20150710

Corações psicodélicos

O título acima, emprestado de um dos hits de Lobão, bem que poderia batizar o novo disco do Tame Impala em vez de Currents. A leitora interessada nas coisas do pop sabe que a banda australiana causou sensação no cenário musical com dois álbuns – Innerspeaker (2010) e Lonerism (2012) – exalando guitarras atoladas de efeitos como se o sonho não tivesse acabado na virada dos anos 60 para os 70. Daí o estupor quando as amostras deste terceiro trabalho começaram a vir à luz. Ou o barato não bateu direito ou os caras estão em outra vibe.



A impressão deixada pelo primeiro single, “Let it Happen”, foi confirmada pelas outras três faixas que precederam o disco, “Cause I'm a Man”, “Disciples” e “Eventually”. O grupo despertou do torpor lisérgico e agora repousa calmamente em uma cama de sintetizadores naquela sonoridade “artificial” da década de 80. Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, o líder Kevin Parker revelou que a inspiração veio depois que ele e um amigo saíram de carro por Los Angeles ouvindo Bee Gees. Detalhe: com a cabeça cheinha de cogumelos.

Aliada à expansão sensorial provocada pela psicotrópico, a levada dos conterrâneos mexeu com o artista de 29 anos. Falsete igual ou até mais potente, ele já tinha. O fim do relacionamento com a cantora Melody Chambers providenciou o resto. “Sim, eu estou mais velho; sim, eu estou seguindo em frente; e se você não acha que isso é crime, pode vir junto comigo”, afina o vocalista em Yes I'm Changing. Quem topar o convite, que esteja preparada para acabar com essa inocência e o complexo de decência no meio do salão.

No páreo
Em III, o trio baiano Maglore vai cada vez mais se distanciando do estado natal, não somente no sentido geográfico. Tirando uma ou outra escorregada no sotaque ou a menção à fitinha do Bonfim logo no verso inicial da primeira música (a boa O Sol Chegou), a banda atualmente radicada em São Paulo encaixa-se naquele perfil de “estética roqueira, postura MPB” (ou vice-versa) que já desgraçou um monte de imitadores de Los Hermanos. No caso do grupo, a receita convence na música já citada, Mantra e Dança Diferente.



ZONA FRANCA ||||||| DISCOS GRÁTIS
O QUÊ Compilação Hy Brazil Vol. 7 - Fresh Electronic Music from Brazil 2015
POR QUÊ Organizada pelo idealizador do festival Novas Frequências, Chico Dub, a coletânea mapeia e apresenta 14 faixas inéditas de produtores nacionais. É sempre enriquecedor constatar que, cada vez mais, a eletrônica presta-se a fins experimentais, indo além da previsível combinação de DJ nas pick-ups, meia dúzia de remixes bombados e todo mundo fritando na pista.
ONDE miud.in/1GEN



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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