20150313

Wander Wildner para presidente



O gaúcho Wander Wildner já foi boy do subterrâneo, já teve uma camiseta escrita “eu te amo”, já acreditou em milagres. Hoje, pergunta no título de seu oitavo disco Existe Alguém Aí?. Diz ele que é um álbum conceitual, com sua visão crítica da sociedade. Mas não espere panfletagem. O ex-replicante, ex-punk-brega e ex-trovador folk está calejado demais para dividir o mundo entre destros e canhotos ou achar que tem a solução para os problemas urbanos. Aos 55 anos, encara a política em seu sentido mais amplo, priorizando pessoas a ideologias.

A inclinação estadista de Wander vem em boa hora. Em tempos de posições extremadas, de indignação seletiva e de apostas no quanto pior, melhor, o bardo comporta-se como um Pepe Mujica do rock. Com a simplicidade e a clareza do ex-presidente uruguaio, fala de solidão (“Sua Própria Companhia”), da metrópole caótica (“Réquiem para uma Cidade”), de levar uma vida saudável (“Plantar, Colher e Depois Dançar”). Ainda que aborde questões pontuais, como em Naquela Noite Ela Chorou”, importa-se mais com a frustração do que com o resultado das urnas.

Antes que o trecho “todos viram a democracia acontecer, mas com um resultado devastador” preste-se a interpretações oportunistas, ele explica que refere-se à eleição de Lasier Martins (PDT-RS) ao senado, em 2014. Ao perceber que “a maioria queria o que ela não queria”, a moça da canção lamenta e vai em frente. Um futuro cheio de esperança a recebe em “Numa Ilha Qualquer” e em “Saudade”, porque Wander pode até mudar o som para mais pesado ou a temática para menos romântica, nunca o tom. No fundo, é o mesmo querido de sempre.

Dias de ovelha negra
 Outra cantora que junta-se à lista das dez brasileiras para ficar ligado publicada aqui na semana passada é Andreia Dias. Em seu quarto disco, Prisioneira do Amor, ela desencava dez músicas gravadas por Rita Lee de 1968 a 1978 – das quais apenas uma, “Ovelha Negra”, foi hit. Entre as versões dirigidas por Tim Bernardes, do trio O Terno, estão curiosidades como os versos censurados em 1972 (“Beije-me a boca / Com tua boca vermelha / Para que eu sinta a saliva / E o gosto de cuspe / Escorrendo entre os dentes meus”) de “Beija-me Amor”.



TEM QUE CONHECER ||||||| 
SHUGGIE OTIS
Em 1974, quando lançou Inspiration Information, no qual cantou e tocou guitarra, piano, órgão, baixo e bateria, Shuggie Otis tinha apenas 22 anos. Apesar da pouca idade, a fluidez com que ele costurava soul, R&B e funk despertou comparações com Marvin Gaye, Curtis Mayfield e Sly Stone. Os Rolling Stones também piraram e o convidaram para substituir Mick Taylor. Como bom torto, o californiano recusou. Pouco depois, devido ao fraco desempenho do disco, foi dispensado da gravadora e se retirou da cena (rumores apontam para complicações com drogas). Reapareceu com a edição do álbum em CD, em 2001, mostrando o gigante que poderia ter se tornado.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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