20160614

O rock ainda pulsa

Quando o festival Monsters of Rock divulgou a escalação da edição brasileira do ano passado, foi aquela correria para saber que p* era o tal do Rival Sons. Em meio a barracudas históricas como Ozzy Osbourne, Judas Priest e Motörhead, esse nome não passava do bagrinho pronto para ser devorado pelas hostes metálicas que frequentam o festival. Menos de meia dúzia de cliques, porém, deixavam claro que a banda não apenas já contava com quatro discos, como tinha repertório para se sentir à vontade entre os gigantes da música pesada. A boa impressão é confirmada pelo novo disco, Hollow Bones.



Em pleno 2016, o quarteto de Long Beach oferece rrrock – e só. Sem truques, sem misturas, sem nada que lhe dê um ar de contemporaneidade. Um vocalista poderoso e um instrumental invocado são suficientes para o Rival Sons convencer. Senão pela energia, pela proeza de não soar caricato mesmo explorando um gênero que 1) teve seus cânones escritos há quase 50 anos e ninguém nunca mais vai fazer igual e/ou melhor e 2) envelheceu tão mal. Diante de retrospecto tão desfavorável, o grupo adota a única postura digna. Ou seja, dá de ombros e desce o pau.



As referências se empilham e se cruzam assim que os acordes da faixa-título irrompem na abertura do álbum. É Led Zep­pelin, sensação reforçada pelo jeito sexy & selvagem de Jay Buchanam expelir os versos, qual um Robert Plant com os hormônios desregulados. Mas é também Free, Deep Purple, Bad Company; enfim, um monte de gente boa que assinaria faixas como “Tied Up”, “Thundering Voices” ou “Black Cof­fee” sem pestanejar. Afinal, trata-se de uma questão muito mais importante do que originalidade: alguém tem que manter acesa a chama do rock-é-rock-mesmo depois que os dinossauros forem completamente extintos.

Sábado chapado
E já que o assunto é música agressiva para ouvidos sensíveis, todos os caminhos levam à Célula neste sábado para o primeiro Medusa Stoner Festival. O covil de Florianópolis abre suas suntuosas e nababescas instalações para quatro representantes da cena stoner rock nacional: Hammerhead Blues (SP), Space Guerrilla (RS), Red Mess (PR) e, fazendo as honras da casa, os mineiros radicados na cidade Muñoz Duo. Ingressos a partir de R$ 20 (primeiro lote). Mais detalhes aqui.




 ANÇAMENTOS



Seletores de Frequência, SF – A banda que acompanha B Negão dá um tempo nas ladainhas do rapper com este EP todo instrumental, em que mostra a força de seu groove. São quatro temas despretensiosos, transitando entre funk, afrobeat e suíngue brasileiro. Baixe-o gratuitamente no Bandcamp do grupo.



Garbage, Strange Little Birds – Vamos falar a verdade? O grupo da vocalista Shirley Manson sempre foi segunda divisão e, não fosse o estouro do grunge, não ocuparia mais do que um rodapé na história. O problema é que faz 20 anos que isso aconteceu e hoje, por melhor que seja (não é) seu novo disco, talvez não haja mais tanta gente disposta a lhe dar outra chance. Cansou.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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