20150116

Produtor deixa a sua marca



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

Saiu o primeiro grande disco de 2015. Chama-se Uptown Special, de Mark Ronson. O britânico despontou há nove anos, após produzir Amy Winehouse em Back to Black. Também já tabelou com Adele, Bruno Mars, Christina Aguilera e Paul McCartney, entre outros. Com tantos clientes ilustres, ele sempre teve mais sucesso com os serviços prestados a terceiros do que com os próprios lançamentos. Neste quarto álbum, porém, o produtor reservou o melhor de sua expertise em pop para si mesmo, ainda que permaneça desconhecido.

Um exemplo disso está em “Uptown Funk”, o single que apresentou o álbum. A maioria dos ouvintes pensa que o groove racha-assoalho é de Mars, o cantor que personifica a música. Mas o havaiano é só mais um participante de uma lista que inclui Stevie Wonder e Andrew Wiatt (do grupo sueco Miike Snow), juntos em “Uptown’s First Finale” e em “Crack of the Pearl”, e o rapper Mystical, que imita James Brown em “Feel Right”. “Disco de produtor” é assim: depende dos convidados para chamar a atenção e/ou emprestar o caráter que o anfitrião vislumbra para a canção.

Nesse sentido, nada surpreende mais do que as presenças de Michael Chabon e Kevin Parker. O primeiro, autor de livros como Garotos Perdidos e As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay, assina mais da metade das letras. O outro é o líder da banda australiana Tame Impala, o que já denuncia muito das intenções de Ronson de evocar uma sonoridade setentista e psicodélica. Com seu falsete abafado, Parker confere a “Daffodils”, “Summer Breaking” e “Leaving Los Feliz” um astral adocicado inédito na obra do produtor. Só tome cuidado para não viciar.

Animação exagerada
Sem lançar nada desde 2010, no ano passado o Belle and Sebastian sinalizou que voltaria mais “festivo” com a música “The Party Line”. Em seu nono disco, Girls in Peacetime Want to Dance, a banda se aventura até pela pista, com resultados lamentáveis como “Enter Sylvia Plath” – cujo dance farofa é um insulto à poetisa que se suicidou em 1963. Felizmente para os fãs, o pop retrô, meigo e melancólico que botou os escoceses no coração dos indies entre 1996 e 2000 domina “Ever Had a Little Faith e “Allie. É o tal negócio: cachorro velho não aprende truque novo.



Dance em paz
Esta coluna não poderia terminar sem lamentar a morte de Lincoln Olivetti, aos 60 anos, na última terça-feira. Instrumentista, produtor e arranjador de mão cheia, ele está por trás de clássicos do pop nacional, como “Baila Comigo” (Rita Lee), “Eu e Você, Você e Eu” (Tim Maia), “Palco” (Gilberto Gil) ou “Babilônia Rock” (que lançou em dupla com Robson Jorge). Olivetti partiu sem perdoar a imprensa, que o acusava de “pasteurizar” a MPB com seus sintetizadores. O tempo mostrou quem tinha razão.

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