No país de Naldo, vale a pena conhecer Aldo. Como seu quase xará funkeiro, faz música para festa. Mas nasceu em São Paulo, canta em inglês e tem uma concepção de diversão que desce melhor com vodka do que com água de coco. Ah, e é uma banda. Após estrear em 2013 com um disco muitíssimo bem falado pelas poucas pessoas que o escutaram, o grupo chega ao segundo álbum, Giant Flea, credenciado a provocar ressacas ainda maiores – para orgulho do tio que levava os sobrinhos Murilo e André Faria a rolês pelo lado selvagem da rua Augusta.
Quando foram batizar sua empreitada sonora, os dois irmãos não tiveram dúvida: resolveram homenagear aquele com quem, a bordo de um Santanão vermelho, descobriram como a vida pode ser boa. Nascia Aldo The Band, movida pela eletrônica de Murilo (programação, sintetizadores, backing vocais e teclados) e pelo indie rock de André (baixo, guitarra e voz). Da combinação surgem batidas e distorções que alinham o grupo ao lado de LCD Soundsystem, !!!, Holy Ghost, Hot Chip e outros representantes atuais da música visceral para as pistas.
Logo nas duas primeiras faixas, Giant Flea já diz a que veio. A primeira, “2nd Hand Chest”, tem uma melodia que vai conquistando terreno de forma gradual. Na seguinte, “Liquid Metal”, ninguém mais fica parado. E assim transcorre o disco, alternando pop imediato (“Sunday Dust”, “Good Morning Pumpkin”) com convites irrecusáveis para os quadris (“Primate”, “Bluffing”). Pena que tio Aldo, o inspirador de tantas experiências, não curte mais esse tipo de apelo: aposentou-se da vida louca e virou evangélico. Pelo menos, abençoou os rapazes.
Rita em caixa
Até 2015 terminar deve ser lançada a caixa com a discografia de Rita Lee. Tomara que daí as Novas Gerações percebam a cantora com o devido interesse. A senhora excêntrica de hoje foi a maior roqueira do país, e só não permanece no posto porque tem coisas mais importantes com que se preocupar – como, por exemplo, cuidar do jardim. Dos 27 álbuns pós-Mutantes gravados por ela de 1970 a 2012, 20 foram remasterizados para a edição encaixotada. Entre eles constam os dois primeiros, ainda à sombra dos irmãos Arnaldo Baptista e Sergio Dias (Build up e Hoje É o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida), o mergulho no desbunde setentista com a banda Tutti Frutti (Atrás do Porto Tem uma Cidade, Fruto Proibido, Entradas e Bandeiras) e a rendição ao pop com Roberto de Carvalho (os álbuns em nome dela ou no do casal). Confira algumas pepitas do baú de Rita na playlist abaixo:
L ANÇAMENTOS
Templa, Abre – É um projeto paralelo de figurinhas carimbadas na cena musical de Florianópolis: Felipe Melo (guitarra e voz, Mafra + Melo), José Neto (baixo, Sum) e João Mateus da Rosa (bateria, Rafclif). O trio estreia com um single que, em meio à barafunda de estilos que domina a música atual, quer apenas ser pop – e consegue, com uma melodia gostosa que bebe da new wave dos anos 80 ao rock atual. Que venham as outras quatro, prometidas até a metade do ano que vem.
Jean-Michel Jarre, Electronica 1 – The Time Machine – Militante da eletrônica no tempo em que o gênero era revolucion, nada mais justo do que o francês também faturar agora que o estilo rivaliza com o sertanejo e o axé na preferência dos reis do camarote. Para quebrar o hiato de oito anos sem gravar, ele convocou uma seleção: Air, Vince Clarke (Depeche Mode), Moby, Tangerine Dream e 3D (Massive Attack), todos reverenciando o mestre de 67 anos. O volume 2 pinta em 2016.
(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)
Nenhum comentário:
Postar um comentário