Parecia uma segunda-feira como outra qualquer. Os pássaros defecavam em cima das roupas penduradas no varal, a conexão com a internet rodava em velocidade inferior à paga para a empresa provedora, o barulho de obra de algum vizinho ecoava desde cedo. Mas aconteceu o que os guerreiros da liberdade mais temiam e no dia seguinte à posse de Lula o Brasil já era oficialmente um país comunista.
Os sinais do novo regime estavam por toda parte. Tomates, maçãs, morangos; o rótulo da Coca-Cola, a luz de “pare” no semáforo, a cruz nas ambulâncias; até os extintores de incêndio haviam amanhecido pintados de vermelho. Sequer a bandeira do desenvolvido estado de Santa Catarina escapara da ditadura cromática, ganhando duas faixas rubras sob seu tradicional losango esmeraldino.
Nem nos meus piores pesadelos eu imaginaria uma revolução tão imediata e radical. O currículo do ensino fundamental se limitava a introdução à maconha, aborto sem mestre e homossexualidade prática. As universidades ensinavam táticas de guerrilha, manipulação da opinião pública e orgias cidadãs. Nas bibliotecas, os únicos livros permitidos eram as edições encadernadas dos discursos presidenciais.
Shoppings e igrejas foram transformados em centros de formação de lideranças proletárias. Na TV, a programação do canal que restou se revezava entre assembleias gerais dos sindicatos da classe operária e pornografia infantil softcore. Os aplicativos de entrega de comida ofereciam apenas cachorro e criança como opções de proteína animal. Para os vegetarianos, soja plantada pelos sem-terra.
A prometida picanha só podia ser adquirida por sorteios promovidos pela Churrascobrás, a estatal criada para monopolizar o corte. Enfim, dos costumes à economia, não houve um aspecto do cotidiano imune ao controle do governo, que regulamentou inclusive os nomes disponíveis para os brasileiros que ainda nasceriam: Luizinácio, Dirceu e Fidel para os meninos e Fazoele, Dilma e Pablo para as meninas.
É, eu devia ter prestado mais atenção nos avisos do grupo da família.
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