Enquanto você lê estas mal-batucadas, é provável que o disco 25, de Adele, já tenha vendido mais algumas milhares de cópias. Lançado no dia 20, o terceiro álbum da cantora inglesa vem colecionando estatísticas superlativas. Na primeira semana, 3 milhões de exemplares foram comercializados nos Estados Unidos (o triplo da expectativa) e 737 mil na Inglaterra (superando o recorde de Be Here Now, do Oasis). Nos dois primeiros dias, o clipe de Hello foi assistido 1 milhão de vezes por hora e a música está em primeiro lugar nas paradas de 106 países.
Os resultados coroam o talento da moça e justificam o investimento na produção do trabalho, mas, sobretudo, mostram como o mundo anda careta & carente. O tal do 25 é mais chato do que hospedar parentes em casa durante um final de semana com chuva – e com criança pequena, ainda por cima. Tirando “Send My Love (To Your New Lover)”, que com muita boa vontade poderia ser uma sobra de estúdio de Amy Winehouse, as demais músicas não passam de baladas assépticas nas quais Adele se reafirma com sua voz de contralto. Na fossa ou numa boa, a deprê é a mesma.
Para satisfação do mercado, do empresário e dos outros elos da cadeia produtiva em torno da artista, até o nome do disco segue o padrão dos anteriores 19 e 21 – a idade dela quando escreveu as letras. Que eles se assanhem com os números, tudo bem; esse é o propósito. O que não dá para entender é o público embarcando nessa. Parece coisa de torcedor que, à falta de vitórias em campo, comemora verba de TV, média de público e pacotes do pay-per-view como gols do seu time. Assim é o fã de Adele: brande os resultados de 25 porque da música não há muito o que falar. E viva o efeito manada.
Legado grunge
Há 20 anos, o Silverchair surgiu com o disco Frogstomp e foi rapidamente assimilado como uma cópia de Pearl Jam. Com o devido distanciamento histórico, ficou evidente que ninguém defendeu o grunge com o empenho do trio. As bandas tradicionalmente associadas ao estilo – Nirvana, o próprio Pearl Jam e quejandos – partiram para outras direções, deixando de cheirar como espírito juvenil (pegou?). O Silverchair, não. Até hoje, marmanjos de todas as idades venderiam a alma ao diabo para emular o “som de Seattle” tão bem quanto os moleques australianos em sua estreia. A edição comemorativa da data vem com o CD original, outro com raridades e um DVD ao vivo. Para lembrar da época em que a gente acreditava que as camisas de flanela salvariam o mundo.
L ANÇAMENTOS
Antonio Rossa, O Próximo Passo – O catarinense Rossa é daqueles artistas que tentam dar dignidade ao pop. A despeito do baixo orçamento e do pouco reconhecimento, seu trabalho sempre trata bem a inteligência, apresentando capricho acima da média e acabamento profissional. Este single mantém o padrão, com um belo clipe gravado no Chile, Argentina e Brasil.
Silva, Júpiter – O capixaba Silva já tinha dado mostras de onde seria capaz de chegar com o single Noite, que nem a participação de Lulu Santos conseguiu estragar. Agora chega o disco inteiro e as notícias são cada vez melhores. A promessa dos dois álbuns anteriores se confirmou e, com batidas discretas, R&B de leve e letras espertas, ele está pronto para conquistar o lugar que merece.
(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)
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