20150213

Ser legal demais também atrapalha

Precisamos falar sobre Diogo Strausz. Produtor, compositor, multi-instrumentista, 25 anos. Elogiado pelos trabalhos com figuras da nova cena carioca como Mahmundi, João Capdeville e Alice Caymmi. Apontado por O Globo como um dos artistas para se prestar atenção em 2015. No começo deste ano, ele lançou o disco solo Spectrum Vol.1 – disponível gratuitamente em seu site. Cheio de participações especiais, o álbum reflete a pluralidade de estilos acumulada pelo rapaz.

Desculpe o recalque, mas tem alguma coisa nesse “ciclo virtuoso” que irrita.



Não há nenhum motivo para duvidar que Strausz está sendo verdadeiro na escolha de cada convidado, na definição de cada timbre, no cuidado com cada detalhe. É o mundo dele – o mundo das pessoas interessantes, das citações inteligentes, do bom gosto. Das guitarradas paraenses de “Chibom” ao samba melancólico de “Assombração” (com Danilo Caymmi), da frenética “Me Ama” (com Kassim) à “FCK” (com Apollo), tudo é maneiro, descolado, moderno.

A revista americana Spin o definiu como uma “colisão de tecnobrega com Aphex Twin, Tom Zé e um pouco do estilo da DFA [gravadora nova-iorquina, lar de LCD Soundsystem e The Rapture] na medida certa”. É tanta referência, tanto nome, tanta condição favorável, que os matizes black de “Narcissus” (com os gêmeos Keops e Raoni, da banda Medulla) e “Não Deixe de Alimentar” (com as cantoras Ledjane Motta e Maria Pia) ou a delicadeza de “Se Renda”, parceria de produtor com o pai, Leno (aquele mesmo da Jovem Guarda), quase passam despercebidos. Da próxima vez, Strausz, seja menos cool, por favor.

Hormônios em ebulição
A volta das Sleater-Kinney depois de 10 anos, com No Cities to Love, lembra outro trio de mulheres que está com um disquinho simpático na praça. É o Ex Hex, da guitarrista e vocalista Mary Timony (que toca com duas integrantes do Sleater-Kinney no grupo Wild Flag). A banda estreou no final do ano passado com o urgente Rips, uma coleção de 12 músicas que exalam o melhor dos Ramones – a vocação chicletuda por trás da tosqueira. Essa inclinação rende delícias como “Beast”, “How You Got that Girl” e “New Kid”, entre outras joias do power pop movido a progesterona no talo.



DATAS QUADRADAS ||||||| 27 ANOS
O QUÊ O fim da banda The Cars, anunciado em fevereiro de 1988, após 11 anos de carreira e seis álbuns de estúdio.
QUEM Grupo liderado pelo vocalista Ric Ocasek, nunca teve tanto prestígio quanto seus pares da new wave americana como Blondie ou B-52’s, mas forjou uma identidade própria e empilhou um sucesso atrás do outro.
POR QUÊ Sem influências intelectualoides, a única pretensão dos Cars era fazer pop para tocar na rádio. E conseguiam.
LEGADO “Just What I Needed”, “Best Friend’s Girl”, “You Might Think”, “Shake it Up”, “Drive”.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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