20180710

Nos 60 anos da Bossa Nova, uma playlist para mostrar a influência do gênero

Era para demorar no máximo quatro horas, tempo que a maioria dos cantores levava para gravar duas ou três canções. Mas não João Gilberto, que podia ser tudo, menos um cantor dado a arroubos operísticos, típico da época. Assim como não era convencional o tipo de música que ele se propunha a fazer para embalar sua voz miúda, quase sussurrada: delicada em vez de grandiloquente, cheia de nuances, com uma batida diferente e harmonias que desafiavam o padrão vigente. A Bossa Nova – como ficaria conhecido o estilo idealizado pelo baiano – pedia passagem.

Depois de muitas brigas de João com os instrumentistas que o acompanhavam para que entendessem a sonoridade que ele buscava, finalmente naquela quinta-feira foram registrados os takes definitivos de “Chega de Saudade” e “Bim Bom” no estúdio da Odeon no Rio de Janeiro. O resto é uma história que completa 60 anos neste 10 de julho, transformada em romance por Ruy Castro no livro homônimo ao lado A do compacto.

Embalada pelo primeiro título do Brasil em Copas do Mundo, conquistado 12 dias antes, a Bossa Nova iria se tornar a trilha sonora de um país com um futuro brilhante. Éramos os reis do futebol, a tenista Maria Esther Bueno ganharia o torneio de duplas de Wimbledon, produzíamos carros e a nova capital logo ficaria pronta. Entre esperanças frustradas e promessas não cumpridas, restou o poder emanado a partir de um banquinho e um violão.

Para Santa Catarina, a Bossa Nova tem ainda um significado especial: o maior nome da música do Estado, Luiz Henrique Rosa (1938-1985), começou identificado com o ritmo e nele compôs algumas de suas melhores canções. O disco independente Mestiço, quando já havia se bandeado para outras paragens sônicas, é o único trabalho do catarinense no Spotify, que fez uma compilação sobre o gênero. Mas na plataforma de streaming se acha material para montar a playlist abaixo, mostrando a influência daquela que seja, talvez, a maior contribuição nacional à cultura mundial.

(obs.: “Blue Island”, creditada apenas a Walter Wanderley, originalmente faz parte de Popcorn, disco gravado em conjunto por ambos em 1967.)


(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

Nenhum comentário: