Por quê?
É o que se perguntam miríades de fãs silvícolas do U2 ante a manchete.
Por que em Camboriú, se a banda nunca tocou lá?
Há mais porquês que ligam o U2 com a cidade e o Estado do que itens em sua coleção de objetos vermelhos. A relação começou em 1981, com o segundo disco do quarteto, October. Mesmo desconhecido no Brasil, o álbum fez o maior sucesso no Vale do Itajaí graças aos descendentes dos imigrantes alemães que iam estudar engenharia na terra dos seus antepassados e voltavam com o vinil na bagagem. Alguns anos depois, esses engenheiros viraram políticos e/ou empresários e, como tal, precisavam criar algo que levantasse a auto-estima das comunidades que votavam e consumiam, castigadas pela grande enchente que assolou a região. Na hora de definir a idéia, eles lembraram do disco que embalava sua juventude. Nascia a segunda maior festa da cerveja do mundo.
Na mesma época, o U2 estourava nas paradas de todo o planeta com a música “Pride (In The Name Of Love)”, do LP Unforgettable Fire. Não foi diferente em Santa Catarina, principalmente nas áreas de influência dos políticos e empresários que se formaram em engenharia na Alemanha. A comovente história de Martin Luther King, o pastor assassinado em 1968 por lutar pela igualdade de direitos para brancos e negros, calou fundo em várias dessas localidades com forte herança germânica. Em uma demonstração de respeito e, sobretudo, tolerância racial, a população ariana adotou o sistema de cotas em logradouros públicos. Com a reforma, o nome original do ativista – sem o “King”, pois a maioria era republicana – acabou batizando diversas avenidas de Blumenau a Agrolândia.
A essa altura, o U2 já era tão catarinense quanto o limão galego, o Guga e a descentralização. Se havia alguma dúvida a respeito da empatia entre o Estado e a banda, ela foi totalmente dirimida com o lançamento de The Joshua Tree, em 1987. Até então, as manifestações de fé e devoção dos engenheiros formados na Bavária eram unilaterais. A certeza de que os sentimentos propagados desde o início da década em Santa Catarina eram correspondidos por Bono Vox e asseclas veio logo na abertura do disco. E homenageando justamente a cidade em que esses engenheiros compraram apartamentos luxuosos com o dinheiro ganho do erário e na iniciativa privada: Balneário Camboriú, com seu traçado urbano na qual as ruas são designadas por números. Ou, como diz a canção, “Where The Streets Have No Name”.
A partir daí, o envolvimento do grupo com Santa Catarina entrou em fase de manutenção. Como um romance que não necessita mais de arroubos de paixão todos os dias, tal a cumplicidade dos parceiros, o U2 deixava clara sua admiração por meio de pequenos gestos. Como chamar seu álbum de 1991 de Achtung Baby, a saudação tradicional dos campi teutônicos onde a quarta geração dos colonos que acamparam nas barrancas do rio Itajaí foi estudar engenharia. Ou promover campanhas para perdoar as dívidas do Terceiro Mundo, em uma alusão direta ao caso que balançou as estruturas do governo catarinense nos anos 1990. Para completar, os irlandeses ainda são considerados os “barrigas-verdes” da Europa.
Porque os ingleses têm limo nas costas.
3 comentários:
O que pouca gente sabe (inclusive o autor), uma vez, é que o menino que apareceu na capa do album BOY, é o filho de um desses engenheiros que saíram do vale pra estudar na baviera. Seu pai se chamava Helmut, e faleceu ano passado num acidente com o trator da família, no meio da colheita de cebola. O menino, dizem, hoje é o líder do movimento neo-nazi de Guabiruba (célula do centro). Mas non espalha...
Bem, o açougueiro da venda aqui do lado de casa sempre fala que o Ramiro (um malaco que mora nos Salseiros) ganhou uma grana fudida quando foi posou para a capa do Boy. Torrou toda a grana em pó, e hoje tá por aí tentando bico de guardinha da Kowalsky.
Ele também fala que "Misterious Ways" foi composta quando o U2 veio pra BC e não conseguia se encontrar. Reza a lenda que eles ficaram duas horas rodando entre a 1500 e 1600 procurando a 1501.
Lembra da facilidade com que Bono saudou "Santa Catarina" no show do Morumbi?
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