reforma, essa vai longe. Pensei que voltaria para casa no carnaval; já sei que antes da Páscoa ainda estarei literalmente sem chão. Desconfio que o momento em que eu parar de fixar efemérides como marcos para tomar alguma atitude representará um baita adianto na minha vida. Vou começar a fazer promessa – para os outros pagarem.
20090306
Doze músicas de 2008:
1) A LITLLE BETTER, Gnarls Barkley
Esqueça “Crazy”. No segundo filho do casal esquisito, a loucura é outra. Crescendo mais para os lados do que para cima, o disco chega à última música nas condições ideais de temperatura e pressão para transportar o viajante a uma dimensão dolorosamente linda. Danger Mouse conduz o bonde com a parcimônia que a situação requer, apostando na eloqüência do vazio preenchido pela voz absurda de Cee-Lo. Em três partes, a dupla percorre um arco-íris de cores vivas que redunda em um preto ofuscante, que brilha até esmaecer rumo ao Absoluto em agradecimento às forças da natureza, do amor e da imaginação. Eu que agradeço por vocês fazerem me sentir um pouquinho melhor.
(extraída do disco The Odd Couple)
Ainda me livro disso
É com resignação que constato que não li o quanto nem o que planejava em 2008. Queria também ter investido mais em ficção (sobretudo de autores brasileiros), contando com o mergulho em O Tempo e o Vento para tirar o atraso em grande estilo. Mas, na coleção de sete volumes que descolei da monumental obra de Érico Verissimo, faltava o terceiro. Chapei com os dois primeiros e parti para outros. Aí não teve como escapar: é mais fácil adotar a nova ortografia (em breve, em breve) do que negar o jornalismo três vezes. Fui parar em biografias, ensaios, reportagens, memórias e... revi a minissérie em DVD. Que momento.
Não que tenha sido pouco; é que em 2007 foi demais. Abaixo, a lista completa, na ordem cronológica e com os destaques em negrito:
Socialismo para Milionários, Bernard Shaw
Barão Vermelho – Por que a Gente É Assim, Ezequiel Neves, Guto Goffi e Rodrigo Pinto
Afonsinho & Edmundo – A Rebeldia no Futebol Brasileiro, José Paulo Florenzano
Claudinha no Ano da Loucura, Alexandre Evremidis
Imigrantes 1748-1900 – Viagens que Descobriram Santa Catarina, Mariléa M. Caruso & Raimundo C. Caruso
O Planeta Diário
Reino do Medo, Hunter Thompson
O Castelo na Floresta, Norman Mailer
O Tempo e o Vento – O Continente vol. 1, Erico Verissimo
O Tempo e o Vento – O Continente vol. 2, Erico Verissimo
Sangue Ruim, Joe Coleman
Pot Culture – The A-Z Guide to Stoner Language & Life, Shirley Halperin & Steve Bloom
Gravando!, Phil Ramone
Stasilândia, Anne Funder
A Vida Secreta dos Grandes Autores, Robert Schnakenberg
Tim Maia – O Som e a Fúria, Nelson Motta
A Lógica do Cisne Negro, Nassim Nicholas Taleb
A Guerra do Futebol, Ryszard Kapuscinski
Música, Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download, André Midani
Eva Peron – A Madona dos Descamisados, Alicia Dujovne Ortiz
A Revista do Lalau, Stanislaw Ponte Preta/Sergio Porto
Escanteio, Paulo Fernando Lago
Cem Anos de Paixão – Uma Mitologia Carioca no Futebol, Cláudia Mattos
Cem Quilos de Ouro [e Outras Histórias de um Repórter], Fernando Morais
Os Quatro Cantos do Sul – Operação Barriga Verde, Celso Martins
Bola na Rede: A Batalha do Bi, Stanislaw Ponte Preta
Não que tenha sido pouco; é que em 2007 foi demais. Abaixo, a lista completa, na ordem cronológica e com os destaques em negrito:
Socialismo para Milionários, Bernard Shaw
Barão Vermelho – Por que a Gente É Assim, Ezequiel Neves, Guto Goffi e Rodrigo Pinto
Afonsinho & Edmundo – A Rebeldia no Futebol Brasileiro, José Paulo Florenzano
Claudinha no Ano da Loucura, Alexandre Evremidis
Imigrantes 1748-1900 – Viagens que Descobriram Santa Catarina, Mariléa M. Caruso & Raimundo C. Caruso
O Planeta Diário
Reino do Medo, Hunter Thompson
O Castelo na Floresta, Norman Mailer
O Tempo e o Vento – O Continente vol. 1, Erico Verissimo
O Tempo e o Vento – O Continente vol. 2, Erico Verissimo
Sangue Ruim, Joe Coleman
Pot Culture – The A-Z Guide to Stoner Language & Life, Shirley Halperin & Steve Bloom
Gravando!, Phil Ramone
Stasilândia, Anne Funder
A Vida Secreta dos Grandes Autores, Robert Schnakenberg
Tim Maia – O Som e a Fúria, Nelson Motta
A Lógica do Cisne Negro, Nassim Nicholas Taleb
A Guerra do Futebol, Ryszard Kapuscinski
Música, Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download, André Midani
Eva Peron – A Madona dos Descamisados, Alicia Dujovne Ortiz
A Revista do Lalau, Stanislaw Ponte Preta/Sergio Porto
Escanteio, Paulo Fernando Lago
Cem Anos de Paixão – Uma Mitologia Carioca no Futebol, Cláudia Mattos
Cem Quilos de Ouro [e Outras Histórias de um Repórter], Fernando Morais
Os Quatro Cantos do Sul – Operação Barriga Verde, Celso Martins
Bola na Rede: A Batalha do Bi, Stanislaw Ponte Preta
20090305
Doze truques de 2008:
1) LEFT BEHIND, João Brasil Tropical Mix
Depois de causar com “Baranga” e “Pau Molão”, João Brasil apontou sua infâmia para o CSS. A ironia, no caso, não está na lambada revestindo com autoridade a faixa que apresentou o segundo disco da banda. E sim que Lovefoxxx teve de se mudar para Londres para descobrir que, hype por hype, o do Kaoma na Europa já dura desde 1989. Ainda dá tempo de ela aprender a dança proibida. Qualquer dificuldade, Adriano Cintra ensina como Beto Barbosa adocica.
20090303
Doze truques de 2008:
2) JUSTICE FOR BILLIE JEAN, DJ Schmolli
Ninguém suporta mais “D.A.N.C.E.”, do Justice; muito menos “Billie Jean”. Manjadas demais, estavam apenas esperando uma alma abnegada revelar que nasceram uma para outra para ganharem sobrevida na pista. Sem temer o ridículo, o alemão assumiu o papel com denodo – a ponto de, não satisfeito em botar Uffie soletrando com Jacko, ainda sacar da algibeira o “everybody dance now” do C+C Music Factory para estimular a soltura de frangas.
Doze músicas de 2008:
2) JUST AIN’T GONNA WORK OUT, Mayer Hawthorne & The County
Ele tem 29 anos, é branco e nunca integrou coral de igreja. Seu único single foi o suficiente para consagrá-lo como o dono do falsete liberal que mais dilacerou corações em 2008 e fermentar expectativas quanto ao disco que vem por aí. Lançado por um selo de hip-hop, Hawthorne é exceção em uma época de rótulos compostos por cantar soul – “new” coisa nenhuma – como os rouxinóis negros de sua infância em Detroit. Puro, simples e matador.
(extraída do single Just ain’t Gonna Work out)
20090301
Doze músicas de 2008:
3) COMPACTO, Curumim
Em um ano no qual o mainstream do B da música nacional (do A pouco se espera) viu Mallu Magalhães comandar, ninguém foi mais brasileiro – na acepção internacional do termo – do que Curumim. Na defesa de um suingue universal com DNA japaulistanegro, o baterista proporciona um fino e raro prazer em seu segundo disco. Fino por carregar a música no macio, no gostoso. Raro porque nem Jorge Ben tem provocado mais esse arrebatamento.
(extraída do disco Japan Pop Show)