20080229

Você também perdeu um tempo danado por nada

Nunca houve em Santa Catarina um julgamento como o do caso “Bruni X Bono”, realizado entre os dias 27 e 28 em Balneário Camboriú. De um lado, um empresário disposto a ir às últimas conseqüências para recuperar sua honra. De outro, um popstar associado a causas humanitário-messiânicas e a óculos escuros. Entre um e outro, um batalhão de ADEVOGADOS. E, em volta deles, a maior concentração de estudantes de Direito que a cidade onde as ruas não têm nome já presenciou. Foi um show.


A partir do momento em que o café esfriou, acabaram as coxinhas e a juíza Dayse Herget de Oliveira Marinho mandou a audiência moderar o linguajar, teve de tudo. O litígio de abertura – um repórter investigativo cobrando ressarcimento do plano de saúde por uma cirurgia de retirada de câmera do reto, fragorosamente derrotado sob a alegação de que “intervenções estéticas não são cobertas” – deixou o público em ponto de bala para o processo principal. Efetuada a troca de togas, o autor da ação indenizatória contra o vocalista do U2 começou a representação.


Franco, Bruni disse que se sentia como um homem traído com um beijo. Ele lembrou que só decidiu empenhar seu patrimônio e sua reputação para trazer a banda pela primeira vez ao país, em 1998, porque era fã do grupo. “Tanto que a quantia que estou pedindo para reparar minhas perdas e danos é influenciada por ‘40’, uma das músicas mais bonitas do cancioneiro anglo-saxão”, explicou, referindo-se à última faixa do disco War, de 1983. “O que fizeram comigo não se faz nem com a Britney Spears”, comparou.


Brandindo vários recortes do jornal O Globo datados de novembro de 2000, o promotor de eventos apontou diversos indícios do que seria uma ação orquestrada para desmoralizá-lo perante o governo catarinense. As reportagens falam sobre a vinda do quarteto ao Brasil naquela época para compensar os tumultos ocorridos na turnê anterior, da qual Bruni era o responsável. Provocados, Bono e o baterista Larry Mullen o chamam de “rebotalho” e “proxeneta”. As rimas inflamaram o público.


“Essas difamações arruinaram minha participação na concorrência para organizar as festividades alusivas aos 500 anos de São Francisco do Sul em 2004”, lamentou o empresário. “E ainda erraram a minha idade em todas as matérias”, exaltou-se, para gáudio da oposição. Por fim, Bruni apelou para a emoção. Com a voz embargada, revelou que sua escola de inglês em Balneário Camboriú, a ShamROCK (“a única com sotaque de Dublin”), passa por dificuldades. “Os alunos não conseguem chegar a tempo nas aulas por causa do trânsito”. Depois dessa, mais não disse nem lhe foi perguntado.


O próximo passo do processo prevê a defesa do réu via carta rogatória – requerimento expedido pelo magistrado à autoridade judiciária de outro país para cumprimento de atos processuais em território estrangeiro. O recurso não significa que a situação esteja perto de um desfecho: segundo um estagiário da Ordem dos Abacates do Brasil, uma brecha na justiça irlandesa permite que casos tramitados em anos bissextos sejam analisados somente em anos bissextos. Então, até 2012.

20080228

Origami genital

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Não me pergunte o que eu estava procurando para acabar aqui. Ainda estou em dúvida sobre o que acho mais [pigarro] gozado: a [pigarro] introdução, as instruções (a maioria começa com “take one penis”) ou o desenho com a aplicação prática do bagulho. No ato, lembrei que também conheço alguns truques, só que explorando mais o potencial erógeno de uma zona incompreendida e muitas vezes injustiçada do aparelho reprodutor masculino. O material didático foi publicado no zine Tarja Preta e também continha ilustrações com o passo-a-passo da coisa, como demonstra somente o texto (maldito escâner da HP!) a seguir:

O saco, esse escroto

Óculos Árabes
1. Peça para a parceira deitar e fechar os olhos.
2. Coloque seus testículos sobre eles (um em cada).
3. Peça para ela começar a piscar incessantemente.
O vaivém dos cílios sobre a parte enrugada estimula o chakra principal, liberando toda a energia kundalini.

Tea Bag
1. Coloque a parceira sentada em uma cadeira.
2. Peça para ela inclinar a cabeça para trás e abrir a boca.
3. De pé, aproxime-se por trás e flexione os joelhos até o saco desaparecer na boca da parceira.
O calor da saliva, aliado ao esforço físico, desperta a produção de serotonina no cérebro, provocando uma sensação de prazer.

Quebra-Nozes
1. Peça para a parceira deitar e abrir os braços.
2. Em uma das axilas, aninhe o testículo de sua preferência (ou ambos).
3. Mande a parceira fechar o braço e começar a contrair os músculos da região moderadamente.
A pressão sobre o(s) testículo(s) provocará uma experiência semelhante à quase-morte, resultando em um orgasmo instantâneo.

20080227

Foi hoje?!?!

Ou não?

Um Estado onde a mídia diz uma coisa e o Judiciário, outra, está fadado a grandes realizações. Como, por exemplo, promover o livre-arbítrio entre seus concidadãos.

Vou apurar com minhas fontes para descobrir quem está mentindo menos nesta história.

Meu palpite: ninguém presta.

Irei



Antes de entortar a pista do Drakkar Fusion, Matias estará na livraria Saraiva do Shopping Iguatemi a partir das 20h 19h como convidado do Lero-Lero Musical. O jornalista, DJ, tradutor, agitador, intelectual orgânico (e, eventualmente, químico) e-outras-profissões-que-não-precisam-de-diploma vai falar da convergência entre música e tecnologia – e o que você tem a ver com isso. A entrada é franca e quem não aparecer será automaticamente transformado em alvo de fofoca dos presentes.


Quero reclamar da postagem indiscriminada e perguntar o que o levou a recusar o convite de Gilberto Gil para assumir uma cadeira na recém-abortada Agência Nacional de Inteligência Nada Artificial (Anita). Conforme a resposta, denuncio seus plágios ali mesmo no local. Comigo é assim: escreveu no léu, pão com mel.

20080226

Comércio aproveita exposição do caso na mídia para faturar

A menos de 48 horas para o grande julgamento, é nítido o cansaço de todas as partes interessadas. Tudo o que poderia ser dito, escrito e filmado sobre o acusador, os réus, os magistrados e o público já foi feito pelos jornalistas do mundo inteiro que invadiram a cidade onde as ruas não têm nome. Ou melhor, quase tudo: está escapando da avalanche midiática a verdadeira indústria montada pelos estafetas da banda irlandesa para explorar o xpetáclo.

Vai longe o tempo em que os fãs dos ADEVOGADOS do grupo contentavam-se com a linha de biscoitos desenvolvida pelo vocalista para matar o tédio e aquela fominha fora de hora. Nos arredores do tribunal, ainda se consegue encontrar um ou outro estudante de Direito quebrando a cabeça com o sodukU2, o jogo de raciocínio e lógica do quarteto irlandês. Incautos, ignoram que por trás no inocente passatempo reside uma insidiosa conspiração.

Segundo o porta-voz da Ordem dos Abacates do Brasil, o passatempo é a ponta de lança do lançamento das lojas U2,99 no litoral catarinense. Nelas, além de bugigangas a preços populares, serão comercializados produtos mais sofisticados, que ultrapassam a cotação dos três dígitos. Como o notebook exclusivo da banda, o único capaz de acessar o U2be, o site que permite carregar, assistir e compartilhar vídeos de Bono e seus apaniguados.

A expectativa é de que um dos vídeos mais acessados seja o de MallU2 Magalhães, a adolescente descoberta pelo vocalista no programa Altas Horas (cuja audiência em Dublin é altíssima por causa do fuso-horário). Ele ficou encantado com a pureza, a doçura e, até, com o sex appeal da lolita. Mas o que o deixou realmente embasbacado foi a canção “U-tchu Baruba”, na qual ela homenageia de forma onomatopaica a banda retratada nos pôsteres que abarrotavam as paredes de seu quarto de menina-moça.

De onde viemos, para onde vamos e por que não pagamos

Carmelo Maia anunciou, Gustavo Zé Pereira encontrou, Ulysses Dutra espalhou e eu nem tive de subir lá no alto para ouvir o que seria o terceiro volume de Tim Maia Racional. O filho do artista contou que havia 12 músicas inéditas da inspirada fase fanática do pai, acenando com a po$$iblidade de lançá-las em disco. Para de$gosto do herdeiro, na rede estão disponíveis cinco delas. Há duas hipóteses para o seu não aproveitamento na época:

a) São sobras dos dois primeiros álbuns;

b) Tim Maia desencantou-se, vetando o LP seguinte da série.

Qualquer uma dessas razões – ou ambas, já que não são excludentes – justifica o fato de estas canções terem permanecido no limbo até hoje.

20080225

Vale tudo para impedir que a verdade venha à tona

Mal raiou o primeiro dia útil da semana derradeira para o futuro do U2 em Santa Catarina e a comunidade pop barriga-verde foi surpreendida pela decisão do tribunal de suspender o processo contra o vocalista Bono Vox e o baterista Larry Mullen. Os magistrados acataram o argumento apresentado pelos ADEVOGADOS dos réus, exigindo a inclusão dos outros dois integrantes do grupo irlandês, Edge e Adam Clayton, nos autos. O julgamento não subiu no telhado, mas as oitivas começarão da estaca zero novamente.

Um clima denso marcou a sessão, envolta pela espessa névoa que fundamentou os raciocínios dos causídicos de ambos os lados. O golpe calou fundo no autor da representação contra os músicos do U2: embora tenha ficado acertado que não será necessário ingressar com uma nova ação, a tribunal deixou claro que não basta ser franco, tem de ser bruni. Como a resolução faz o processo voltar à fase de citação dos implicados, o quarteto ganha tempo para tentar mudar os rumos do julgamento. Se nada disso funcionar, especula-se que a próxima investida será prometer carro novo para todos os catarinenses.

O suposto risco de punir o guitarrista e o baixista do quarteto sem que esses tivessem a oportunidade de se manifestar caiu como uma bomba na suntuosa e nababesca sede catarinense da Ordem dos Abacates do Brasil. A entidade lembrou que a própria legislação descartava a necessidade de arrolar os outros dois integrantes nos autos do processo, alertando sobre um eventual conflito com sentenças anteriores, nas quais os envolvidos indiretamente na contenda foram processados sem apelação.

De nada adiantou, porém, o jus esperneandi (figura jurídica que significa o “direito de espernear”). A anexação da defesa de Edge e Clayton revelou-se um pretexto incontestável a serviço da salvação do U2. Depois dessa, é leviano prever quanto tempo o processo ainda pode durar, a despeito do mau cheiro que já está exalando. Diz um velho aforismo do Direito que, contra flatos, não cabem argumentos. No entanto, é certo também que, sem abacate, não há Justiça. E, sem Justiça, não há guacamole.

20080224

E no domingo, satisfeito com sua criação, Bono descansou

Quatro são os elementos da natureza, as estações do ano, os pilares da cultura hip-hop, as vezes que Lula teve de se candidatar à Presidência para se eleger. Os Beatles, os naipes do baralho, os cavaleiros do apocalipse, os rostos esculpidos no monte Rushmore. Os pontos cardeais, os fases da lua, os anos em que o U2 está sem lançar disco inédito, os indiciados no processo. Quatro são, ora veja, os títulos conquistados pelo imortal na Copa do Brasil.

20080223

Exigências impressionam pela simplicidade e desapego

Desde que o Van Halen elevou as exigências de camarim ao status de arte e, anos depois, os roqueiros silvícolas consagraram o Toddynho, não há evento pop que não revele ao público os pedidos dos artistas. Em um rasgo de reportagem, conseguimos a lista de produtos e serviços que os ADEVOGADOS do U2 esperam encontrar em seus gabinetes antes do grande julgamento. Confira:

- 2 (duas) garrafas de champagne Veuve Clicquot

- 2 (duas) garrafas de vodka Absolut

- 2 (duas) garrafas de uísque Johnny Walker (Red ou Black Label)

- 36 (trinta e seis) latas de cerveja (qualquer uma, menos Nova Schin e Kaiser)

- 24 (vinte e quatro) latas de Red Bull

- 24 (vinte e quatro) latas de Coca-Cola Zero

- 20 (vinte) garrafas de Gatorade (somente laranja)

- 12 (doze) unidades de iogurte funcional

- 8 (oito) unidades de Danoninho

- 100 (cem) unidades de sushis e sashimis (salmão, atum, camarão, robalo, polvo)

- 4 (quatro) sanduíches de metro (queijo com tomate seco; queijo, peito de peru e salada; queijo, salame e salada; queijo e salada sem maionese)

- 1 (uma) tábua de queijos variados (provolone, gorgonzola, ementhal, brie)

- 1 (uma) cesta de pães variados

- 1 (uma) cesta de frutas tropicais

- Chocolates variados (exceto chocolate branco)

- 1 (uma) torta (chocolate, floresta negra ou prestígio)

- 4 (quatro) pacotes de salgadinhos Elma Chips (cheetos, fandangos, pingo d’ouro, porcaritos)

- 2 (duas) latas de batatas (Pringles)

- 1 (uma) sanduicheira elétrica

- 1 (um) espelho de corpo inteiro

- 10 (dez) toalhas de rosto (novas)

- 1 (um) ou + (mais) banheiros limpos com as torneiras e descargas funcionando e com os tampos nas privadas, além de sabonete e toalhas

- 2 (duas) vasilhas plásticas tipo tapué com tampa, nos tamanhos médio e grande

- 8 (oito) pastilhas azuis em forma de losango

- 6 (seis) envelopes de camisinhas (Olla)

- 2 (dois) potes de lubrificante íntimo

- 1 (um) veículo modelo popular blindado (Audi)

- 2 (dois) i-Pods com os discursos do senador Mão Santa gravados

- 1 (um) dicionário de citações latinas

- 3 (três) anãs búlgaras

- 1 (um) espanador de pó

- 4 (quatro) ingressos VIP para quinta-feira no Liberty Club

- 1 (uma) assinatura semestral da revista Veja

- 1 (um) segurança na porta do camarim

Obs.:

- Todos os itens acima deverão estar embalados em filme plástico (Magipack)

- O camarim deverá estar pronto no mínimo 4 (quatro) horas antes do julgamento

- Um dos integrantes da banca é vegetariano e outros dois não comem carne vermelha

- Um dos integrantes da banca é ex-alcoólatra; não colocar bebidas perto dele

- Quaisquer alterações a respeito das marcas e produtos solicitados devem ser comunicadas à produção no mínimo 72 (setenta e duas) horas antes do julgamento

Veja mais exigências modestas aqui.

20080222

Réus adotam manobra diversionista para desmontar o processo

Vale tudo para desviar o foco do grande julgamento. Orientados pelos seus ADEVOGADOS, Bono Vox e Larry Mullen geraram uma série de factóides nos últimos dias. Carece de fundamento a notícia de que eles estariam por trás da renúncia de Fidel Castro, mas está confirmado que o vocalista andou falando do novo disco da banda. O material gravado em sessões na França e no Marrocos foi descrito em Dublin com expressões desencontradas como “radical e intransigente”, “influências trance”, “guitarras hardcore”, “mesma vibe do tempo do Achtung Baby”. Em chamas, Bono chamou-o também de “grande álbum de rock’n’roll” na premiére de U2 3D, uma experiência visual eletrizante filmada na América do Sul durante a turnê Vertigo.

A manobra diversionista dos réus não passou despercebida pela Ordem dos Abacates do Brasil. Em reação, a seccional regional da instituição expediu um ofício para a Irlanda salientando que, em Santa Catarina assim como em todo o país, “a Justiça é acelga”. “Portanto”, continua o documento, “requere-se o envio imediato de 7 (sete) óculos modelo ‘terceira dimensão’, com lentes azul e vermelha, que permitam aos membros deste tribunal o completo usufruto do filme do U2”.

Oh cidade tão gostosa, lá onde mora o meu amor

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Depois do Rio (Jano), Belo Horizonte (Miguelanxo Prado), Curitiba (Cesar Lobo), Salvador (Marcelo Quintanilha), Belém (Jean-Claude Denis), Cidades do Ouro (Lelis) e São Paulo (David Lloyd), chegou a vez de Florianópolis ser retratada pela coleção Cidades Ilustradas. O volume dedicado à ilha, de autoria do gaúcho Eloar Guazelli, foi lançado nesta semana na capital de todos os catarinenses. O livro também pode ser baixado aqui.

[dica do não menos ilustrado Marquinhos]

20080221

Não se pode deixar o futuro para trás

Liga a assessora da gravadora Universal convidando para participar da entrevista coletiva do U2 no Rio. “Não, querido, você não entendeu: nós pagamos a sua Ponte Aérea e você será um dos quatro jornalistas brasileiros que terá direito a uma exclusiva com a banda”, explica.

E assim lá fui eu, com meu inglês intermediário, elucidar o maior mistério que envolvia o lançamento de All That You Can’t Leave Behind: por que a inscrição “F21-36” do letreiro do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, que aparece nos anúncios de divulgação do disco, foi trocada para “J33-3” na capa do CD?

O guitarrista Edge me disse que era uma citação do livro de João, capítulo 3, versículo 33, mas que não lembrava o enunciado. Chegando em casa, procurei na Bíblia. “Quem, todavia, Lhe aceita o testemunho, por sua vez certifica que Deus é verdadeiro”, pregava o apóstolo. Ah, interessante. Continuei boiando.

Na matéria, não tive coragem de confessar que pedi autógrafo depois de entrevistá-los. Primeira e única vez que fiz isso – pedir autógrafo para um entrevistado, não sonegar informação ao leitor. E ainda tive a desfaçatez de comentar, enquanto assinavam a capa do disco: “Muito antes de eu me tornar jornalista eu já gostava do som de vocês”. “Ah, interessante”, pensou Edge. E continuou boiando.

Tenho o disco autografado até hoje. Um dia descolo um escâner que preste (o meu, da HP, estragou para todo o sempre exatamente um dia depois de acabar a garantia) e provo a veracidade dos fatos aqui narrados. Por enquanto, contente-se com a matéria.

***

(Reportagem publicada na revista Bizz #186, janeiro de 2001)

Para Edge e Adam Clayton, seria o último compromisso daquela tarde no Copacabana Palace. Só para eles, que ficam ali esperando que a cada meia hora seja permitida a entrada de um novo estranho para distraí-los com perguntas óbvias. A gravadora aproveita e arma todo um cirquinho, imprimindo um clima de mistério e conspiração às coisas mais comuns (elas adoram isso). Depois de uma longa espera, o cristão ungido com a chance de conversar com os rockstars é chamado. Uma assessora da Universal o leva por um longo corredor até uma sala, guardada por um segurança. Chegando lá, outra assessora da companhia faz as honras da casa. Vinte minutos – “atrasou tudo”, comentava a moça, impaciente – e a porta se abre. “Próximo.”

Uma pessoa da equipe da banda recepciona o réporter. “Chá? Café? Algo para comer?”, aponta para as ofertas do mini-bufê montado. Ao fundo, Edge e Adam estão sentados num sofá com dois lugares, ao lado de duas poltronas e uma mesinha. Antes, os dois, mais Bono Vox e Larry Mullen (que no momento devem estar fazendo o mesmo em outra sala), haviam concedido uma entrevista coletiva para cerca de 300 jornalistas em algum salão do hotel. A entrada dos quatro, pela passagem principal (é, eles também adoram um cirquinho), surpreendeu a milícia da gravadora, que esperava que eles usassem o acesso dos fundos, direto para as mesas em frente à audiência, sem circular entre os presentes.

Foi a única quebra de protocolo na meia hora em que durou o encontro do U2 com a imprensa. O motivo oficial da estada da banda por aqui era a gravação de um pocket show para o Fantástico e rodar um clipe no Rio. Com aquela programação de turista para completar – o programa dominical mostrou a incursão do quarteto por uma gafieira, Bono jogando sinuca e tal –, claro que All That You Can’t Leave Behind, seu novo trabalho, também acabou ganhando uma divulgação maciça. O vocalista justificou o contrato com a Globo: “É um evento de tevê, não um show do U2. Aceitamos porque, quando nos apresentamos no Rio foi aquele caos e muitos fãs não puderam nos assistir. Pelo vídeo, estaremos em todo o Brasil”.

O grande momento da coletiva, no entanto, rolou quando um cara se levantou, identificou-se e mandou: “Sou fulano de tal, de Buenos Aires. Sei que você é argentino também (Bono havia acabado de dizer, em português, “eu sou carioca”), mas quero falar de futebol. Quem foi melhor, Pelé ou Maradona?”. Espanto, pasmo, estupor. Pausa para a recomposição do comportamento e fim da algazarra entre os colegas. A intérprete não sabe o que dizer – o hermano perguntara em inglês, quando o combinado era ela traduzir as questões para a banda. Intermináveis 30 segundos separaram o silêncio constrangedor da resposta do vocalista. “Maradona... Olha, quando ouvi seu primeiro disco, pensei: ‘Esse cara tem potencial, vai longe’. Os trabalhos do meio de sua carreira achei muito sofisticados.... No fim dela, vi que era isso aí mesmo”. Golaço!

Edge e Adam já passaram por tudo isso – no fundo, eles gostam – e, agora, a agenda está muito perto do fim para que um ataque de mau humor estrague tudo. Só falta essa. O guitarrista e o baixista têm aquela polidez que os astros adotam para enfrentar maratonas de entrevistas. Jogam o jogo direitinho: sorriem, falam calmamente, passam uma boa impressão. Edge, que na coletiva fora o mais incisivo contra o papo furado de “volta às raízes” (esparrela na qual esta revista também caiu), suspira antes de responder a primeira pergunta, uma brincadeira com o nome do novo disco da banda (Tudo O Que Você Não Pode Deixar Para Trás).

O que vocês deixaram para trás para gravar esse álbum? “Tudo que não era essencial, conceitos que não eram importantes.” Por exemplo? “Há coisas mudando todo o tempo, não consigo apontar algum. Posso dizer que deixamos para trás a cultura musical contemporânea e nos concentramos no que sabemos fazer quando estamos só os quatro, tocando juntos numa sala.” Desde o término da turnê PopMart, em 1998, a banda procurava por essa conclusão. As sessões para a gravação do álbum foram interrompidas nove meses depois, e o U2 decidiu começar tudo de novo.

Em 1999, o recomeço teve de ser novamente interrompido, com o nascimento dos filhos de Bono (Elijah Henwon) e de Edge (Levi Evans), respectivamente em agosto e outubro. No final daquele ano, mais um entrave: o laptop onde o vocalista arquivava as letras foi roubado. “Começamos sem nenhuma canção na cabeça, apenas improvisando com [os produtores] Brian Eno e Daniel Lanois. Entramos no estúdio sem nada preparado, sem qualquer pressão para que as canções surgissem”, conta o guitarrista. A maioria do material daquelas primeiras sessões parou na trilha sonora de Million Dollar Hotel, filme com roteiro de Bono, dirigido pelo chapa Win Wenders. “Mas não funcionavam para um álbum do U2. Isso reforçou um sentimento original de que realmente não importava o que estava para acontecer, desde que viesse de nós quatro juntos.”

E o que estava para acontecer era algo muito diferente do trabalho anterior, Pop. “No começo, pensamos apenas em modificar um pouco a abordagem. Isso remonta à epoca que estávamos na estrada, fazendo a turnê PopMart. Houve uma vez em que precisávamos de algum espaço para trabalhar nos arranjos de algumas canções novas. Então, reservamos uma sala em um hotel e contactamos [o produtor] Howie B para escutar as músicas. Ele caminhou pela sala e falou: ‘Uau, que som!’. Isso é o que acontece quando tocamos juntos, só nós. Aí, continuou: ‘Esse é o disco que vocês devem fazer’. Acho que isso grudou na minha cabeça, pois quando você vem tocando em um grupo há 20 anos, arrisca perder de vista o que você pode fazer. Você é pego pelo que está rolando na música contemporânea, como fizemos em Pop, Passengers e outros projetos. Nós realmente estávamos interessados em tudo o que estava acontecendo e talvez deixamos para trás um pouco da pegada que nos tornou únicos, que é, repito, quatro músicos tocando juntos”, explica Edge.

A retomada, então, foi do formato, não da sonoridade típica do U2. Segundo o guitarrista, esse disco está devolvendo a ênfase para a banda, tornando inevitável que as pessoas reconheçam recursos que o quarteto usara previamente. “New York” não destoaria se estivesse em War (1983) e “Elevation”, em Achtung Baby (1991), só para citar duas pepitas de All That You Can’t Leave Behind que remetem ao passado. “Mas não é algo que a gente faça conscientemente. As canções são muito sobre o momento atual, o espírito no qual elas foram escritas é atual. Estávamos pensando em fazer referências ao passado, e talvez seja isso que o faça soar um pouco como nossos trabalhos anteriores, porque estávamos convictos da idéia de ser uma banda. Não tentamos diluir nosso som outros gêneros musicais, como dance, hip-hop ou industrial. All That... é o que somos, o que fazemos”.

O debate desperta Adam Clayton, que até então limitara-se a observar o desempenho do companheiro. “Só para voltar àquela sua primeira pergunta, isso é uma daquelas coisas que não podíamos deixar para trás: sempre acabamos soando como U2”, afirma. No mínimo, mais pop do que Pop. Edge volta à cena: “Num sentido puramente musical, provavelmente sim. Mas, quando usamos essa palavra no contexto de nosso álbum anterior, estávamos falando mais sobre o sentido geral do termo, sobre a fascinação exercida pela cultura pop naquela ocasião. O disco se apropria das idéias efêmeras daquele período, daquele momento - a cultura dance, que está mudando constantemente”.

Engana-se, porém, quem acredita que esse retorno aos velhos costumes significa que o U2 se fechou para as novidades. Não. “Ainda somos tão fascinados pelo o que está rolando na música como antes, mas acho que também estamos um pouco mais cientes do que nos faz únicos, cientes de que o que nós temos ninguém mais tem”, pondera Edge. Recentemente, ele andou escutando Coldplay, Primal Scream, Radiohead (“Grande!”) e, apesar de não estar tão excitado quanto o resto do mundo, Badly Drawn Boy. O baixista, ameaçando virar um participante ativo do papo, aponta a cantora Macy Gray, o novo de Fatboy Slim e Daft Punk (“aquele single é maravilhoso”).

O olhar de uma terceira assessora (isso já está virando uma epidemia!) indica que os escassos 20 minutos exclusivos com metade do U2 estão se aproximando do fim. É melhor apressar o ritmo com trivialidades. Edge diz que nunca se incomoda com a fama – “como trabalhamos muito duro, isso para mim é um símbolo do sucesso em plano artístico e comercial”. Quase nunca. “Uma das piores coisas é as pessoas dando palpites sobre quem é você.” Quando vocês chegaram mais perto de se separar? [Pensa] “Talvez no final da turnê de Joshua Tree, em 1989. Tivemos de dar um tempo para todas aquelas expectativas das pessoas. Estávamos muito confusos entre música e nós.”

A moça avisa: “Última pergunta”. Vocês são amigos, se encontram fora da banda? “Sim. Dublin é uma cidade pequena. Às vezes saímos juntos.” A assessora dá a entrevista por encerrada. No processo de levantar, apertar as mãos dos dois e agradecer, Edge ainda fala com convicção sobre os desafios do U2. “Fazer melhores canções, melhores letras, melhores arranjos.” Nada de perdão da dívida do terceiro mundo ou encontros com líderes políticos – o papa, Bill Clinton, os primeiros-ministros da Inglaterra, Tony Blair, e da Alemanha, Gerhard Schroeder, o secretário geral da ONU, Kofi Annan. Isso é com Bono, apesar de ele mesmo ter declarado na coletiva que considera ridículo um rockstar ficar falando de economia. “Culpa católica” – o diagnóstico é do próprio – “de um cara bem-pago, bem-vestido e que tem exposição garantida.”

20080220

Ninguém é inocente até que se prove o contrário


Esta história está ficando cada vez mais (com trocadilho) legal. Uma examinada no processo revela que, além do baterista Larry (Joseph) Mullen e do vocalista Paul (David) Hewson – Bono Vox, aquele –, o requerente Franco Bruni está interpelando judicialmente a Infoglobo Comunicações (empresa que edita o jornal O Globo) e um jornalista famoso pelo desvelo com que tratou a obra do compositor e violonista Guinga.

Na decisão interlocutória emitida no dia 28 de agosto de 2007, um trecho chama a atenção:

“O argumento do co-réu (nota do blogueiro: o tal jornalista) ter propalado as declarações era de estar noticiando acontecimentos do cotidiano à sociedade, o que de fato beira o ridículo, visto que as declarações publicadas em 23/11/2000 se referiam aos concertos musicais que foram realizados em 27/01/1998; 30/01/1998; 31/01/1998, ou seja, há mais de 30 meses, o que certamente não poderia se afirmar como notícia atual. (...) A notícia do caso em tela objetivava tão-somente trazer o sensacionalismo e a fofoca, eis que o U2 quando chegou ao Brasil não recebeu o destaque e o interesse da grande mídia como pretendia o Infoglobo e a própria banda. Assim, as irrogações realizadas tinham como destino certo destruir o autor (n. do b.: Bruni), assim como promover a vinda da banda ao país.”

Tudo começa a fazer sentido. Bruni trouxe o U2 ao Brasil em janeiro de 1998 para três datas, uma no Rio e duas em São Paulo. O show carioca, no autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá, foi marcado por um congestionamento gigantesco que impediu vários fãs com ingressos na mão de chegarem até o local. Em novembro de 2000, a banda voltou ao Rio para “pedir desculpas pela desorganização” da apresentação anterior. A agenda do grupo no país incluiu um showcase no Fantástico para divulgar o disco All That You Can’t Leave Behind, a gravação do clipe para a música “Walk On” e até uma aparição no programa de Luciano Huck. Por acaso, duas dessas três atividades estão ligadas umbilicalmente ao jornal que publicou as acusações de Bono Vox e Mullen contra Bruni.

Não que o empresário seja o mocinho dessa trama, longe disso. Mas não posso condená-lo. Por causa do caos em 1998, entrevistei o U2 no Copacabana Palace em 2000, conforme será relatado no momento oportuno. Também conhecido como amanhã.

Artistas queimam dinheiro que loucos rasgam



Agora entendo o que o escritor, produtor, curador e outras profissões-que-não-exigem-diploma Alex Antunes sentiu quando uma revista lhe encomendou uma matéria sobre Dennis Hopper. Entre outras informações, o então repórter apurou que o ator-diretor-ícone da contracultura brincava de explodir bananas de dinamite à sua volta e que viu discos voadores no Peru durante as filmagens de seu segundo filme, The Last Movie, em 1971 (logo depois de Easy Rider). “Eu disse para mim mesmo: ‘O cara faz essas merdas todas e eu vou escrever a respeito?!’, contou. “De repente isso me pareceu tão indigno... Eu tinha mais é que tentar ser como ele!”

O autor de A Estratégia de Lilith gosta de mentir dizendo que foi ali, “em algum momento dos anos 1990”, que desistiu do jornalismo. Não chego a tanto. Mas sou acometido por desconforto semelhante ao falar do KLF – Kopyright Liberation Front.
Reza a sabedoria popular que “louco é quem rasga dinheiro”. A dupla inglesa queimou. Em 23 de agosto de 1994, Bill Drummond e Jimmy Cauty fizeram uma fogueira com um milhão de libras no interior de um pequeno abrigo para barcos na ilha de Jura, na costa escocesa, em uma bizarra crítica à ganância do meio artístico. 

Foi o ponto alto de uma carreira oficialmente encerrada em 1992, em plena cerimônia do Brit Awards que os premiou nas categorias de melhor grupo e melhor álbum do a
no. Escalados para tocar no evento, eles desconstruíram seu hit da época, “3am Eternal”, em uma performance que incluía Drummond metralhando a platéia com um fuzil munido de balas de festim, seguida do anúncio: “O KLF acaba de abandonar a indústria musical”. Na saída, deixaram a carcaça ensangüentada de uma ovelha no lobby do hotel onde rolava o convescote.

Eu é que não vou ficar escrevendo.


Vou é consultar o livro que a dupla lançou em 1988, no qual revelam seu método “zenarquista” de fazer o impensável acontecer – mesmo que isso signifique emplacar no primeiro lugar da parada inglesa.
Antunes jamais entregou o serviço.
Eu, pelo menos, consegui expelir um post inteiro só para compartilhar um arquivo que encontrei clicando por aí. Não, não precisa me agradecer. Este é mais um oferecimento do Poder Randômico.

20080219

I will follow


Por quê?

É o que se perguntam miríades de fãs silvícolas do U2 ante a manchete.

Por que em Camboriú, se a banda nunca tocou lá?

Há mais porquês que ligam o U2 com a cidade e o Estado do que itens em sua coleção de objetos vermelhos. A relação começou em 1981, com o segundo disco do quarteto, October. Mesmo desconhecido no Brasil, o álbum fez o maior sucesso no Vale do Itajaí graças aos descendentes dos imigrantes alemães que iam estudar engenharia na terra dos seus antepassados e voltavam com o vinil na bagagem. Alguns anos depois, esses engenheiros viraram políticos e/ou empresários e, como tal, precisavam criar algo que levantasse a auto-estima das comunidades que votavam e consumiam, castigadas pela grande enchente que assolou a região. Na hora de definir a idéia, eles lembraram do disco que embalava sua juventude. Nascia a segunda maior festa da cerveja do mundo.

Na mesma época, o U2 estourava nas paradas de todo o planeta com a música “Pride (In The Name Of Love)”, do LP Unforgettable Fire. Não foi diferente em Santa Catarina, principalmente nas áreas de influência dos políticos e empresários que se formaram em engenharia na Alemanha. A comovente história de Martin Luther King, o pastor assassinado em 1968 por lutar pela igualdade de direitos para brancos e negros, calou fundo em várias dessas localidades com forte herança germânica. Em uma demonstração de respeito e, sobretudo, tolerância racial, a população ariana adotou o sistema de cotas em logradouros públicos. Com a reforma, o nome original do ativista – sem o “King”, pois a maioria era republicana – acabou batizando diversas avenidas de Blumenau a Agrolândia.

A essa altura, o U2 já era tão catarinense quanto o limão galego, o Guga e a descentralização. Se havia alguma dúvida a respeito da empatia entre o Estado e a banda, ela foi totalmente dirimida com o lançamento de The Joshua Tree, em 1987. Até então, as manifestações de fé e devoção dos engenheiros formados na Bavária eram unilaterais. A certeza de que os sentimentos propagados desde o início da década em Santa Catarina eram correspondidos por Bono Vox e asseclas veio logo na abertura do disco. E homenageando justamente a cidade em que esses engenheiros compraram apartamentos luxuosos com o dinheiro ganho do erário e na iniciativa privada: Balneário Camboriú, com seu traçado urbano na qual as ruas são designadas por números. Ou, como diz a canção, “Where The Streets Have No Name”.

A partir daí, o envolvimento do grupo com Santa Catarina entrou em fase de manutenção. Como um romance que não necessita mais de arroubos de paixão todos os dias, tal a cumplicidade dos parceiros, o U2 deixava clara sua admiração por meio de pequenos gestos. Como chamar seu álbum de 1991 de Achtung Baby, a saudação tradicional dos campi teutônicos onde a quarta geração dos colonos que acamparam nas barrancas do rio Itajaí foi estudar engenharia. Ou promover campanhas para perdoar as dívidas do Terceiro Mundo, em uma alusão direta ao caso que balançou as estruturas do governo catarinense nos anos 1990. Para completar, os irlandeses ainda são considerados os “barrigas-verdes” da Europa.

Porque os ingleses têm limo nas costas.

20080218

Faltam dez dias

Iniciamos, hoje, a contagem regressiva para o julgamento do U2 em Santa Catarina.

Você só perde por esperar. (Vou providenciar uma vinheta para ilustrar tão relevante evento.)

20080212

Tanto chão para andar, o céu, a terra & as pessoas...

Tem horas que somente Buda fornece alento para as agruras do cotidiano. Como, por exemplo, ter de lidar com um vaso sanitário entupido por causa de precariedade da rede municipal de esgoto da capital turística do Merdasul. Não se trata de ter um profundo sentimento acerca da situação: basta fazer o que deve ser feito e pronto, sem maiores questionamentos.

É soda!!! Cáustica, por gentileza.

20080211

Agregador de decepções (ou Ainda bem que não uso RSS)

Deve ser frustrante clicar no seu blog predileto e descobrir que não há nada de novo para decretar a procrastinação. A culpa é da cerveja, do terceiro setor e do turismo, assuntos que me ocupam – mas não me curam nem me acalmam – enquanto não consigo mudar de profissão.

20080206

Que não se perca pelo nome

(Matéria escrita em 2003 para a Revista dos Curiosos. Publicação incerta e ignorada. Pagamento confirmado. Checagem não-atualizada.)

Não, não se trata de um conterrâneo que entrou para o ramo de auto-ajuda ou das estratégias de marketing usadas pelo presidente Lula para se eleger. Por trás do sobrenome mais popular do Brasil está uma organização mundial de pesquisa da mente humana presente em 110 países e com ensinamentos traduzidos em 30 idiomas. É o Método Silva de Controle Mental, criado pelo texano José Silva em 1966 e que se propõe a “desenvolver as capacidades inatas que o ser humano possui, mas não exercita”.

O sistema aterrissou no Brasil em 1972, trazido pela psicorientóloga americana Mimi Lutz. Dois anos depois, pelas mãos do também psicorientólogo português Eduardo Resende, inaugurou-se o primeiro núcleo em São Paulo. “Naquela época, falar de controle mental era uma loucura”, conta o diretor do método na América Latina, Omar Jaled Mustafá. Loucura ou não, a coisa expandiu: os livros com as aplicações sugeridas por Silva são publicados no País pela Editora Record desde 1977 e hoje a organização conta com representantes do Rio Grande do Sul a Roraima.

Segundo Mustafá, o Método Silva é procurado por administradores, médicos, psicólogos, estudantes, professores e donas de casa. “Vem todo o tipo de gente e não só quem tem problemas, porque educamos a mente com o objetivo de melhorar a qualidade de vida”, acredita o diretor. A partir dos 6 anos – existem cursos específicos para crianças –, qualquer pessoa de inteligência normal pode freqüentá-lo. Na inscrição, a única exigência é não estar fazendo nenhum tratamento psiquiátrico, para não comprometer o desempenho do método.

Por 300 reais, o candidato faz um treinamento de 25 horas que consiste em relaxamento físico e mental e visualização criativa (“uso ordenado da capacidade de pensar”). Com os temas saúde, educação e criatividade, o Método Silva promete benefícios que vão da eliminação do estresse à redução de enxaquecas, passando pelo auxílio na concentração, aprendizagem e memorização, pelo domínio da imaginação para resolver problemas e pela inteligência emocional.

Ao concluir o curso, o participante recebe um diploma e a carteirinha que dá ingresso a todos os programas da organização pagando apenas um valor simbólico. “Até 30 reais, de acordo com o lugar”, explica Mustafá, lembrando que a atividade similar nos Estados Unidos não sai por menos de 590 dólares. “O dinheiro reverte em novas pesquisas, senão não estaríamos por tanto tempo conquistando adeptos”, garante, citando os estudos da matriz em Laredo, no Texas, coordenados pelo fundador Jose Silva até sua morte em 1999.

Propaganda quase não há, apesar do apelo do nome. “Preferimos a convicção das pessoas que já fizeram o curso”, diz o diretor, com especialidade em psicorientologia e psicopedagogia. “São elas que acabam trazendo seus amigos e parentes para cá.” Um argentino que dava aulas de Ciências Econômicas e Psicodrama na universidade em Buenos Aires, ele próprio conheceu o método desse jeito, há 25 anos. “Minha comadre me convenceu a ir a uma sessão e logo comecei a dar palestras e a organizar grupos”, conta.

Convidado pela organização, Mustafá implantou o método na Bolívia e no Peru. Em 1995, tornou-se diretor do braço brasileiro do Método Silva, cargo que foi ampliado para toda a América Latina em 2001. Para virar instrutor, é exigido formação universitária e um processo de capacitação que dura dois anos e meio – sempre com a carteirinha. Na sede paulistana, que ocupa um andar em um prédio no bairro de Vila Mariana, os cursos atraem em média 30 pessoas, entre novos e “reciclantes”.

Em todo o Brasil, atualmente são oferecidos cursos básicos, seminários e workshops como “A Força Transformadora da Auto-Estima" e “Como Transformar Crise em Oportunidade”. Entre os instrutores, nenhum com o sobrenome Silva.

Dois toques sobre o carnaval que passou

1) A redenção da avenida mora no asfalto. Na comunidade, lá em cima, tudo é muito calculado, previsível, profissional. A espontaneidade que, até por força do clichê, deve reger o negócio sobrou para a gordinha branquela, o tiozinho da repartição, a patricinha exibida. São eles que encarnam o enredo como se fosse o último gesto de suas vidas.

2) Um transexual nunca tem vergonha de seus peitos. Esse desassombro em andar sem camisa parte de sua antiga condição masculina. Quando um traveco exibe os seios, é a nostalgia do macho reivindicando aquele corpinho.

20080204

Doze músicas de 2007:
1) TIME TO GET AWAY, LCD Soundsystem



Em quatro minutos, James Murphy condensa todas as qualidades que instigaram superlativos para o seu disco. As soluções originais do homem-banda novaiorquino para acomodar décadas de pop atingem sua forma basilar em um eletrofunk esparso. Para preenchê-lo, o melhor das campeãs de um ano marcado pela adesão do rock às “políticas da dança”: o ritmo substantivo, o vocal malicioso, os gritinhos, a tensão sexual. Irresistível.