(Nesta quarta, dia 3, começa a série de comemorações pelos dez anos do trio Skrotes. A programação inclui exposição, ensaios abertos, show, exibição de filme e sessões de descarrego em geral no CIC, em Florianópolis, até 25 de setembro. Fui um dos convidados a escrever sobre a efeméride. Saiu isso.)
A ideia de abrir a cabeça para tratar distúrbios mentais remonta a tempos imemoriais. Há referências a essa prática em pinturas rupestres da era neolítica, uns 7 mil anos atrás, e na Idade Média curandeiros não apenas receitavam a remoção de partes do crânio que estariam causando desequilíbrios psíquicos como asseguravam que os pedaços retirados funcionavam como amuletos contra o mau-olhado.
Nos estertores do século XV, o holandês Hieronymus Bosch pintou o que batizou de A Extração da Pedra da Loucura. O quadro mostra um pobre coitado sendo submetido a uma trepanação – a perfuração da caixa craniana por um trépano, instrumento cirúrgico parecido com uma furadeira. De lá para cá, a despeito da evolução da ciência, os apetrechos usados em casos semelhantes permaneceram os mesmos: uma broca e uma serra.
Até os Skrotes surgirem com uma abordagem completamente inovadora & revolucionária.
Com exceção da premissa básica – abrir a cabeça –, o trio florianopolitano investiu na direção inversa. Para começo de conversa, os instrumentos adotados foram baixo, teclado e bateria, ensaiando um tipo de procedimento invasivo que, sem a necessidade de cortes, anestesia e muito menos assepsia, causa efeitos extrassensoriais com duração perene e aleatória. É como instalar um caleidoscópio na massa cinzenta.
O grande achado da banda, porém, foi a mudança radical da finalidade do processo: em vez de extrair a loucura de alguém, a proposta era acentuá-la. Em dosagens diferentes, junto ou misturado, o grupo pôs-se a combinar erudição & psicodelia, rigor & improviso, minimalismo & saturação. Afinal, quem precisa de rótulo é remédio. Os resultados iniciais foram animadores. E hoje, passados dez anos de sua aplicação pioneira, ainda são.
Mas atenção: esse tratamento sempre estará em fase experimental.
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