20180915

Mergulhe no disco novo de Mahmundi para espantar dias ruins

A realidade deste jeito e Mahmundi chega com um disco chamado Para Dias Ruins. A tentação de relacionar o oportuno nome do segundo trabalho da carioca com a situação é grande. E precipitada também: não resiste a uma passeada pelas nove canções esparramadas em 32 minutos sobre sol, amanhecer, verão e outras manifestações trópico-sazonais invocadas pela cantautora para falar do que importa de verdade na vida (leia entrevista abaixo).

O som continua soprando aquela brisa fresca, sem o cheiro tão impregnado do pop dos anos 1980 revisitado que marcava a estreia. Embora nunca tenha rejeitado (nem alimentado) essa influência, Mahmundi a deixa fluir até se tornar quase indistinguível. No single "Qual É a Sua?", recorre a um reggaezinho. A baladona "Outono" evoca uma atmosfera meio bluesy. "Tempo pra Amar" cai no R&B. "As Voltas" e "Eu Quero Ser o Mar" saúdam o poente à beira da praia.

Está tudo muito bom, tudo muito bem com Mahmundi em se afastar do rótulo. Questão de gosto, mas neste cantinho infinitesimal do litoral internético o calor bate mais forte quando o álbum envereda sem pudores por levadas, timbres e efeitos da década em que a artista de 31 anos nasceu – primeiro com "Alegria", e, de forma mais literal, movida pela batida charm de "Imagem" e pela onda maneiríssima de "Vibra". Não há dia ruim que resista.



ENTREVISTA
| Mahmundi 

O nome do disco tem a ver com o contexto atual do país?
Arte é uma coisa muito doida porque cada um vê o que quer. Estes últimos dois anos foram superdifíceis, e é óbvio que isso tem a ver com o país e minha localização nesse cenário como indivíduo. Mas não é sobre o processo político, é sobre a atmosfera ao redor, independentemente da vida que a gente leva. É mais sobre como você lida com as suas coisas em dias ruins.

É seu primeiro lançamento por uma grande gravadora (Universal), mudou alguma coisa?
Não mudou nada, só tem um suporte maior de profissionais que me dão recursos financeiros para investir em uma obra.

Isso não é melhor?
Para mim, foi. Cada artista reage de uma forma, depende também do que ele espera de uma grande gravadora, se sucesso como compositor ou como intérprete. Sou produtora musical e já estava muito bem resolvida em relação ao que eu queria fazer.

O que você espera, então?
Como já falei, amplia a imprensa, o alcance aos veículos. Mas sempre vai partir do produto inicial, que é a música. Antes eu estava em uma carreira independente muito mais focada em minhas pesquisas, fazendo um disco para me desenvolver. Agora, em uma multinacional, eu dialogo com um mercado maior. Mesmo assim, depende do perfil de cada artista, de como se apresenta, de como quer ser trabalhado, ser visto. A gravadora me deu essa confiança e eu pude testar outras sonoridades.

Como você quer ser vista?
Já passei dessa fase. Na verdade, os 30 anos, a maturidade, dão uma oportunidade para você descobrir calmamente quem você pode ser, uma autoconfiança para você não querer ficar “printando” seu ego por aí. Sou muito consciente do que eu sou e quero fazer música boa. Quero que as pessoas ouçam e que esse trabalho se consolide pelas canções.

(coluna publicada ontem no Diário Catarinense)

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