Ti.Po.Ta é, literalmente, nada. Tudo. Um vírus. A cura. Um diplodoco (espécie de dinossauro) vindo do centro da Terra, comendo flores do seu jardim. Um alien. É, também, um acrônimo para transe indie, progressiv organik e trash amor. A definição (?) aparece no site de Manu Chao para explicar (?!) o projeto em parceria com a atriz grega Klelia Renesi, seu primeiro registro inédito desde La Radiolina, de 2007. São apenas três faixas – uma creditada à dupla, duas ao franco-espanhol, todas disponíveis para download gratuito –, mas não deixam de representar um alento em dias tão estranhos.
A tal canção, “Moonlight Avenue”, exprime aquela melancolia típica de Manu Chao, independentemente do estilo adotado. Pode ser uma balada, um ritmo étnico, um reggaezinho caipira; o clima sempre é de tristeza maleza, de malegria. As demais vão pelo mesmo caminho. “No Solo en China Hay Futuro”, mais tradicionalista, alude ao pensamento único que leva a conclusões tão equivocadas. A outra, “Words of Truth”, reveste-se de significado extra diante da inclusão de expressões como “pós-verdade” ou “fatos alternativos” no noticiário.
É emblemático Manu Chao reaparecer justamente nesta época de retrocesso e medo. Ex-líder da politizada banda Mano Negra entre os anos 1980 e 1990, viveu o auge na virada do século, quando já em carreira solo festejava a possibilidade de uma realidade menos injusta em fóruns sociais mundiais. Com o naufrágio do sonho, ele continuou fazendo shows e abraçando causas – a mais recente é a participação em um disco contra a tecnologia transgênica da Monsanto. Seu retorno, via Ti.Po.Ta ou do jeito que for, é mais do que necessário.
Traidor do movimento
Sucesso na década de 1990, o Molejo tinha uma gaiatice que o fazia se distinguir no pagode pasteurizado de então. Para tristeza do público infantil, o disco Molejo Club evidencia que boa parte da espontaneidade foi embora junto com o sorriso irregular do vocalista Anderson Leonardo. Apesar da zoeira generalizada, o primeiro lançamento desde Voltei (2010) recorre a arrocha (“Desculpe por Tudo”) e ostentação (“Incendiou”), ciladas nas quais a banda não caía em cilada e tudo o que queria era apenas (se) divertir com brincadeira de criança.
L ANÇAMENTOS
Foxygen, Hang – A dupla californiana esbanja no quinto disco, gravado com a presença de uma orquestra de 40 integrantes no estúdio. O acompanhamento luxuoso produz uma sonoridade que lembra Bowie fase Young Americans e soft rock da década de 1970 em “Follow the Leader” e “America”.
Felipe S, Cabeça de Felipe – Vocalista do Mombojó, o pernambucano sai solo com pretensões menos cabeçudas do que na banda-mãe, como no samba “Santo Forte” e na afro “Calçada Proibida”. Mas, para não perder o costume, “Fio Tigre Palhaço” desafia o ouvinte com suas experimentações.
(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)
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