O ano mal raiou no horizonte e um monte de lançamentos já se insinuam com a promessa da Boa Nova. Mas The xx, Sampha, Lambchop, Foxygen e outros quitutes serão degustados com a devida atenção no tempo apropriado. O que não dá mais para continuar fingindo é que um dos grandes discos de 2016 passou batido por esta coluna – e, provavelmente, por você também. Desde que saiu, em outubro, Pineal, o segundo álbum da banda pernambucana Tagore, fica melhor a cada audição.
Em uma palavra, a definição para o som do grupo seria psicodélico. A influência principal é tão evidente que uma das canções chama-se “Apocalipse Jeans”, referência escancarada a “Apocalypse Dreams”, do Tame Impala. No entanto, reduzi-lo a uma versão agreste dos australianos não contempla todas as vibrações emanadas pelo Tagore. Por trás de delírios lisérgicos como “Ilha Yoshimi” ou “Cabelo” há uma rica tradição de nordestinos loucos, de Ave Sangria a Alceu Valença.
E tem a diferença fundamental: uma dose de brega que entra na equação como elemento pop. Os gringos podem encher a cabeça do que for que nunca conseguirão reproduzir essa estética com tanta fidelidade nem com tanto apelo popular. Não é preciso nenhum conhecimento prévio ou gosto adquirido para “entender” a faixa-título, “Mudo” ou “Mar Alado”. O que as letras não explicam, a música – envolvente, densa, terna – resolve. Pare de ler isso e vá o quanto antes descobrir, como sugere a magistral “Reflexo”, “de onde vem essa vontade”.
Monte de versões
O músico, multi-instrumentista e produtor capixaba com o mais brasileiro dos sobrenomes segue sua caminhada lenta, segura e gradual rumo ao mainstream com Silva Canta Marisa. Se os três discos anteriores (o mais recente, Júpiter, é de 2015) já mostraram seu potencial e lhe renderam trabalhos com Lulu Santos e Fernanda Takai, neste ele se debruça sobre o repertório de Marisa Monte. Ambos se conheceram há dois anos e já compuseram juntos – a inédita “Noturno (Nada de Novo na Noite)” é fruto da parceria e tem participação da própria. Hits da cantora, como “Ainda Lembro”, “Não É Fácil” e “Beija Eu”, também aparecem em versões reverentes ou um tanto desvirtuadas.
L ANÇAMENTOS
Flaming Lips, Oczy Mlody – A banda de Oklahoma desfila sua habitual estranheza em mais um disco, o 14º de uma trajetória pontuada por muita rebordosa em nome da experimentação. Quem tiver disposição para relevar excessos do passado e encarar a viagem da vez vai perceber que o negócio está mais contido. Nem por isso, menos torto.
Blitz, Aventuras II – Em 1982, As Aventuras da Blitz abriu as portas do mercado para o incipiente pop rock nacional. Hoje, por mais que traga convidados da época (Frejat, Paralamas, George Israel) e novos parceiros como Seu Jorge e Andreas Kisser, o maior feito do segundo volume é revelar que a banda ainda existe.
(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)
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