20160202

Nem tudo o dinheiro pode comprar

A chegada de Anti, o oitavo disco de Rihanna, abalou o mundo pop na última semana. Primeiro, o trabalho vazou “acidentalmente” no Tidal, a malfadada plataforma de streaming de Jay-Z. Depois, a cantora o liberou para download gratuito mediante inscrição no serviço. Em menos de um dia, mais de 1 milhão de pessoas se cadastraram para baixá-lo sem custo. Portanto, aparentemente trata-se de apenas mais um álbum da cantora caribenha, incluindo a falsa comoção midiática. Aos truques manjados, porém, foi acrescentado um novo apelo para promovê-lo: ambição artística.



Jovem, bonita, talentosa & rica, Rihanna vende a ideia de que busca mais do que certificados de platina com Anti. A intenção é ser respeitada, ter credibilidade, passar a sensação de que nem tudo o que faz é descartável. Os próprios quatro anos que separam esse disco do antecessor – uma eternidade para quem estava acostumada a praticamente um lançamento anual desde que surgiu, em 2005 – seriam um indicativo disso. Neste período, ela teria repensado sua carreira e suas escolhas. Outro seria a concessão ao universo alternativo com a regravação de “Same Ol’ Mistakes”, dos incensados australianos do Tame Impala.

Mas não será aumentando o intervalo entre um trabalho e outro ou oferecendo covers preguiçosas de artistas longe de sua zona de conforto que Rihanna vai se reinventar. Porque a propalada guinada de Anti é mais conceitual do que musical. O vivente escuta o disco uma, duas, três vezes e não entende o que de tão diferente ele apresenta em relação aos anteriores. Tem um chicletão para as rádios (“Work”, com o rapper canadense Drake), tem a indefectível balada (“Kiss it Better”), tem um monte de faixas entre o R&B e o hip hop que caracterizam sua trajetória. Por mais válida que seja a tentativa, há coisas que o dinheiro ainda não compra.

Consórcio antipop
O Nevermen é o que se pode chamar, não sem um certo exagero, de supergrupo do lado torto do pop. Pelo menos dois de seus três integrantes são associados a bandas de difícil digestão: Mike Patton (Faith No More e uma infinidade de projetos paralelos, um mais inusitado do que o outro) e Tunde Adebimpe (do experimental TV on the Radio). Completa a formação o rapper Doseone, que também não deve bater bem para andar com esses malucos. Não seria juntos que eles iriam aliviar a barra. No autointitulado disco de estreia do combo, cada um contribui com sua parcela de esquisitice em faixas como “Tough Towns” ou “Treat’em Right”. Mesmo quando o resultado se aproxima de um hit, fica um gosto de que há algo errado – o que, no caso, significa que está tudo certo.



 ANÇAMENTOS



Pau Brasil, Daqui – Referência na música instrumental brasileira, em seu novo disco o quinteto mescla faixas inéditas com releituras de grandes compositores nacionais. Com 35 anos de experiência, o grupo imprime sua marca em obras de gente do quilate de Villa-Lobos, Tom Jobim, Baden Powel, Moacir Santos e Ari Barroso. No lado autoral, a aposta é na diversidade, indo de raizes nordestinas em “Agreste” e “Caixote” à valsa “Sarapuindo”.



Fat White Family, Songs for Our Mothers – A banda é inglesa por acidente. Seu nome evoca o “lixo branco” americano, traduzido em treilêres decrépitos em algum fim de mundo no interior dos EUA, coroas viciados em boletas e muita hipocrisia. Com um título irônico, não tinha como o disco soar de outra forma: tosco e sujo, celebrando a estranheza em “Whitest Boy on the Beach”, entre outras pequenas odes a famílias disfuncionais e comportamentos bizarro.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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