Não sou Júpiter Maçã, mas também não estou fazendo bem a quem me ama. A começar por mim mesmo, recipiente de um coração acossado por elevadas taxas de triglicerídeos, glicose, colesterol e demais perturbações avessas a procedimentos laboratoriais. Algumas são controláveis por dieta, atividade física e abstinência tabagista. Outras apresentam efeitos incontornáveis que somente o novo trabalho dos Darma Lóvers, Simplesmente, parece amenizar.
Antes de prosseguir, é MISTER avisar que: a) acompanho-os desde a estreia, em 2000; b) já fui ao interior do interior da cidade gaúcha de Três Coroas entrevistar o casal nuclear do grupo, Nenung e Yang Zan, no templo Chagdud Gonpa Khadro Ling e c) não saio de casa sem o meu mala, o terço budista. Sou o que tecnicamente chama-se de fã. Portanto, não tenho nem quero ter a menor condição de discorrer sobre a banda com isenção.
Ainda mais depois que seu quarto disco materializou-se em plástico e papel na minha caixa de correio justamente quando eu me perguntava aonde foi parar aquele menino que queria cantar como o beatle George. “Folk psichedelia” (sic), diz o selo estampado na contracapa, como se o estilo predominante do hoje sexteto representasse uma das Quatro Nobres Verdades. As letras haveriam de trazer respostas mais claras. Para quê, mesmo?
Seja lá sobre o que for, o que Nenung escreve sempre traz algum alento. Sem dogmas, sem cobrança, sem culpa. Mantras em potencial rendem-se na faixa-título, (“amar sem querer mais que amar simplesmente”), acusam o golpe com “Srta. Saudade da Silva” (“entendo que você esteja feliz/ você tem a você e eu não tenho”) e atingem a SUBLIMAÇÃO em “Sem Eira nem Beira” (“busco por ti aqui dentro e me voo/ solto da reta de sempre”).
Transitoriedade, imperfeição e recomeço passam por “Gigante”, oferecendo em versos simples (“sei que não sou nada que possa durar/ mas me reconheço e sei mudar”) um intensivo de budismo para iniciantes. Como mente de principiante é igual a mente zen, os Darma Lóvers não poderiam estar mais alinhados com a não-dualidade, o vazio e a iluminação. Usando o pop como suporte, a banda cumpre o que toda religião promete: jogar um pouco de luz sobre nossos enigmas de desejo & finitude.
OS THE DARMA LÓVERS, Gigante
PS: Para falar a verdade, quase não uso meu mala. Mas li Sidarta na idade certa para jamais esquecer de escutar o rio e assimilar seus conselhos.
2 comentários:
"a não dualidade, o vazio e a iluminação", perfeita descrição.
admirável texto!
Om tare tam so ha
Postar um comentário