20150911

A vida levou cada um deles para um canto

Três moleques cariocas gostavam de hip-hop, skate e maconha. Marcelo, ex-camelô e com um monte de rimas enfumaçadas na cabeça. Bernardo, intelectual da calçada, capaz de empilhar referências tão rápido quanto teorizar sobre o caos. Gustavo, branco de menos para a elite de Niterói, bem-nascido demais para os subúrbios do Grande Rio. Encontraram-se no Planet Hemp e estavam escrevendo uma história interessante no pop nacional. Até que a vida levou cada um deles para um canto.

Gustavo, o Black Alien, estreou solo em 2004 com Babylon by Gus – Vol. 1: O Ano do Macaco, um trabalho urbano com influências jamaicanas. Depois, o rapaz descambou e só agora chega ao segundo volume, No Princípio Era o Verbo. A reabilitação o tornou careta também nas letras, eivadas de bons costumes e valores corretos. Ainda bem que a música salva & liberta da pregação sacal.



É quando entra Céu para um dueto astral em “Somos o Mundo”. Ou na levada reggae de “Falando de Meu Bem” e “Terra”, que em manha só perdem para o samba insinuado em “Homem de Família”. Deixa o cara celebrar: está limpo, arrumou dinheiro para bancar sua volta via financiamento coletivo e quer dividir o novo momento com todos. Baixe-o gratuitamente.

Quis o acaso que Bernardo, o BNegão, lançasse disco quase no mesmo dia que o antigo colega. TransmutAção reflete a gama de temas e estilos que ele sempre curtiu. Filosofia de rua, conspirações e cenas do subdesenvolvimento cruzam-se em pancadões (“No Ar”, “Giratória”), gafieiras (“Fita Amarela”, “No Amanhecer”) e rap (“Mundo Tela”). Viabilizado pela Natura, é o terceiro álbum de sua banda, os Seletores de Frequência – e está disponível para download aqui.



Marcelo, o D2, você conhece. Apagou o Planet Hemp, foi procurar a batida perfeita e achou fama e fortuna. Nos raros momentos de autocrítica, olha para o que aconteceu com os outros dois e fica satisfeito com as escolhas que fez.

(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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