20140905

Plant ostenta a arte de envelhecer

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)



O mundo da música anda ocupado demais com calipígias e fanfarrões descartáveis para prestar atenção em Robert Plant. Não sabe o que está perdendo. O novo disco do cantor, Lullaby... and The Ceaseless Roar, tem os pés na África tanto negra quanto árabe visitada em trabalhos anteriores, o coração na América profunda desbravada após passar os últimos anos no eixo Nashville-Mississippi e a cabeça em sua Inglaterra natal, onde voltou a morar recentemente. Isso é que é ostentação.

A décima incursão solo do ex-Led Zeppelin abre com um kologo, uma espécie de banjo africano. Ao longo de 11 faixas, aparecem outros instrumentos exóticos de corda (ritti, tehardant) e de percussão (bendir, djembe). Só que, em vez de estranhamento étnico, o som executado pela banda The Sensational Space Shifters atrai pela delicadeza. A despeito do título do álbum, as “canções de ninar” imperam sobre o “rugido incessante”, mesmo emolduradas por uma voz que já foi conhecida por trovejar.

Ao contrário de várias divindades de sua geração, Plant preferiu a velhice – física – à morte – criativa. Sua força se alimenta da curiosidade, não da potência. É um senhor de 66 anos que seduz nas ternas “Somebody There”, “Pocketful of Golden” ou “Rainbow” e ainda dá seus pulinhos em “Turn It Up”. Ciente da comparação que sempre lhe será desfavorável, ele vem pilotando veículos diferentes há um tempo muito maior do que o período embarcado no dirigível de chumbo. Errou aqui, acertou ali, mas nunca virou uma caricatura de si próprio.

Pronto para conquistar
Saiu mais um sério candidato às listas de melhores do ano. Mean Love, de Sinkane, parte do soul e do R&B para forjar uma sonoridade fina e envolvente. Com influências que vão de Curtis Mayfield em “How We Be” e “Gallen Boys” a Peter Tosh em “Young Trouble”, o sudanês criado nos Estados Unidos esbanja credenciais para ampliar a base de fãs arrebanhada desde o CD Mars, de 2012. Para arrematar, “Hold Tight” alinha-se entre os ritos de acasalamento chiques que fizeram a fama de Sade.



De lamber os beiços
Depois de dez anos de estrada, o baiano Russo Passapusso estreia em disco com Paraíso da Miragem. A moqueca servida pelo músico e compositor leva MPB, rap, samba, reggae, forró e black music maturados por sua atuação nos grupos Baiana System e Bemba Trio. Curumin, BNegão, Edgard Scandurra, Marcelo Jeneci e Anelis Assunção estão na lista daqueles que acompanham a iguaria, disponível para descarrego legal e gratuito em www.russopassapusso.net.

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