Quem respira cultura pop neste pedacinho de terra perdido no mar deve se lembrar bem de como eram as coisas há dois anos. Por mais sensacional que fosse o disco, livro, vídeo, exposição ou peça de teatro, a obra tinha de disputar um cantinho do jornal com a viagem à Disney da filha do novo rico, com o carrão importado do playboy, com a plástica da perua.
Tudo mudou com o surgimento da Contracapa, em agosto de 2006. Desde então, mais do que dar visibilidade a músicos, escritores, poetas, videastas, desenhistas, artistas plásticos, atores e demais representantes locais de profissões-que-não-precisam-de-diploma, a coluna publicada no Diário Catarinense vem apresentando à cidade manifestações que a própria cidade desconhecia.
Talvez o talento sempre estivesse presente, só não encontrava espaço para aparecer. Talvez o talento só tenha ousado brotar porque houve alguém para divulgá-lo. Tanto faz. O fato é que, por uma destas raras conjunções astrais, calhou de Florianópolis abrigar uma de suas gerações mais criativas ao mesmo tempo em que o grupo que monopoliza a mídia no Estado resolveu dedicar uma página de segunda a sábado à arte que insiste em pulsar fora da panela.
E isso, mané, é muito mais importante do que tentar descobrir se a Contracapa é causa ou efeito. Marcos Espíndola comanda – simples assim. Eu poderia me sentir o tal por ter editado, em 2005, a coluna Maresia, assinada por ele. Por ter produzido, em 2007, a festa do primeiro aniversário da Contracapa. Por ter sido convocado para botar um som na celebração dos dois anos da coluna, daqui a pouco, na Célula.
Prefiro me considerar privilegiado por chamá-lo de “chapa”. O diabo é que, por conta dessa cumplicidade, estou com uma dificuldade danada em decidir qual será a nossa música-tema de hoje à noite. A camiseta nova, pelo menos, já providenciei.
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