20150904

A besta despertou – e está a fim de briga

O metal atual tem muitas caras. Pode ser new, rap, doom, death, grind, funk. Quando era só heavy, o Iron Maiden reinava soberano. É essa condição que o 16º disco da banda escancara. À disposição a partir desta sexta, The Book of Souls acrescenta marcos em uma carreira repleta de superlativos. Com 92 minutos de duração, é o mais longo trabalho e o primeiro álbum duplo (em vinil, triplo) de inéditas do grupo, que nunca havia ficado tanto tempo sem gravar. Depois de cinco anos hibernando, a besta despertou novamente. E com todo o gás.

O disco ficou pronto no ano passado, mas seu lançamento foi adiado para que o vocalista Bruce Dickinson se tratasse de um câncer. Nem parece que a doença o atacou logo na boca: quaisquer dúvidas a respeito de sua voz convalescente – e quase sexagenária – dissipam-se no single “Speed of Light”, com aquela potência que, se não é mais a mesma, ainda ecoa com a força de um trovão. Uma das melhores da temporada, a música sinaliza não apenas a recuperação de seu frontman, como do grupo inteiro.



O cowbell na introdução, aliado ao riff matador, deixa claro que vem por aí um rock direto e vigoroso, como nos primórdios. A sensação é intensificada por velhos truques de eficiência comprovada. O corinho em “The Red and the Black”, repetido à exaustão, vai estremecer estádios. O andamento de “Death or Glory” e “Shadows of the Valley” é digno dos grandes momentos da banda. Até a arrastada “The Great Unknown”, assim que engrena, faz lembrar porque o Iron Maiden tornou-se imprescindível na formação do caráter da molecada.

Mesmo com seus excessos, o disco redime o grupo de pecados progressivoides cometidos no passado recente – incluídos na conta os 18 intermináveis minutos de “Empire of the Clouds”. Além de Dickinson, todas as características que conquistaram uma legião de fiéis seguidores para a banda estão em The Book of Souls: o baixo galopante de Steve Harris, as guitarras gêmeas de Dave Murray e Adrian Smith (às vezes trigêmeas, com Janick Gers), a bateria de Nicko McBrain despencando em viradas inacreditáveis, a mascote Eddie na capa. O fã já estava com saudade.

Arca de tesouros
Com The Arcs, Dan Auerbach estende a fase criativa pela qual vem passando nos últimos anos. Como Jack White, Danger Mouse ou Pharrell Williams, em seu projeto paralelo a metade dos Black Keys atinge um padrão de qualidade de dar inveja: quando não está muito inspirado, é no mínimo nota 7; quando está, não tem para ninguém. Na estreia da banda, Yours, Dreamily, o americano oferece um som mais elaborado do que o do grupo-matriz, adoçando seu blues garageiro em “Put a Flower in Your Pocket”, “Pistol Made of Bones” e “Everything You Do (You Do for You)”.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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