20161122

Charada eterna

Uma colega da redação avisa que tem uma ligação para mim. “É Supla”, diz ela, com um misto de surpresa e ironia, antes de transferir o ramal. A simples menção do nome me deixa em estado de alerta. Uma chamada do dito cujo é sempre uma cortina aberta para o imponderável. Mas ele quer apenas – ufa! – informar que está lançando Diga o que Você Pensa, o (pelas suas estimativas) 17º disco de uma trajetória que inclui as bandas Tokyo e Psycho 69, o projeto Brothers of Brasil (com o mano João) e a carreira solo.



Nosso último contato havia sido na virada do século, quando ele telefonou para contar que estava voltando ao Brasil depois de algumas temporadas nos Estados Unidos, onde o conheciam como “macaco branco doido”. Revelou também que iria se dedicar à “bossa furiosa” e que poderíamos dar um “rolê de carro” ao som de suas novas composições. O total da soma das três expressões entre aspas foi um convite recusado. Perdi a oportunidade de escutar em primeiríssima mão o futuro clássico mundial “Green Hair (Japa Girl)”.

Desta vez, não hesito e clico em seguida no link que ele passou por e-mail para ouvir o álbum. Tirando o fato de que a existência de um trabalho inédito de Supla em 2016 é por si só digna de pasmo, sobressaem-se rocks caprichados (“Pelo Chaos”, a faixa-título), baladas pungentes (Anarquia Lifestyle) e aquela saudável e típica galhofa (“Trump Trump Trump”, “Parça da Erva”). Tudo com condições de competir com o que é vendido por aí como pop nacional, não fosse o autor visto com reservas no meio. É o preço que ele paga por ainda ser uma autêntica charada.

Mamutes na pista
Nem bem desembarcou da turnê internacional para promover o disco Dark Tales & Love Songs, o Elekfantz já retornou aos estúdios para lançar o single Blush. A nova faixa do duo catarinense formado por Leo Piovezani e Daniel Kuhnen surgiu como uma homenagem a Prince – a referência fica evidente tanto nos sintetizadores fortes que evocam os anos 1980 quanto no falsete dos vocais. A letra demonstra a fragilidade masculina diante dos encantos de uma mulher que sabe o que quer: “Garota, você está me fazendo corar”, diz. Apesar do verso, é som para se dançar sem vergonha na pista.




 ANÇAMENTOS



The Sunshine Underground, Luminescent – No quarto (e anunciado como último) disco, os britânicos indie-dance oferecem mais um punhado de faixas com um pé na eletrônica e o outro também. O saldo é um tecnopop que, quando encaixa, gera melodias aderentes e refrãos infalíveis, como em “Rise” e “Something’s Gonna Happen”.



Trails & Ways, Own It – Depois de três EPs com alguma reverberação no meio college americano, a banda californiana chega ao segundo álbum pronta para ampliar sua base de fãs. O negócio começa muito bem com a quente “Get Loud”, mantendo a temperatura elevada com rock alternativo e pop movido a delicadezas variadas.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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