20160517

O eterno verão da esperança

Mulher e negra, a carioca Marcela Vale, 29 anos, não teria vez neste governo anômalo que tomou o Brasil de assalto. Mas aqui o espaço de Mahmundi – como ela assina – está garantido. Porque, independentemente de sexo ou cor, a cantora, compositora e multi-instrumentista acaba de estrear com um autointitulado disco alentador. Para enxotar o desânimo, sua arma é o pop sintetizado da década de 1980.

Sem soar datado, o álbum esbanja teclados e batidas programadas como se no país ainda imperassem os novos tempos preconizados pela Nova República. Na praia de Mahmundi, pelo menos, dias felizes resistem em letras que evocam um estilo de vida regido pelo sol, mar e romance. Por mais que os fatos autorizem o contrário, dá para acreditar quando, qual uma Marina Lima rebobinada, a moça canta que “tudo vai melhorar para nós dois” em “Eterno Verão”.



A temporada sem fim em vigor no álbum inclui faixas de EPs anteriores, como “Calor do Amor” e “Desaguar”. Ambas de 2012, já chamavam a atenção para a artista que começou entoando gospel na igreja do subúrbio. Da fornada que veio à luz em 2016, “Hit” faz jus ao título e entrega o espírito do trabalho: “No meu coração, fiz um disco para lembrar você”. O verso não estaria errado caso se referisse à esperança.

Criolo revisita tempo de doido
Dez anos depois do lançamento, Criolo reedita seu primeiro disco, Ainda Há Tempo. Da época em que o rapper atendia por “doido” e ainda não tinha caído nas graças do mainstream, o álbum ganhou capa chique e teve recauchutadas oito das 22 faixas da versão original. Claro que hoje o mano tem a sabedoria de quem não precisa mais resolver no tiro, mas as sementes do que ele iria se tornar já estavam presentes nesta estreia. Tanto no discurso, aliando contundência e poesia em faixas como “É o Teste”, “Tô pra Ver” e “Até me Emocionei”, quanto nas batidas, expandindo os horizontes do hip hop nacional. Baixe-o legal e gratuitamente aqui.




 ANÇAMENTOS



Electric Citizen, Higher Time – Em seu segundo disco, o quarteto vindo de Ohio que o parta continua fazendo rock pauleira às vezes arrastado, eventualmente acelerado e sempre barulhento. Seu diferencial – vocal feminino – é também sua maldição: há momentos em que as melodias de Laura Dolan destoam de riffs promissores como em “Social Phobia” e “Natural Law”.



Vinolimbo, Emerge – Tema da primeira aparição desta coluna (no longínquo agosto de 2014), Murilo Mattei persevera com as colagens sonoras que emana de Florianópolis para o mundo. Neste EP composto por quatro faixas (é só pegar) com a duração de vinhetas ampliadas, ele não dispensa os habituais flertes com jazz e bossa nova para forrar as texturas ambient que chegam ao ápice em “Extrovert Loner”.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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