Malandro não para, malandro dá um tempo. No caso de Mano Brown, um período de quase uma década desde que surgiram os primeiros rumores sobre seu disco solo. A estreia do rapper longe dos parceiros do Racionais MC's vinha sendo propagada como uma imersão ao funk, soul e R&B que o encantavam nos anos 1970 e 1980. Quanto mais demorava para sair, maior a expectativa. Finalmente lançado nos estertores deste 2016 tão fora da curva, Boogie Naipe entrega o que o single “Mulher Elétrica” – também presente no álbum – já prometia em 2009. Bem ou mal, você nunca ouviu Brown falar dessas coisas desse jeito.
Malandro não conversa, malandro desenrola uma ideia. Para revisitar a sonoridade dos bailes black sem se tornar mero decalque, ele se cercou de representantes do suíngue de ontem e de hoje. Das antigas, vêm o soulman carioca Hyldon (na autoexplicativa “Foi num Baile Black”) e o produtor americano Leon Ware, que recorre à experiência adquirida nos estúdios da gravadora Motown para revestir com classe e elegância o embalo de “Felizes (Heart 2 Heart)”. Da atualidade, aparece gente como Seu Jorge (que empresta “Louis Lane”) e aquele que poderia dividir os créditos do disco, Lino Krizz, com seu falsete a afinar de “Gangsta Boogie” a “Flor do Gueto”.
Malandro não ama, malandro sente desejo. Aí, não. Um dos baratos de Boogie Naipe é justamente trazer Brown se despindo da marra para bancar o cantor romântico. Um pouco desengonçado, é verdade, mas não deixa de ser inusitado aquele vozeirão grave a empostar versos como “Quem levou a pior fui eu/ Um dia fomos um só/ Pensei que jogo louco é o amor/ Quem ama sai perdedor” (“Mal de Amor”). Embora calejado na escola das ruas, sua falta de traquejo com as armadilhas do coração só escancara aquilo que todo marmanjo deveria saber: mulher mete mais medo em homem do que qualquer bandido.
Oásis sônico
No deserto eletrossertanejo que virou a programação de final de ano em Florianópolis, a vinda de uma banda como Os Camelos parece uma miragem. O trio carioca desembarca na cidade com um oásis sônico de jazz, baião, maracatu, silêncio e poesia para matar a sede por música orgânica & instigante. A turnê começa no Taliesyn Rock Bar (dia 24) e prossegue no Natural Veggie Hostel (27 e 31), La Cave (28 e 29), Blue Bird (5 e 6 de janeiro) e Botequim Floripa (7). O “instrumental popular” do grupo – composto por baixo, sax e djembe – pode ser conferido no disco Ampulheta, disponível no Bandcamp para audição (gratuita) ou download (o preço que o usuário desejar, inclusive nada).
L ANÇAMENTOS
The Weeknd, Starboy – Queridinho da crítica, o canadense Abel Makkonen Tesfaye continua a ascendente trajetória ao estrelato que experimentou com “Can't Feel My Face”. Desta vez, para que mais pessoas descubram sua pegada à Michael Jackson e Prince, ele convocou Daft Punk (na faixa-título e em “I Feel it Coming”) e Kendrick Lamar (“Sidewalks”).
Pharrell Williams, Hidden Figures – Como fez em Meu Malvado Favorito, de onde saiu o hit “Happy”, o cantor estrela a trilha sonora de um filme (Estrelas Além do Tempo, no título em português) na qual só tem a ganhar. Se nada acontecer, carreira que segue. Se emplacar outro sucesso interplanetário, seu próximo disco já nasce fadado ao milhão.
(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)
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