20211231

As 70 músicas favoritas de 2021



O aplicativo me acusa de em 2021 ter escutado 15.408 minutos de música até o começo de dezembro. Parece muito, mais de dez dias direto. É nada: dá 42 minutos diários. Bota aí mais 20% via CD ou tocador de MP3, dá 12 dias ou 46 minutos diários. Mesmo assim, é mais que 81% dos ouvintes do Brasil. Pequenos privilégios, grande desigualdade.

Nunca ouvi tanta música por ouvir. Digo só ouvindo – depois da meia-noite, sentado na poltrona do canto da sacada, o mar batendo ao fundo. Música como escape, bem o que eu esperava quando apertava o play. Por isso, fechar esse ranking foi suave. Eu já sabia o que entraria e mais ou menos em que posição.

Bastante mulher. Não calculei quanto em comparação aos anos anteriores porque isso em nenhum momento foi critério. Reparei também que grande parte dos nomes citados esteve em relações passadas. É o meu mainstream particular. Ninguém sai, só entra. Além disso, na idade em que estou aparecem os tiques, as manias.

Listas sempre dizem mais sobre quem as fez do que sobre a qualidade das escolhidas. Mas também são boas para conhecer outros sons, outras batidas, outras pulsações. Alguma pode se tornar sua nova música favorita.

PLAYLIST | língua adesivou na fitinha do amor



(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

2020 EM 70 MÚSICAS
1 | Gruff Rhys, Loan Your Loneliness



O tal aplicativo mostra que essa foi a música deste ano que mais ouvi. Desde o momento em que a escutei eu sabia que só um fenômeno muito fora da curva tiraria o galês ex-Super Furry Animals do topo da lista. Tem uma vibe nela que me lembra “Got to Get You into My Life”, um dos meus Beatles do coração – e eu não consigo pensar em elogio maior. No futuro, ao revisitar 2021 e vê-la em primeiro lugar vai me dar a impressão de um ano melhor do que realmente foi.

2021 EM 70 MÚSICAS
2 | St. Vincent, ...At the Holiday Party



A americana Anne Clark acerta e erra. Só não se acomoda, sempre desafiando a expectativa de terceiros sobre ela. Em um passado não muito longínquo, essa inquietude definia e separava Artista de entertainer.

2021 EM 70 MÚSICAS
3 | Dry Cleaning, Scratchcard Lanyard



Está tudo a lesma lerda. Cada um pior que o outro. Não tem nada que preste. Até surgir uma banda que renova a fé no formato guitarra-baixo-bateria. Parece familiar e original ao mesmo tempo. O pós-punk respira.

2021 EM 70 MÚSICAS
4 | Billie Eilish, I Didn't Change My Number

>

Nunca li entrevista dela, não sei o que pensa da vida, do universo e tudo mais. Mas alguma coisa a moça tem de especial. E eu nem sou o público-alvo, o que torna a situação ainda mais inusitada.

NA HISTÓRIA
2019 |
#28 Bad Guy

2021 EM 70 MÚSICAS
5 | Tagore, Maya



Também comentei a respeito. Ainda bem que a queda por Tame Impala não foi um caminho sem volta para o pernambucano xará de sábio indiano, porque lisergia sufocada pelo agreste bate muito mais.

NA HISTÓRIA
2016 |
#5 Pineal

2021 EM 70 MÚSICAS
6 | Wet Leg, Chaise Longue



Um dia, você está entediada na Ilha de Wight. No outro, sua música está disputando lugar nas paradas alternativas com seus ídolos. As duas amigas nunca mais vão esquecer de 2021.

2021 EM 70 MÚSICAS
7 | Lou Hayter, Time Out of Mind



Acho que foi a primeira música salva na pasta das prediletas deste ano. Depois fui saber que ela era tecladista do New Young Pony Club e tudo fez sentido. A concepção de pop dessas minas me agrada demais.

NA HISTÓRIA
2013 | #31 New Young Pony Club, Sure as the Sun
2010 | #2 New Young Pony Club, Chaos (Rory Phillips Mix)
2007 | #9 New Young Pony ClubThe Get Go

2021 EM 70 MÚSICAS
8 | Silk Sonic, Leave the Door Open



Já falei dessa coisinha aqui. A acrescentar, somente que ainda não enjoei. Quando isso fatalmente acontecer, vou ficar louco para contrariar Paul Auster (“Foi. Nunca será de novo. Lembre.”) e esperar pelo revival.

NA HISTÓRIA
2019 |
#34 Anderson Paak, Come Home (ft Andre 3000)
2018 | #44 Anderson Paak, Anywhere (ft Snoop Dogg & The Last Artful, Dodgr)
2016 | #44 Anderson PaakCome Down
2014 | #40 Mark Ronson, Uptwon Funk (ft Bruno Mars)

2021 EM 70 MÚSICAS
9 | Curtis Harding, I Won't Let You Down



Tem artista que moderniza um estilo e tal. E tem Curtis Harding, que não inventa moda e faz soul à antiga, resistente ao espírito de qualquer época. A zona de conforto não recebeu esse nome à toa.

NA HISTÓRIA
2017 |
#5 Face Your Fear
2017 | #20 Need My Baby

2021 EM 70 MÚSICAS
10 | Jungle, All of the Time



Um mundo à parte, onde sempre há uma pista quente e a promessa de um sorriso. É isso o que de melhor a dupla inglesa tem a oferecer, como um aceno para tempos menos atribulados. Me serve.

NA HISTÓRIA
2018 |
#7 Beat 54 (All Good Now)
2018 | #19 Heavy, California
2018 | #28 Casio

2021 EM 70 MÚSICAS
11 | Flora Matos, Ser Sua



Quem não sonha em ser o preto mais chave da letra deve procurar ajuda especializada. O trocadilho que batiza o álbum não poderia ser mais apropriado: Flora de Controle. No caso, você. Ela que dita as regras.

NA HISTÓRIA
2017 |
#68 Parando as Horas

2021 EM 70 MÚSICAS
12 | Colleen Green, Someone Else



Só a introdução já me conquistou. Aí entra a voz feminina cantando sem cantar. Pesquiso e descubro que ela tem 37 anos, tem uma carreira e já tocou inclusive no Brasil. E eu achando que era uma caloura.

2021 EM 70 MÚSICAS
13 | The Outs, Nem Mesmo o Sol



O quarto e último single do prometido disco novo da banda carioca desce que é uma beleza. Uma onda descolada da desgraceira vigente, fresca como um final de tarde de gala – e por isso mesmo tão bem-vinda.

NA HISTÓRIA
2016 |
#43 Ainda me Lembro

20211228

2021 EM 70 MÚSICAS
14 | Criolo, Fellini



“Tira os menino desse caminho / A escola é o caminho e fé no Senhor.” Com versos dignos de Damares como esse, o rapper sobrevive graças ao refrão e aos serviços já prestados. Abre o olho, Criolo!

NA HISTÓRIA
2018 |
#1 Boca de Lobo
2017 | #63 Menino Mimado
2014 | #23 Esquiva da Esgrima

2021 EM 70 MÚSICAS
15 | BaianaSystem, Monopólio



Reggae que não se contenta e cai na quebradeira.

NA HISTÓRIA
2019 | #30 Sonar (ft Curumin & Edgar)
2019 | #44 Fogo
2016 | #22 Bala na Agulha
2016 | #39 Playsom
2014 | #35 Russo Passapusso, Flor de Plástico

2021 EM 70 MÚSICAS
16 | Bobby Gillespie & Jehnny Beth, Living a Lie



O líder do Primal Scream entra e sai de tudo quanto é onda. Uma hora iria começar a se comportar como adulto.

NA HISTÓRIA
2016 |
#35 Primal ScreamI Can Change
2013 | #14 Primal ScreamGoodbye Johnny

2021 EM 70 MÚSICAS
17 | Django Django, Waking Up (ft Charlotte Gainsbourg)



É muito difícil eu não ouvir com boníssima vontade qualquer coisa em que Charlotte Gainsbourg está envolvida. Deu a lógica.

NA HISTÓRIA
2018 |
#17 Charlotte GainsbourgSylvia Says (A-Trak Remix)
2017 | #64 Charlotte Gainsbourg, Ring-A-Ring O' Roses
2014 | #44 Charlotte GainsbourgHey Joe

2021 EM 70 MÚSICAS
18 | Little Simz, Woman (ft Cleo Sol)



Revelação do ano.

2021 EM 70 MÚSICAS
19 | Diomedes Chinaski e Cassiano Cacique, Vai te Catar/Reza



Curso intensivo para aprender a pular, curar, sangrar e calar.

2021 EM 70 MÚSICAS
20 | Revival Season, Iron Warrior



O rap como costumava ser.

2021 EM 70 MÚSICAS
21 | Astronauts, etc., Cherry Plum



Onde houver um espírito carente de aconchego, lá estará o astronauta a aspergir suavidade para além do cosmo.

NA HISTÓRIA
2018 |
#33 The Room
2015 | #13 I Know
2015 | #45 If I Run

2021 EM 70 MÚSICAS
22 | Billie Eilish, Oxytocin



Miss Eilish foi citada até por Caetano Veloso e não está sabendo lidar com isso.

NA HISTÓRIA
2019 |
#28 Bad Guy

2021 EM 70 MÚSICAS
23 | Death From Above 1979, One + One



A guitarreira hipster de ontem é o rock possível de hoje.

NA HISTÓRIA
2017 |
#27 Caught Up
2014 | #36 Trainwreck

2021 EM 70 MÚSICAS
24 | FBC & Vhoor, Delírios (ft Djair Voz Cristalina)



Nos anos 1990 eu nem ia ligar para isso, agora curto. Evolução que chama.

2021 EM 70 MÚSICAS
25 | Silk Sonic, Skate



Garotas em patins sempre chegam lá.

NA HISTÓRIA
2019 |
#34 Anderson Paak, Come Home (ft Andre 3000)
2018 | #44 Anderson Paak, Anywhere (ft Snoop Dogg & The Last Artful, Dodgr)
2016 | #44 Anderson PaakCome Down
2014 | #40 Mark Ronson, Uptwon Funk (ft Bruno Mars)

2021 EM 70 MÚSICAS
26 | Mia Doi Todd, Music Life (ft Jeff Parker & Money Mark)



Bonita como uma solenidade despojada.

NA HISTÓRIA
2007 |
#10 Money Mark, Black Butterfly

2021 EM 70 MÚSICAS
27 | My Morning Jacket, Love Love Love



A música nem começou direito e eu já perdi tudo no refrão.

NA HISTÓRIA
2020 |
#48 The First Time
2015 | #3 Only Memories Remain
2015 | #49 Thin Line
2015 | #53 Tropics (Erase Traces)
2011 | #33 Holdin On To Black Metal

2021 EM 70 MÚSICAS
28 | LoneLady, Fear Colours



Organicamente moderninha.

2021 EM 70 MÚSICAS
29 | Madlib, Road of the Lonely Ones



Tire os sapatos, abandone os problemas e se entregue: você está entrando em solo sagrado.

2021 EM 70 MÚSICAS
30 | Don L, Na Batida da Procura Perfeita



Se contivesse essa faixa, o disco novo do rapper cearense seria ainda mais elogiado.

NA HISTÓRIA
2020 |
#64 Kelefeeling (Verso Livre)
2016 | #26 Chapei 

2021 EM 70 MÚSICAS
31 | Lana Del Rey, Dark but Just a Game



Pobre moça, tão rodada e ainda se machucando tanto.

NA HISTÓRIA
2019 |
#19 Doin' Time
2019 | #41 Fuck It, I Love You
2018 | #45 Cat Power, Shine (ft Lana Del Rey)
2018 | #60 Mariners Apartment Complex 
2014 | #26 West Coast
2011 | #31 Blue Jeans

2021 EM 70 MÚSICAS
32 | Laura Mvula, Got Me



Só vem.

2021 EM 70 MÚSICAS
33 | Beach Bunny, Blame Game



Fofura, e não apenas por causa da vocalista e do coelhinho no nome.

2021 EM 70 MÚSICAS
34 | The Coral, Mist on the River

>

A voz da experiência de quem se esperava muita coisa e não aconteceu. Ou: é isso aí mesmo.

2021 EM 70 MÚSICAS
35 | Daniel Wylie's Cosmic Rough Riders, God Is Nowhere



Que bom que o vocalista fez questão de colar o nome da ex-banda em sua empreitada solo para deixar claro qual é.

2021 EM 70 MÚSICAS
36 | Parquet Courts, Black Widow Spider



Nova York, urgente!

NA HISTÓRIA
2018 |
#27 Freebird II
2016 | #13 One Man, No City

2021 EM 70 MÚSICAS
37 | Squid, Paddling



Longo, sem concessões e exalando pós-punk: adoro.

2021 EM 70 MÚSICAS
38 | Little Simz, Two Worlds Apart



Tem muito mais no disco de estreia da pequena inglesa.

2021 EM 70 MÚSICAS
39 | Oblomov, Nada de Novo



Promessa que virou realidade.

NA HISTÓRIA
2020 |
#52 Noites Longe de Você

2021 EM 70 MÚSICAS
40 | Triptides, Let It Go



Nheco-nheco safra californiana.

NA HISTÓRIA
2020 |
#39 Latitudes
2018 | #36 Visitors

2021 EM 70 MÚSICAS
41 | Mulungu, A Boiar



Nem tudo que boia é emergente.

NA HISTÓRIA
2020 |
#55 No Ar

2021 EM 70 MÚSICAS
42 | Oruã, Obrei Orei



Nenhum brasileiro foi tão longe neste ano quanto esses cariocas.

2021 EM 70 MÚSICAS
43 | Os Amantes, Linda



Popular danado de bom, entenda.

NA HISTÓRIA
2015 |
#42 Jaloo, Insight

2021 EM 70 MÚSICAS
44 | Tagore, Molenguita



Gostinho de quero mais.

NA HISTÓRIA
2016 |
#5 Pineal

2021 EM 70 MÚSICAS
45 | St. Vincent, The Melting of the Sun



Derrete gostoso, baby, derrete.

2021 EM 70 MÚSICAS
46 | Jungle, Keep Moving



Um salve para a alienação.

NA HISTÓRIA
2018 |
#7 Beat 54 (All Good Now)
2013 | #19 Heavy, California
2010 | #28 Casio

2021 EM 70 MÚSICAS
47 | Bobby Oroza, Make Me Believe



Sofrência vintage.

2021 EM 70 MÚSICAS
48 | João Donato & Jards Macalé, Açafrão



Desencanados – e com razão. 

2021 EM 70 MÚSICAS
49 | UV-TV, Back to Nowhere



Sdd college.

2021 EM 70 MÚSICAS
50 | Sleaford Mods, Mork n Mindy (ft Billy Nomates)



Soltar esses ingleses em uma pista é um perigo.

NA HISTÓRIA
2017 |
#21 B.H.S.

2021 EM 70 MÚSICAS
51 | Durand Jones & The Indications, The Way That I Do



O falsete, os timbres, o refrão não deixam dúvidas: 2021 não passa de uma convenção.

2021 EM 70 MÚSICAS
52 | Bonifrate, Cara de Pano



De leve para não perder nenhum momento da depuração dos vegetais.

NA HISTÓRIA
2019 | #1 Boogarins, Dislexia Ou Transe
2019 | #18 Guaxe, Onda

2021 EM 70 MÚSICAS
53 | Bedouine,The Solitude



Comfort music.

NA HISTÓRIA
2019 |
#66 Bird

2021 EM 70 MÚSICAS
54 | Lava La Rue, Magpie



Melancolia urbana.

2021 EM 70 MÚSICAS
55 | Goat, Queen of the Underground



Porão é porão, mesmo na Suécia.

2021 EM 70 MÚSICAS
56 | Sports Team, Happy (God's Own Country)



Tem hora que um rock burro é tudo o que a gente quer para ser feliz.

2021 EM 70 MÚSICAS
57 | Boogarins, Supernova



Mais uma do baú cheio de baratos dos goianos.

NA HISTÓRIA
2020 | #35 Cães do Ódio
2019 | #1 Dislexia Ou Transe
2019 | #18 Guaxe, Onda
2017 | #33 Onda Negra
2016 | #16 6000 Dias (Ou Mantra dos 20 Anos)

2021 EM 70 MÚSICAS
58 | LoreB e Wado, Sem Pressa



Aconteça o que acontecer, sozinho ou bem-acompanhado, Wado continua nos premiando com mansidão.

NA HISTÓRIA
2020 | #49 Wado, Para Anthony Bourdain (ft Cris Braun)
2018 | #58 Wado, Onda Permanente
2016 | #10 Wado, Samba de Amor

2021 EM 70 MÚSICAS
59 | Natalie Bergman & Beck, You’ve Got A Woman


Delicinha setentista holandesa que a metade feminina do Wild Belle enche de doçura e mete um Beckzinho para arrematar.

NA HISTÓRIA
2020 | # 9 Gorillaz, The Valley of the Pagans (ft Beck)
2019 | # 9 Beck, Dark Places
2019 | # 23 Beck,  Stratosphere
2019 | # 45 Wild Belle, Rocksteady
2019 | # 53 Beck,  See Through
2017 | #31 Beck,  Colors
2017 | #65 Beck,  Can't Help Falling In Love
2016 | #58 Wild Belle, Rock & Roll Angel
2015 | #19 Beck, Dreams
2014 | #3 Beck,  Don’t Let It Go
2014 | #16 Beck,  Morning
2013 | #15 Wild Belle, It's Too Late
2012 | #9 Wild Belle, Keep You
2008 | #9 Beck,  Profanity Prayers

2021 EM 70 MÚSICAS
60 | Wu-Lu, South (ft Lex Amor)



Se pensar bem, motivo para quebrar tudo tem em todo lugar.

2021 EM 70 MÚSICAS
61 | Zë Nigro, Apocalip Se



O verbo mais conjugado pelo brasileiro desde 2018.

2021 EM 70 MÚSICAS
62 | Jean Mafra, Brasil



Já disse e repito: meu amigo não precisa de nenhum favor para aparecer aqui. 

2021 EM 70 MÚSICAS
63 | Lamparina e Àttooxxá, Pequim



Conexão Minas-Bahia com escala na China.

2021 EM 70 MÚSICAS
64 | SuperState, Yoga Town (ft Graham Coxon & Valentina Pappalardo)



Enquanto Damon Albarn tem os Gorillaz, seu colega no Blur investe no conceito de música de trilha sonora de história em quadrinhos. No fim, é tudo banda desenhada.

NA HISTÓRIA
2015 |
#27 Blur, Go Out

2021 EM 70 MÚSICAS
65 | Curumin, Púrpuras (ft Nellê)



Começa meia bomba até desembocar no refrão macio de outra dimensão, em que o tempo bom sugere o mar.

NA HISTÓRIA
2019 |
#30 BaianaSystem, Sonar (ft Curumin & Edgar)
2017 | #4 Boca Cheia (ft Indee Styla)
2017 | #23 Terrível
2012 | #6 Pra Nunca Mais
2012 | #41 Doce
2008 | #3 Compacto

2021 EM 70 MÚSICAS
66 | Mallu Magalhães, Quero Quero



Outra que está vivendo dos créditos acumulados pelo que já fez. Resta saber se é isso mesmo que ela vai virar ou se é só uma fase de uma artista precoce em tudo.

NA HISTÓRIA
2017 |
#67 Navegador
2014 | #25 Banda do Mar, Me Sinto Ótima

2021 EM 70 MÚSICAS
67 | The Nextmen X Eva Lazarus , Rudegyal



Cota de reggae é obrigação em qualquer lista (minha) que se preze.

2021 EM 70 MÚSICAS
68 | Mary Olivetti & Mahmundi, Black Coco



A herdeira do gigante Lincoln Olivetti revira a obra do pai e atualiza a mistura de coco nordestino com black music gravada pelo grupo Painel de Controle em 1978.

NA HISTÓRIA
2018 |
#8 Mahmundi, Vibra
2016 | #15 Mahmundi, Hit
2016 | #54 Mahmundi, Eterno Verão (Boss In Drama Remix)

2021 EM 70 MÚSICAS
69 | Tom Morello, The Achilles List (ft Damian Marley)



O choque do guitarrista de riffs que marcaram a racinha com o mais talentoso dos filhos de Marley soa meio datado, mas ainda funciona.

NA HISTÓRIA
2017 |
#16 Prophets of Rage, Living on the 110
2017 | #38 Damian Marley, Nail Pon Cross

2021 EM 70 MÚSICAS
70 | !!!, Man on the Moon



Quando uma banda que você gosta faz uma versão de uma música que você gosta de uma banda que você gosta.

NA HISTÓRIA
2020 | #59 Take It Easy
2015 | #66 Freedom! ’15
2013 | #13 Except Death
2010 | #8 AM/FM

O Natal como ele é



Três dias para o Natal e eu ainda remando. Informalmente, o que é mais despropositado. Pensei que a essa altura eu já teria me livrado de tudo e recebido algum. Um dia eu acerto: me livrei de algum e recebi nada. Donde cá estou, procrastinando e andando, empenhado em contar alguma história edificante no nosso último encontro antes de 25 de dezembro. Está tudo na cabeça, é só deixar rolar.

Começaria com um pai de família na expectativa de um Natal magro. Não que os anteriores tivessem sido gordos, mas ele sempre dava um jeito. Bem ou mal, em dezembro todo mundo ganhava e gastava mais. Neste, não. O que apareceu não deu nem para quitar os boletos, que dirá comprar presentes. A mulher entenderia. O filho de cinco anos é que lhe atormentava: não queria frustrar o sonho infantil.

Cada vez que via o moleque procurando por alguma caixa, algum embrulho em volta da arvorezinha montada no canto da sala, morria por dentro. “Calma, que o Papai Noel ainda está passando em outras casas”, dizia para enganar a criança e convencer a si mesmo que era verdade. Na manhã da véspera de Natal, saiu decidido a só voltar com alguma coisa para o menino. Tinha R$ 12 reais e um cartão de crédito estourado no bolso.

Estava tão confiante que gastou R$ 4,50 na Mega da Virada, deu R$ 5 para um mendigo e com os R$ 2,50 que sobraram comprou um Halls para disfarçar o mau hálito do jejum. Liso, leve e solto, falaria ao filho que o Papai Noel viria só na outra semana porque não estava conseguindo carregar a presentada que trazia para ele. Se não acertasse os seis números, o que era bem provável, pelo menos teria mais um tempo para inventar uma desculpa melhor.

Quase na esquina de casa, ganha a companhia de um vira-lata. É inútil enxotar o bicho, que o segue até a porta. Aí ele vê a luz. “Este é o Juvenal, nosso novo amiguinho”, apresenta o cão à família. O guri pira. A mãe chora com um olho pela felicidade do menino e com o outro pelo tapete. O cachorro é alisado, come ossinhos da gran ave servida na ceia, corre com um chinelo na boca.

De repente, o pai dá pela falta do canhoto da lotérica. Abre a porta para ver se caiu do bolso quando ele pegou o último drops, ao chegar. No que ouve o barulho da chave, o cão sai em disparada. Na corrida, pisa no comprovante de aposta e o leva grudado em sua pata. Não deu nem tempo de o ônibus frear, só restou uma massa disforme de carne, ossos, pelo, vísceras e sangue esparramada pelo asfalto. Foram os cinco segundos mais felizes da vida de Juvenal.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

20211227

A hora tão esperada por ninguém

Leitora do Extrato não fica sem presente!

(Desencavei umas tentativas de contos de Natal que fiz para aquela coluna lembrada aqui. Tive que dar umas mexidas por questões de estilo e/ou referências datadas demais, mas juro que não precisei revisar nada escrito há 20 anos por soar machista, misógino, racista ou homofóbico pelos ditames atuais. Uma pequena alegria para o autor, uma grande conquista para o legado. Os textos a seguir foram publicados em 2001, 2002 e 2004.)

O que vale é o gesto.



O Natal está em todos os lugares

Aquele réveillon prometia. Com mais dois casais, Dilamor e Gina alugaram uma escuna que os levaria de Natal até Fernando de Noronha, onde saudariam o ano vindouro de um jeito doce na Cacimba do Padre. A embarcação deixou a capital do Rio Grande do Norte em 22 de dezembro. Dois dias depois, só os homens estavam curtindo a viagem. As mulheres, enfastiadas, limitavam-se a suspirar e a amaldiçoar o mar.

A noite de lua cheia se insinuava no horizonte quando uma pequena faixa de terra quebrou a monotonia visual. “Aquilo é o Atol das Rocas, a primeira reserva biológica do Brasil, criada em 1979. É formado por uma coroa de coral sobre um pilar vulcânico, em cujo centro está uma lagoa de água salgada. A sede da reserva é utilizada por pesquisadores de peixes e aves”, apontou o capitão do barco, um holandês com a pele rosa, esturricada pelo sol inclemente do litoral potiguar.

“Vamos passar o Natal lá!”, decretou Dilamor, que, embora não reclamasse, também já estava de saco cheio do oceano. Enfiou uma garrafa de uísque e cerca de 70 gramas de maconha em um saco plástico, amarrou a ponta e se atirou na água. A uns 100 metros de distância, ele conseguiu distinguir a silhueta de uma casinha e de três pessoas agitando os braços.

Estimulado pelo que julgava ser uma comemoração pela sua visita, Dilamor apertava os dentes em torno da ponta do saco e aumentava o ritmo das braçadas. Finalmente, chegou à terra, tomando cuidado para que o costão bravio não avariasse as surpresinhas que levava. Mas ele que ficou surpreso com a recepção do trio.

“Não pode entrar aqui, é área militar”, disse-lhe o primeiro, mal terminando a frase para agarrar a garrafa que Dilamor tirou do saco e jogou em sua direção.

“Somos biólogos, estamos de plantão”, explicou o segundo, a quem foi arremessado um torrão escuro e cheiroso do tamanho de um celular.

“Papai Noel!”, abriu os braços o terceiro.

E, naquele instante, Dilamor compreendeu que o espírito de Natal é algo muito poderoso, capaz de suplantar até os mais profundos ressentimentos de quem não ganhou nenhum presente da gente.



Cada um faz o bem como bem entende

Sedentário, relapso e cafajeste, Guido Copertone viu na eleição do pai como deputado a chance de descolar uma boquinha no serviço público. O velho ficou no dilema. Descendente direto dos italianos que desbravaram o Sul do Brasil, uma gente honesta e trabalhadora, que ria das adversidades e acostumada a dizer “obrigado” em vez de “quanto custa?”, não iria permitir que o filho único jogasse sua biografia na lama.

Ao mesmo tempo, movia montanhas se necessário para atender às vontades do herdeiro de 23 anos. Limpou sua consciência arrumando-lhe uma vaga como cozinheiro-chefe da tenebrosa penitenciária conhecida como Cadeião da Boa Morte. Se o jovem sobrevivesse na função, provaria ter a fibra dos antepassados. E aí poderia ser promovido a estafeta em uma repartição qualquer, sem nenhum ônus para a reputação familiar.

E lá se foi Copertone, 1,55 de altura, ser chamado de “mestre” pelos presidiários já domesticados, isto é, que reuniam condições de civilidade suficientes para coexistir entre facas e óleo quente sem pensar besteira. “Trate-os como animais”, ouviu do pai antes de ser abandonado no portão do Cadeião. O conselho foi posto em prática logo no primeiro dia.

Um loiro magro e espichado deixou cair no chão metade do tomate que já tinha picado. “Se liga, polaco! Na próxima, é a casa que vai cair aqui!”, gritou Copertone, do outro lado da cozinha, para que todo mundo ouvisse. O desastrado, condenado por matar com 115 punhaladas o ex-patrão, abaixou a cabeça sem olhar para o cutelo que manejava e murmurou “sim senhor, mestre”. O baixinho se sentiu em casa.

A jornada na cozinha do presídio começava às quatro da tarde e durava 24 horas, com folga nos dois dias seguintes. Nesse esquema de três turmas se revezando, Copertone entrou na escala de 24 de dezembro. Chegou mal-humorado, mais porque iria dormir sem TV a cabo do que por virar o Natal naquele muquifo.

Às duas da manhã, com todos dormindo no cubículo anexo aos fogões, ele se levantou, decidido. Ligou para o amigo Cabelo e implorou por vodka. Em menos de meia hora, o chapa conseguiu atravessar três garrafas. Em silêncio, Copertone tomou uma dose. Duas. Na terceira, acordou a rapaziada dizendo que era o Papai Noel. Mandou os detentos fazerem fila, que iria distribuir o mel.

Dezesseis homens, um atrás do outro, pacientemente esperavam pelo seu quinhão, a tampinha da garrafa com um gole de bebida. Ao amanhecer, eles riam e choravam e abraçavam Copertone, soluçando que aquele fora o melhor Natal que passaram no Cadeião. Um deles, emocionado, desmanchou-se em gratidão. “Para proteger o senhor, mestre”, garantiu, oferecendo-lhe um pingente de São Dimas.

O tempo passou e Copertone encontrou sua vocação, tornando-se policial. Certa noite, atendeu uma ocorrência de furto na casa um empresário graúdo. Segurando o ladrão pelo cangote, reconheceu-o. Lembrou-se da cozinha do Cadeião, da cumplicidade alcoólica, da medalhinha. Deu apenas um tiro no joelho direito dele. Com o butim, chamou Cabelo e enfiaram o pé na jaca.



Natal reserva o papel que cada um faz por merecer

A escolha de Idiomar foi praticamente por aclamação. Afinal, entre os homens da família, era o único com condições para encarar tamanha responsabilidade sem frustrar as expectativas da parentada. O sogro não tinha mais estrutura mental para suportar o desafio. O cunhado desmoralizou-se na última vez em que desempenhou a função. Sobrou ele para atuar como Papai Noel na comemoração da noite de 24 de dezembro.

O figurino ficou a cargo da mulher, Dioneia. Achou o tradicional uniforme vermelho e branco no camelódromo por R$ 19,90, incluídos o cinto preto e a barba postiça. O preço baixo embutia um senão: o traje, de feltro vagabundo, era quente como o inferno. Idiomar experimentou a peça, notou que o manequim tinha uma bunda enorme e, já suando, pensou na felicidade da filha de três anos ao receber o triciclo tão desejado diretamente das mãos do bom velhinho.

A pantomima envolvia toda uma logística. Idiomar começaria a ceia à paisana, representando os papéis de marido, pai e genro. Em determinado momento, ele alegaria ter que sair para comprar qualquer coisa – “um elmo”, cogitou – e sumiria, reaparecendo fantasiado e com a indefectível risada. O que o deixava ressabiado era o sobrinho e afilhado Maiolo. O peste de oito anos não iria cair na lorota e, com certeza, faria de tudo para sabotar o plano.

Chegou a noite derradeira e tudo ia correndo surpreendentemente bem. A caçula, Jaqueline, ficou maravilhada ao descobrir que a cartinha que mandara três meses antes com o seu pedido funcionara. A sobrinha Aline, de quatro anos, não se importou com mais nada depois que ganhou sua casinha de boneca. Maiolo, que ameaçou desmascará-lo ao puxar sua barba, foi domado com beliscões dados na surdina e um jogo do Ben 10.

Os adultos só não planejaram a retirada do Papai Noel. É claro que Maiolo quis acompanhá-lo até o portão do quintal. Sem alternativa, Idiomar acabou no meio da rua. A ideia dele era esperar a poeira baixar, tirar aquela roupa insuportável e voltar dizendo que não achara o elmo que procurava. Mas outras famílias o viram caracterizado e o chamaram para encantar também os seus natais.

Idiomar passou a noite toda levando alegria e bem-aventurança de casa em casa. Quando terminou, o dia raiava. Ao entrar no seu quarto, por pouco não foi atingido por um vidro de perfume. “Canalha, nem no Natal abandona a farra!, berrava a mulher. “Deixa de noia, Neia!”, argumentou – e caiu na cama, exausto. No dia 26, ela saiu depois do almoço para trocar o liquidificador novo da mãe por uma cor que combinasse melhor com a geladeira e voltou no final de tarde com o cabelo molhado.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

PLAYLIST | sou apenas um vagal que ama a vida e tem amor pra dar



Feliz Natal para você que mal pode esperar pela edição da próxima terça, a última do ano, toda dedicada às músicas que tornaram 2021 suportável. E para você também, que não liga para efemérides nem para o pop!

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

20211221

Medo e delírio na agência lotérica



Lotéricas cheias significam mega-sena acumulada ou, depois que elas viraram postos bancários estatais, dia de pagar conta. Como o bolo desta semana é de apenas R$ 6,5 milhões e a maioria dos boletos já venceu, a lotação significa também que o desemprego abunda. Eu estava em algum ponto difuso da intersecção entre essas três variáveis quando resolvi investir R$ 4,50 para mudar de vida.

Tão banal, o ato representaria uma quebra de paradigmas. Até então, eu tinha como regra me arriscar somente em cifras superiores a nove dígitos. A lógica é a seguinte: se a chance de ganhar uma vez com uma aposta simples é de 0,000002% (1/50.063.860), menos ainda é de isso acontecer duas vezes. Então, se for para queimar o cartucho da sorte desta encarnação, que seja por muito.

Essa foi a única simpatia que desrespeitei. Sou um animal de rituais, critérios e dogmas. Um cartão com seis dezenas e nada mais. Nunca números sorteados no concurso anterior. (Sei que a probabilidade do 13 sair na quarta e no sábado é a mesma que no mês passado e daqui a 20 anos, me deixa.) E acredito na Justiça Divina como fator determinante para escolher onde apostar. Quanto mais desfavorecido o lugar, melhor.

A lotérica do terminal central de ônibus – ponto de convergência do povo trabalhador e guerreiro – parecia ser o local ideal para comover a Fortuna. Não foi uma boa ideia. Não pelas oito pessoas na minha frente, e sim pela classe delas. A agência era frequentada por gente com pinta de ser mais pobre que eu. Logo, seria mais justo que ganhassem, não eu. Tudo bem, eu jogo para poder sonhar, não para ficar rico.

Peguei um cartão, dei uma espiada no último resultado (para não repetir os números) e fiquei analisando meus concorrentes. Exatamente antes de mim, uma mãe arfava com a filha no colo. Um senhor carregando uma sacolinha de farmácia, duas adolescentes com uniformes de escola pública, um casal inter-racial, um motoboy e uma manca (cuja deficiência só percebi quando claudicou em direção ao caixa) completavam a penca.

Todo mundo olhou para trás e fez festinha para a menina. Entretanto, ninguém cedeu a vez para a mulher que a carregava. Sorri. A criança achou que fosse para ela. Era de contentamento. Por descobrir que, independentemente do resultado e até mesmo de jogar, eu já tinha conquistado alguma coisa de muito valor. Todos ali precisavam mais do que eu, mas não mereciam mais do que eu.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

20211220

De carona no meme



Dez coisas aleatórias que sou contra:

  • Maionese
  • Banco
  • Taxa de matrícula
  • Vocalista que canta com olho fechado
  • Dormir cedo
  • Influencer
  • Álcool em aniversário de criança
  • Sapatênis
  • Pieguice
  • Debater com gente burra

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

Diz que fui por aí



Se Rasgum 15 Anos – Além de fazer a diferença no programa Aparelho, Vladimir Cunha é praticamente um polímata. O belenense escreve, canta, toca, dança, sapateia, filma, edita, bebe e dá risada. Sua mais recente cria é esta websérie com episódios semanais sobre o surgimento da cena que originou o homônimo festival de bandas independentes na capital paraense. É sempre legal demais ver malucos descobrindo que existe mais gente como eles, seja em qualquer cidade.

Fim do El País em português – Se fosse impresso, poderia migrar para o online. Como já era digital, babau. Conforme o epitáfio, oito anos no mercado, grandes audiências, número considerável de assinantes não foram suficientes para que a versão brasileira do diário espanhol alcançasse “sustentabilidade econômica”. Não é bem esse caso, mas o fim de mais um jornal lembra muito o que já acontece com a música. O mercado inventa fórmulas, formatos, modelos de negócios e o diabo para atrair um público que não gosta de música – e quem gosta é pouco para manter a operação. Espero pelo dia em que não haverá mais nenhum veículo, apenas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas como meios de informação. Aí, talvez fique claro o quanto o jornalismo é necessário. Ou que realmente não faz falta nenhuma.

Este foi o ano das newsletters – Quem está dizendo não é o mané aqui, é a estrategista de marcas, curadora de conteúdo e escritora de emails Beatriz Guarezi, titular da esperta Bits to Brands. Ela cita algumas razões para o nosso (cof cof) sucesso:

  • você escolhe o que assinar e se/quando vai ler
  • quem se inscreve recebe um conteúdo autoral, não decidido por uma plataforma ou algoritmo
  • newsletter não cansa porque não exige nada de você
Anotação mental para uma próxima edição: fazer uma relação com outras newsletters que assino e recomendo.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

20211216

APARELHO | Não é porque é certo que é correto



Você piscou e pá, um ano de Aparelho proporcionando diversão sadia, segura & gratuita para a família brasileira. Parece que foi ontem que três sobreviventes do fim do mundo como o conhecemos resolveram dividir com o resto da humanidade tudo aquilo que lhes faz tão singulares. Do início meio hesitante em busca de uma identidade à ousada decisão de não falar mais de política mesmo após o sucesso da cobertura da CPI, essa primeira temporada vai chegando ao final com um novo desafio, talvez o maior de sua curta existência: entender o que é NFT para também viajar nesse balão.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

PLAYLIST | mesmo a tristeza da gente era mais bela



No programa Extrato na Peep FM (segundas, 21h) desta semana rolaram diversos sons que o Spotify não comporta, como este. Para sorte de zero pessoas, sou desapegado e substituí os ausentes à altura. Ninguém perde nada e todo mundo dança o som e pede mais.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

20211212

A velha roupa nova do rei



Então está confirmado o especial de final de ano de Roberto Carlos. Que preguiça. Tirando 1999 (por causa da doença da esposa do cantor) e 2020 (pandemia), tem sido mais ou menos assim desde 1974: banda regida pelo maestro Eduardo Lages, duetos estéreis e muitas emoções. Não será diferente no dia 22 de dezembro. Esse ineditismo que se repete a cada giro completo da Terra em torno do sol é o suficiente para convencer os monarquistas de que o rei ainda tem alguma majestade.

A única pessoa que continua esperando uma surpresa, um gesto imprevisível, um ato nobre de Roberto Carlos é o fã Paulo Cesar Araújo. Nessa segunda-feira ele lançou mais um livro sobre sua obsessão, Roberto Carlos Outra Vez. O título, emprestado de um dos grandes sucessos reais não compostos em dupla com Erasmo, alude à nova tentativa do biografar o ídolo. Como nos versos criados por Isolda, o artista foi o melhor dos planos e o maior dos enganos que o escritor pôde fazer.

A primeira vez que Araújo se propôs a botar no papel a vida do filho de Lady Laura sem a permissão do próprio aconteceu em 2006. Tão logo foi publicada, Roberto Carlos em Detalhes parou nos tribunais. Comprei a primeira edição e não entendi o porquê da querela, pois não havia nada desabonador em suas quase 500 páginas. O biografado também não contestava nenhuma informação, apenas não queria que a obra existisse. Ou que lhe pagassem uma indenização milionária.

O livro acabou sendo recolhido – não sem antes despertar o surgimento do constrangedor Procure Saber, um movimento de medalhões da MPB contra biografias não oficiais. Liderados pela produtora Paula Lavigne, baluartes da liberdade de expressão da porta para dentro como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan, entre outros, defendiam que suas histórias só poderiam ser contadas por si mesmos ou por terceiros devidamente autorizados.

Ao perceber o tamanho do rolo que provocou, Roberto, fiel ao seu princípio de não se comprometer, pulou fora e deixou a turma falando sozinha com o Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2015, finalmente, os togados sepultaram a alegação dos candidatos a censores de araque. Quem quiser escrever sobre alguma figura pública que escreva, contanto que arque com as consequências legais se caluniar, injuriar ou difamar. Caso encerrado – não para Araújo, que enquanto a Justiça enrolava para decidir lançou outro livro.

Publicado em 2014, O Réu e o Rei fala da admiração do autor pela música de Roberto Carlos, dos 16 anos de pesquisa para o malfadado …Em Detalhes e da disputa judicial que o sucedeu. Era a história de Araújo com Roberto, não de Roberto. Os advogados do cantor que se virassem para processá-lo. O livro está à venda no comércio até hoje. Depois dessa pequena vitória, qualquer um iria se dedicar a outro assunto. Mas Araújo é brasileiro e não desiste nunca.

Em Roberto Carlos Outra Vez, ele divide a trajetória do artista em 50 capítulos, tendo suas canções como fio condutor do nascimento até 1970. Um segundo volume com mais 50 músicas a partir de 1971 está previsto para 2022, quando o homenageado fará 80 anos. Até o momento, Roberto não se manifestou. Segundo sua assessoria, o rei está ocupado demais com os ensaios do especial para a TV. Que Nossa Senhora, de quem é devoto, o ilumine para parar de brigar com a própria biografia.

***

Deixei de me iludir sobre Roberto Carlos com o Acústico MTV que ele cometeu em 2001. A ideia era rejuvenescer seu público, apresentando o cantor acompanhado por algumas estrelas do pop vigente para desfilar versões desplugadas de canções que atravessavam gerações. Em 17 músicas, o artista conciliaria o que a crítica queria (sua fase soul), o que os fãs esperavam (sucessos) e os standards dos quais não abre mão – “Emoções” e “Jesus Cristo”, que fecharam o show.

Fui um dos raros jornalistas a assistir às gravações, realizadas em dois dias de maio daquele ano no Polo de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca. Não era permitido usar marrom, cor vetada pela superstição de Roberto. A plateia de 150 vips incluía Marisa Monte, Cássia Eller, integrantes do Skank, Titãs, Karametade e Jota Quest, Myrian Rios (ex-esposa dele) e Ciro Gomes e Patricia Pillar, à época um casal. Todos derretendo porque o local era mal ventilado e quem entrava não podia sair.

Após submeter os súditos a três horas de espera sob um calor infernal, o rei subiu ao palco vestido em tons de azul, disse “que prazer rever vocês”, empunhou o violão e dedilhou “Detalhes”. Em seguida, engatou uma sequência automotiva, com “As Curvas Da Estrada De Santos”, “Calhambeque”, “Parei Na Contramão” e “Por Isso Corro Demais”. Da tão inspirada veia black, vieram “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo” e “Todos Estão Surdos”. A alta temperatura não incomodava mais ninguém.

Para fortalecer a conexão com a audiência da emissora musical, Samuel Rosa (Skank) e Tony Belotto (Titãs) participaram de “É Proibido Fumar” e “É Preciso Saber Viver”, ambas regravadas pelas duas bandas. Não tinha como dar errado. O projeto resultaria em um disco, dois programas de TV (um na MTV e outro na Globo) e um DVD. Na pior das hipóteses, haveria somente o disco, pois a liberação das filmagens dependia da Globo, dona da imagem de Roberto por contrato.

Expectativa: Roberto Carlos bateria com o pau na mesa e romperia com a Globo, em um ato de rebeldia que o aproximaria mais do consumidor jovem do que qualquer estratégia de marketing. Realidade: o rei, tão cheio de manias e exigências, comportou-se como o mais reles contínuo do Projac e abaixou a cabeça. Dali em diante, nunca mais se falaria em reposicioná-lo no mercado. Se ganhou ou se perdeu, o importante é que cruzeiros ele promoveu.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

Sem tempo, irmão



O que explica o sucesso de Marina Sena? – Análise da ascensão da cantora mineira como um reflexo dos novos e complexos fluxos comunicacionais e do consumo da música.

Tudo em Moro é pobre, triste e medíocre – Só li verdades e ainda aprendi uma nova palavra: pechisbeque.

Make everything OK – Um clássico para ser revisitado todas as vezes em que o desespero tomar conta. Ou seja, sempre.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)



20211208

APARELHO | Quem é o Nicolas Cage brasileiro?



Estávamos em algum ponto do programa, entre a geração que conheceu grandes bandas através de seus piores discos e a necessidade de uma chechecagem para as agências de checagem, quando o enfado começou a bater. Então passamos a falar de como o empoderamento da estupidez e da cretinice deu visibilidade a um tipo de centauro urbano muito louco: metade cavalo, a outra metade também. Teremos que aturar essas criaturas mimimitológicas até os códigos civilizatórios serem restabelecidos e elas voltarem a fingir que são gente. Enquanto isso, de cada ridículo herdaremos somente a vergonha.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

PLAYLIST | essa viagem se faz de coletivo



(transcrição da locução do programa Extrato dessa segunda na Peep FM)

[abertura]

Começando mais um programa Extrato na sua Peep FM em grandessíssimo estilo com Paulo Cesar Pereio em “Tá Tudo Errado Porra!”. A faixa é do disco Sexy 70 - Music Inspired by the Brazilian Sacanagem Movies of the 1970s, lançado em 2004 por Che, alterego de Alexandre Caparroz, ex-baterista da banda Professor Antena. É esse fundo luxuoso que vai embalar nossa edição de hoje enquanto eu boto umas musiquinhas para a gente pensar em outra coisa.

[bloco 1]

Abrimos os trabalhos com todo o ritmo e poesia de Snoop Dogg Doggy e Jurassic 5, dois representantes da fase do rap que eu mais gosto, entre os anos 1990 e 2000. Vou continuar nessa pegada black e retroceder mais um pouco, primeiro com “Sexy Lady You”, do Wild Fire, uma banda relativamente obscura que, graças ao já famoso advento da internet, chega fresquinha aos ouvidos contemporâneos. E depois com “Everyday People”, de Sly & the Family Stone, gigante para quem todos os elogios sempre serão insuficientes. Em tempos de segregação racial e machismo, eles misturavam homem e mulher, negros e brancos, tudo na mesma formação. Lógico que não estou falando de hoje, mas o apelo do grupo permanece mais do que atual.

[bloco 2]

Hora de baixar a bola um pouco, mas mantendo a vibe no macio, no gostoso. Agora é a vez da rainha Rita Lee, com “Coisas da Vida”, música de um dos melhores discos solo dela, Entradas e Bandeiras, de 1976. Nessa época ela era ainda acompanhada pela banda Tutti Frutti, mais roqueira, antes de dar uma guinada total para o pop com o marido e guitarrista Roberto de Carvalho.

[bloco 3]

Depois de Rita Lee rolou “A Love of Your Own”, de Ned Doheny, um californiano também dos anos 1970 que já colaborou com Eagles e Jackson Browne, entre outros. Eu curto essas lentinhas, mas vou agitar um pouco as coisas por aqui com Vivien Goldman. Essa mulher tem uma trajetória curiosa: ela é muito mais conhecida como jornalista e fotógrafa e fez carreira acadêmica estudando punk e reggae. É também autora do livro Bob Marley - Soul Rebel, que eu recomendo demais, infelizmente não lançado em português. A carreira musical dela é meio irregular, mas tem no mínimo essa belezinha chamada “Launderette”.

[bloco 4]

Você acaba de ouvir “Loteria”, dos gaúchos do Supervão, que na minha parada de sucessos utópica seriam figurinhas frequentes com certeza. E, já que estamos nessa onda, vamos de Isobel Campbell, a voz feminina do Belle and Sebastian, enchendo o ar de delicadeza com “Ant Life”, de seu disco solo lançado em 2020. Na sequência, “Stratosphere”, de Beck, uma das melhores de seu disco mais recente, Hyperspace, de 2019.

[bloco 5]

De volta do lugar onde nenhum ser humano jamais esteve com esse Beck, aterrissamos para prazeres mais mundanos com os Black Keys e sua “Sister”, do disco El Camino, de 2011, quando eles simplesmente não conseguiam fazer música ruim. Para fechar, um one hit wonder, aquelas bandas que fizeram apenas um sucesso e sumiram: Harvey Danger, com Flagpole Sitta, que teve altíssima rotação nas rádios rock na segunda metade da década de 1990.

[final]

E assim encerramos mais uma edição do programa Extrato na sua Peep FM. Lembrando sempre que você pode receber todas as terças a newsletter Extrato no conforto de seu email, basta acessar extratonewsletter.substack.com e assinar gratuitamente. Eu sou Emerson Gasperin e adorei passar essa horinha com você. Até segunda que vem às 9h da noite, tchau e bênção!

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

20211206

Sem desespero, sem tédio, sem fim



A atividade remunerada ideal chegou ao fim com um telefonema. “Se soubesse que aquela seria a última, teria caprichado mais”, brinquei. “Você continua nos nossos planos”, brincou mais ainda a voz do outro lado da linha. Com a polidez e a satisfação inatas dos portadores de notícias desagradáveis, ele me avisou que o jornal Correio Popular, de Campinas (SP), não iria mais publicar minha coluna semanal por “razões econômicas”. Até esqueci que um dia acabaria, de tanto que durou: quase cinco anos, de longe meu recorde em qualquer emprego.

Muito antes de o home office virar uma solução sanitariamente correta para a precarização do trabalho, eu já experimentava as vantagens e desvantagens de fazer a roda da economia girar sem nenhum contato humano nem nenhum direito. De 2000 a 2005, todas as segundas-feiras eu enviava por email o texto que seria impresso na edição seguinte. No quinto dia útil de cada mês, depositavam a devida merreca na minha conta bancária. Sem férias, sem 13º, sem FGTS. Eis o segredo da longevidade, coaches.

Fui parar lá graças ao então responsável pelo caderno de cultura do diário. O atual dono de um nanoconglomerado de mídia que inclui blog, canal no YouTube e colaborações para a imprensa imperialista achava interessante ter meia página por semana assinada pelo editor-chefe da mais importante revista de música do país na época. Ele confiava na minha prolixidade para levar entretenimento saudável ao rico interior paulista – e, principalmente, estava certo de que apenas eu aceitaria a mixaria oferecida em troca.

Combinamos que a coluna sairia às terças. Para mim, perfeito. É o dia da sorte de Escorpião (meu signo) e Áries (meu ascendente). Eu pelo menos podia dizer que só sabia disso porque devorara livros de Linda Goodman na adolescência para puxar assunto com as púberes. Desconheço o pretexto que o pessoal alega hoje para adotar preços terminados em 7 como uma estratégia de marketing que usa técnicas psicológicas para influenciar a percepção dos consumidores a respeito do valor. Enfim, cada um com seu pensamento mágico.

O fato é que os astros conspiravam a meu favor. Portanto, não liguei quando meu contratante largou o jornal, pouco depois. Sem ele, eu – que jamais visitara a cidade nem tinha visto um exemplar do jornal e sequer meu texto impresso – perdia o único elo com a redação campineira. Um amigo paranoico levantou a hipótese de que não existia coluna nenhuma. Na verdade, o destinatário do material por mim remetido seria um milionário bugrino que nutria uma afeição platônica pela minha prosa, pagando-me para não dividi-la com mais ninguém. Em vez de sexo solitário, uma espécie de brochada idem.

Foram 253 semanas inspiradas por uma tela em branco. Escrevia sobre tudo, com cuidado para não escancarar tanto o meu despreparo. Falava das coisas simples do Brasil, como ensinava o Gueto, e também de coisas que você nunca viu. Autonomia total, no conteúdo e na forma. A rigidez ficava com o formato, cinco parágrafos com 700 toques cada. Às vezes um pouco mais, nunca menos de 3,5 mil caracteres. Dizia uma propaganda que o importante é ter estilo. Quem não tem, inventa um, digo eu. Ou faz da ausência o seu.

Na impossibilidade de farejar minha obra no papel (porque nunca me mandaram um exemplar!), me rendi à versão digital. No site, o fruto do meu ofício era publicado ao lado de uma caricatura baseada na minha foto da carteira de motorista. Aí, resolveram permitir o acesso somente para assinantes. Eu teria que pagar se quisesse me ver na internet. Entre partir para a ignorância (porque nunca me deram uma senha!) ou partir para outra, deixei que o acaso corporativo decidisse por mim. Até o telefone tocar e desmoralizar o zodíaco.

O capitalismo menospreza o horóscopo, mas respeita o retorno de Saturno de um jeito singular: a oportunidade de, após um período de tempo, voltar a ganhar dinheiro com algo já feito. Essa força estranha me levou a fuçar, recentemente, a pasta onde salvei os arquivos das colunas. Vai que rendam um livrinho, pensei. Percebi que poucas ainda prestam. E descobri que, por mais gigante que seja meu ego, meu senso do ridículo é maior. Da decepção à esperança, fiz as contas e concluí que ainda faltam alguns anos para os planetas se alinharem novamente.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

Celebremos a impermanência



Só se fala no novo documentário sobre os quatro rapazes de Liverpool, que não vi porque outros ratos bateram minha carteira antes do streaming do Mickey. Quis o destino que o filme estreasse às vésperas dos 20 anos da morte do beatle George, completados nessa segunda. Aproveitei que estava com a mão na massa e fui pesquisar o que escrevi na coluna de 4 de dezembro de 2001, a primeira terça-feira depois do passamento.

Fazia outros 20 anos, quase 21, que a humanidade não acordava com a notícia de que um dos quatro rapazes de Liverpool morrera. A primeira – e até a quinta-feira em que George Harrison partiu, a última – tinha sido em 9 de dezembro de 1980, quando John Lennon foi assassinado. Uma pegou todos de surpresa, outra permitiu alguma preparação.

Enquanto a morte de Lennon deixou um grande “por quê?”, a de Harrison mereceu diversos “que pena”, “parou de sofrer” e “foi melhor para ele”, entre outros clichês resignados. Vítima de um câncer que o fustigava desde 1997, o guitarrista expirou com a mídia em alerta. Seu obituário já estava pronto, restando apenas as lacunas para a data e a causa.

Vi uma foto dele careca, já debilitado pela quimioterapia, mas a imagem que ficou em minha memória foi a do beatle místico, que ainda não tinha tocado guitarra para a versão em inglês de “Anna Julia”. Chutei que não levaria outras duas décadas para a gente chorar por Paul McCartney e Ringo Star. Que bom que errei.

Tomara que demore bastante para que sobre apenas um deles. Se Ringo, mais velho, outra vez contrariar a lógica e for o último sobrevivente, poderá recontar toda a história dos Beatles. Como revelar, por exemplo, que ele que compôs “Hey Jude”, “Help” ou “Something”.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)