20210720

Os embaraços de sábado à noite



Antes mesmo de ouvir os Dee Gees, já fazia caras e bocas mentais de descontentamento quando me ocorreu o seguinte: o xarope sou eu. Imagina se, no lugar de Dave Grohl, eu ia me alugar com isso! Mas Grohl é um cara legal que tem tempo, saco e dinheiro para realizar suas vontades – e a vontade da vez é travestir os seus Foo Fighters à imagem e semelhança dos Bee Gees. Com disco e tudo, Hail Satin.

Não sei de onde vem o ranço. No lançamento dos Foo Fighters, em 1995, escrevi que desde Seu Espião, do Kid Abelha, uma estreia não continha tantos hits. Talvez seja porque daí em diante eles foram virando a banda de rock oficial de quem não gosta de rock, como uma espécie de cota em playlists e premiações caretas. Ou porque Grohl está por aí há tantos anos que deixou de ser conhecido como ex-baterista do Nirvana: sua longevidade e a ignorância de seus fãs atuais atestam minha velhice.

Seja o que for, tem mais a ver comigo do que com ele ou a banda. E com a música? Hail Satin traz cinco versões fiéis de sucessos do trio australiano, aquele astral de discoteca e tal. Como tributo, sempre interessa mais a quem homenageia do que ao homenageado. Como ironia, é escudo fácil para não correr risco nenhum. De qualquer forma, Grohl se divertiu muito mais gravando do que você ouvindo e já deve estar em outra. Que é para onde vou, aliás.