Muita gente [ninguém] me pergunta por que fiquei tanto tempo sem aparecer por aqui. A resposta oscila conforme minha disposição para falar sozinho. Já aleguei que me afastei para poupar a leitora do meu azedume. Depois, admiti que era apenas preguiça. Entretanto, a verdadeira justificativa para eu interromper este monólogo semanal foi uma só: dinheiro. Ou, para ser mais exato, a falta dele.
As pessoas escrevem pelos mais variados motivos. Para se comunicar. Para contar uma história. Para registrar. Para encontrar um propósito. E para tirar onda também. “Escrevo exclusivamente para descobrir o que estou pensando, o que estou observando, o que eu vejo e o que isso significa. O que eu quero e o que eu temo”, como mente Joan Didion no livro Vou te Dizer o que Penso.
Escrevo porque é a única qualificação pela qual consigo fazer com que me paguem – até me viro no fogão, mas se eu cozinho, eu como [tio do pavê manda lembranças]. A musa inspiradora é o prazo, o estímulo é a notificação no celular avisando que caiu o pix, a recompensa é poder bancar pequenos vícios. Em vez de paixão, praticidade: trabalho é ganha-pão, realização é bônus incerto & não esperado.
De modo que a combinação da necessidade de sobrevivência com a miragem da mobilidade social me forçou a tirar um ano black sabático – ou seja, contra a minha vontade – de distrações gratuitas para me dedicar a atividades remuneradas. Além disso, esta plataforma adotou uma série de inovações em nome da tal da monetização que me deu um bode danado de continuar nela.
Agora tem aplicativo, chat, seguidores e uma barra de rolagem de postagens que a tornam muito parecida com qualquer brinquedinho online de bilionário reaça, quando o encanto era justamente o fato de distribuir conteúdo [argh] somente por email. Assinou, recebeu, ponto. Como tudo na internet, começou bacana e se rendeu ao mercantilismo. Se nem almoço existe grátis, que dirá newsletter.
A mesma gente do primeiro parágrafo [ninguém] me pergunta então por que, se dinheiro é prioridade e a ferramenta mudou para pior, voltei a publicar. Já aleguei que me organizei para conciliar o sustento com o lazer. Depois, admiti que era apenas saudade. Entretanto, a verdadeira justificativa para eu retomar este monólogo semanal foi uma só: há duas coisas que eu faço bem, baby. E escrever é a segunda.
(Publicado originalmente na newsletter Extrato)
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