20170512

Às mães do pop e até àquelas que não gostam de música

O pai do rock, ensinou Raul Seixas, é o diabo. E a mãe, quem seria? Segundo a Wikipédia, o título vai para Rosetta Tharpe, uma cantora e guitarrista negra que sacudiu os Estados Unidos na década de 1940. Casada com um pastor pentecostal, sua música abalou os dogmas da igreja, mas arrebanhou uma legião de fãs ilustres – entre os quais Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e Little Richard, todos convertidos pela energia da sista. Daí ser atribuída a ela a maternidade do ritmo bastardo.



Em homenagem às mães do rock & demais gêneros que compõem o pop (e até àquelas que não gostam de música, se é que existem), veja abaixo uma lista de músicas que, de forma direta ou enviesada, são dedicadas a elas:

“That’s Allright Mama”, Elvis Presley | Primeiro single do rei, apenas. O que ele não imaginava é como tudo ia ficar muito melhor depois do lançamento da versão endiabrada de um blues de Arthur Crudup, em 1954. Em 7 de julho daquele ano, o DJ Dewey Phillips a tocou na rádio. O resto é aquela história.



“Mamãe Coragem”, Gal Costa | Miudeza escondida no meio dos clássicos do disco-manifesto Tropicália, traz a baiana defendendo a letra de Caetano Veloso e Torquato Neto. Se fosse escrita hoje, talvez sugerisse o celular como antídoto para a saudade. Pode dormir tranquila, está tudo bem.



 “Mother”, John Lennon | Acompanhado por Ringo na bateria e Klaus Voorman (autor da capa do do disco Revolver) no baixo, o ex-beatle abre o primeiro disco solo falando da mãe (“você me teve, mas eu nunca tive você”) e do pai (“você me deixou, mas eu nunca te deixei”). Pela infância que teve, bota autobiográfico nisso.



 “Mande um Abraço pra Velha”, Mutantes | A saudação devia ser endereçada ao que a banda costumava ser até 1972. Foi a última gravação de Rita Lee com o grupo. Dali para frente, sem ela e com Arnaldo Baptista meio desligado, Sergio Dias assume o leme criativo e o frescor descamba para o progressivo.



 “Ave Maria da Rua”, Raul Seixas | Quem vê o maluco beleza simplesmente pelo lado místico-folclórico não sabe o que está perdendo. Sem compromisso com bandeira nenhuma, o baiano abriu o coração para louvar aquela que está “no lixo dos quintais, no amor dos carnavais, no tapa e no perdão, no ódio e na oração”.



“Mother”, Pink Floyd | Como se não bastasse a perda do pai na guerra e o bullying na escola, o atormentado protagonista de The Wall ainda tem que lidar com uma mãe superprotetora. Para a senhorinha em questão, o filho nunca poderá voar, mas ela pode deixá-lo cantar. Resumindo, será sempre um bebê.



“Só as Mães São Felizes”, Cazuza | Certamente muitas das situações listadas foram experimentadas pelo cantor. Certamente também muitas foram inventadas só para infernizar a mãe. A reação de Lucinha Araújo, depois de enterrar o filho, foi a mais carinhosa possível: batizou o livro sobre ele com o nome da música.



“Mãe”, Emicida | Tirando Eminem, está para nascer o rapper que não louve a mãe. Não é diferente entre os manos que rimam em português. O contexto se repete: guerreira, abandonada pelo pai da criança, se desdobrando para o moleque não cair em pilha errada. Aí o cara cresce e vira artista. Valeu a pena.



 “Nem Mãe nem Puta”, Kleyderman | O projeto paralelo dos titãs Branco Mello e Sérgio Britto (mais a baterista Roberta Parisi) teve vida curta nos anos 1990, mas deixou como legado esta obra-prima de concisão em homenagem não somente às progenitoras, como às loucas mais amadas do mundo.



“Coração de Luto”, Teixeirinha | O gaúcho “coração do Rio Grande” fez o Brasil chorar com o relato em milonga & versos da ardente tragédia ocorrida com dona Liduina quando ele tinha nove anos. Só os críticos não ficaram comovidos, dando à canção o cruel apelido de “churrasquinho de mãe”.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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