20170404

Depeche Mode e o espírito (de porco) da época

Não satisfeito em levar um soco nas fuças durante uma transmissão ao vivo para a TV, o neonazista americano Richard Spencer aproveitou a repentina e fugaz fama virtual para falar de música. Segundo o assumido apoiador de Donald Trump, o Depeche Mode seria “a banda oficial da direita alternativa”, por conter “elementos fascistas” em letras como a do single Master and Servants, de 1984. A reação do grupo não poderia ser mais contundente: Spirit, um disco que prega o oposto do conservadorismo tão em voga no mundo hodierno.



Claro que as opiniões da supracitada criatura não tiveram influência nenhuma no novo trabalho do agora trio. Surgido na década de 1980, o Depeche Mode sempre empunhou a bandeira da música dançante como principal plataforma política. Mas, ainda que identificado com um gênero considerado fútil – o synthpop, assim chamado pelo farto uso de sintetizadores –, foi estendendo o foco dos quadris até os neurônios. Daí para criticar o estado das coisas em seu 14º álbum, bastou olhar ao redor.



“Estamos indo para trás, rumo a uma mentalidade de homens da caverna”, canta Martin Gahan em “Going Backwards”. Em “Where’s the Revolution”, o alvo é a indiferença geral ante a supressão de direitos, a manipulação e a opressão. Tanto engajamento acaba cansando, é verdade. Como discurso não diverte ninguém, logo surgem “You Move” e “So Much Love” para resolver quaisquer divergências. Quanto a Spencer, a resposta da banda foi lacônica: “He’s a cunt” (expressão tipicamente familiar inglesa que não será traduzida porque esta é uma coluna lida por cidadãos de bem).

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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