(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)
A grande revelação da música em 2014 gravou seu último disco há 29 anos, mora na Nigéria e renega o passado. William Onyeabor era um completo desconhecido no primeiro mundo até ser descoberto por David Byrne. A exemplo do que fez com Tom Zé, Mutantes e Tim Maia, o ex-Talking Heads lançou uma coletânea – Who Is William Onyeabor? – pelo seu selo, Luaka Bop. A compilação foi um aperitivo para o prato principal: uma caixa com todos os álbuns do dito cujo. Finalmente, o Ocidente sabe o que estava perdendo.
Lenda ou verdade, a história de Onyeabor é tão fascinante quanto sua obra. Nascido no final da década de 1940 em Enugu, no sudeste nigeriano, ele começou a formação musical no piano. A guerra civil entre 1967 e 1970 o levou a deixar o país para estudar cinematografia na então União Soviética. Na volta, abriu uma produtora de filmes e gravadora, a Wilfilms. Em seguida, converteu-se ao cristianismo, largou a carreira artística e hoje é dono de um moinho de farinha, um cibercafé e um posto de gasolina.
Enquanto ainda não havia encontrado Jesus, Onyeabor cunhou música divina. De 1977 a 1985, compôs, cantou, produziu e provavelmente tocou todos os instrumentos em oito discos. Seu funk, quebrado como Parliament e épico como Fela Kuti, não tinha paralelo na época e permanece atual. Para celebrá-lo, Byrne montou a banda Atomic Bomb (nome de um dos clássicos do africano), que inclui integrantes do Hot Chip, The Rapture e LCD Soundsystem, todos fãs dessa figura que não dá entrevistas e despreza o interesse do consumidor branco. Assim se cria um mito.
Sempre encantador
O Wilco já está por aí há 20 anos com uma regularidade impressionante. Primeiro misturando rock alternativo com country, depois evoluindo a ponto de não se prender a apenas um estilo, mas nunca diminuindo a qualidade. As duas décadas de carreira da banda americana são devidamente esquadrinhadas na compilação What’s Your 20? Essential Tracks 1994-2014. Em 38 faixas extraídas de seus oito discos, o CD duplo mostra por que o líder Jeff Tweedy deveria ser mais respeitado como um dos grandes artistas de sua geração.
Abaixo a monarquia
Um rei tem súditos. Roberto Carlos precisa de um amigo – daqueles que avisam quando o desodorante vence, há um tatu no nariz ou o cofrinho está aparecendo. Só a ausência de alguém por perto com essa liberdade explica a sucessão de micos envolvendo seu nome. Da censura da biografia ao bife publicitário, o cantor tem feito de tudo para passar à posteridade como um bundão. Duetos 2 vai por aí, trazendo os sucessos de sempre acompanhados por sumidades como MC Leozinho e Claudia Leitte. Nem a tia aguenta mais.
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