20151208

Erykah Badu tem uma ligação para você

Você pode achar que é implicância com Adele. O fato é que o colunista ainda se divertia com os impropérios merecidos na terça passada por ter dito que ela fez um disco mais chato do que hospedar parentes em casa em um final de semana com chuva – e ainda por cima com criança pequena –, quando pintou o novo trabalho de Erykah Badu, But You Caint Use My Phone. A comparação é inevitável: enquanto a inglesa murmura “alô, sou eu”, a texana dedica um disco inteiro à relação da sociedade atual com o telefone. E aí fica a critério do ouvinte escolher de quem preferiria receber uma chamada.

A rigor, nem se trata de um lançamento convencional. Em seu primeiro projeto desde New Amerykah Part Two, de 2010, Erykah Badu apresenta uma mixtape – apanhado de vinhetas e rascunhos de canções. O ponto de partida foi um remix para “Hotline Bling”, o single do rapper canadense Drake que se tornou uma das músicas emblemáticas de 2015 (tanto que até Justin Bieber a gravou). Pelas mãos da cantora, o sucesso virou “Cel U Lar Device”, um R&B no qual o ronronar dela se encarrega de conferir manha & malícia às rimas.



Daí a coisa evoluiu para a necessidade de se estar sempre conectado nos celulares. Citando obras de Usher, New Edition, Isley Brothers e Todd Rundgren sobre ligações telefônicas, a mulher compõe um mosaico que denominou de TRap&B (trap, rap, R&B). Rótulos à parte, destaca-se aquilo que Erykah Badu sempre soube fazer: ritos de acasalamento em que as letras, por mais conscientes que sejam, repousam em segundo plano diante dos instintos primitivos despertados pela música, como nas também insinuantes “Phone Down” e “Mr. Telephone Man”. Se ela ligar, é melhor você atender.

Ponto para o rock
Lançado originalmente em fevereiro, o quarto álbum dos ingleses do Foals ganha edição nacional para o fã brasileiro que acompanha o grupo desde o início se surprender. Se antes a banda soava mais “moderninha” (com os prós e contras que o termo implica), agora o rock aparece com mais vigor. Ainda que paire um certo ar indie-fofura, são as guitarras que movem What Went Down – e é difícil precisar até que ponto a produção de James Ford, conhecido por seu trabalho com Arctic Monkeys, tem influência nisso. Em vez de perder tempo com essas questiúnculas, bote “Snake Oil” no talo e volte a ter 15 anos. Ou suspire pelo que passou com “Mountain at My Gates”.



 L ANÇAMENTOS


Tom Custódio, Confronto – O segundo disco do blumenauense elogiado por Mallu Magalhães é fruto do Prêmio da Música Catarinense, que o elegeu o artista revelação de 2013. “Pânico” abre com um pop rock, uma das duas vertentes dominantes do álbum, presente também em “Você Você Você”. Mas a linha dominante é a suavidade de “Verão” e “Conflito”, trazendo uma leveza que invade o sambinha “Pro Amor Que Doía”.



Marrero – O trio paulistano faz rock feio, sujo & malvado com amplificadores valvulados e tecnologia analógica. Isso significa que a banda está pouco se lixando para o próximo hype, investindo em riffs pesados, que se arrastam com a desenvoltura de uma bigorna. O lançamento integra a plataforma musical de uma marca de cerveja e, caso petardos como “Quem Será?” ou “Rei” não decolem, não faltará bebida para consolar.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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