20140822

Tudo bem e sem razão

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

O rock nacional tem suas tradições. Uma delas é a as bandas nunca acabarem em definitivo. Não seria o Ira! que quebraria a escrita. O grupo passa por Santa Catarina neste final de semana com a turnê que marca sua volta após o conturbado rompimento, em 2007. Da formação original, sobraram apenas o vocalista Nasi e o guitarrista Edgar Scandurra. É o que resta e o que basta para que os shows de hoje em Joinville, amanhã em Indaial e domingo em Florianópolis tragam consigo muitas virtudes. Nenhuma musical.

O retorno aos palcos impôs uma mudança de comportamento aos envolvidos. Longe da droga que o estava destruindo, o cantor reconciliou-se com o irmão Airton Valadão Jr. – por acaso também empresário do grupo – e com o velho parceiro. Pode-se duvidar da sinceridade dos atos, mas não de sua validade. Às vezes tudo bem, às vezes sem razão, vencer o vício, tolerar as diferenças e perdoar são maiores do que “ABCD”, a única canção inédita que integra o repertório.

Quando separados, os remanescentes do atual quinteto ficaram tentando se satisfazer com outros sons, outras batidas, outras pulsações. Nasi vasculhou o passado com os Irmãos do Blues, Scandurra viu futuro na eletrônica. O presente é desfilar os hits de sua carreira conjunta em 200 shows até 2015, culminando com um obrigatório CD/DVD ao vivo. Se tudo der certo, o Ira! vira o Capital Inicial e obtém mais sucesso agora do que em sua encarnação anterior. O próximo passo é um dos dois se tornar jurado do SuperStar.

Mutantes encaixotados
Quem também está voltando são os Mutantes. Pelo menos às lojas, com uma caixa reunindo os discos de sua fase clássica – os cinco primeiros mais o póstumo Tecnicolor, todos gravados entre 1968 e 1972, ainda com Rita Lee a bordo –, além da compilação Mande Um Abraço Pra Velha. Essa última contém faixas extraídas de festivais e de participações em álbuns de outros artistas, nada muito significativo. De qualquer maneira, sempre é hora de apreciar a maior banda brasileira de todos os tempos.



ABBA para hipsters
Abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia e leve com você Impressions, do Music Go Music. Em seu terceiro disco, o trio de Los Angeles consolida-se como o ABBA de sua geração com “Nite After Nite”, “Inferno” e “People All Over The World”, que não fariam feio se entoadas pela matriz sueca nas pistas mundiais durante a virada dos anos 1970 para os 1980. Tudo livre, leve e solto, como devem ser os sonhos mais loucos.

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