20160712

Homenagem ao rock

O rock. O rock é aquele tiozão do pavê que causa mais pena do que constrangimento com suas piadas manjadas. Ninguém mais nem finge que presta atenção no que o rock diz. A gente olha o rock e pensa: olha só o que ele se tornou. O rock já foi má companhia e influência pior ainda. O rock tinha fama de falar aquilo que todo mundo só pensava, mas ninguém tinha coragem de dizer. O rock era inconveniente. Lembra daquele vez que o rock jogou umas verdades na cara de todo mundo? Era tão massa, o rock. Tão doido, tão rebelde. Coitado do rock.

Por qualquer ângulo que se analise o rock, o cenário é desesperador. O antigo gênero que escandalizava pais hoje é a trilha sonora dos antros mais reacionários da sociedade. O rock catalisava os anseios da juventude, hoje não serve nem como ritmo para as paródias entoadas nas manifestações conservadoras. O rock era uma ameaça, hoje embala shows para plateias de empresários encharcados de uísque e ávidos para escutar os clássicos de uma banda predileta que não lança nada decente há 40 anos.

O rock era o lugar para onde iam os desajustados, os perturbados, aqueles que se sentiam deslocados em uma rea­lidade encomendada para celebrar os vencedores. O rock era o falso perdedor, o derrotado que contaminava todo o sistema. O rock desafiava a ordem. O rock aliviava o sofrimento e injetava energia para lutar. O rock era libertário. O rock dava tesão. O rock anda tão decadente que tem até um dia em sua homenagem – por acaso, nesta quarta-feira. Vida longa ao rock.

O gosto e o sumo da manga rosa
Depois de revisitar o cancioneiro de Engenheiros do Hawaii, Belchior, Paralamas do Sucesso e Milton Nascimento em coletâneas com artistas independentes, o site Scream & Yell aponta suas baterias para Alceu Valença. O pernambucano de 70 anos – 45 de carreira – e 24 álbuns é o alvo de Ainda Há Coração, tributo em que nomes da nova e da novíssima safra do pop nacional subvertem 14 amostras dos rocks, xotes, maracatus, emboladas e frevos de sua rica obra. Entre os hits, “Tropicana” ganhou delicada roupagem de Nevilton (PR) e “Anunciação” flerta de leve com a psicodelia na voz de Luiza Lian (SP). Já em “Bobo da Corte”, Camila Garófalo (SP) capricha na essência roqueira da versão original. Baixe o álbum gratuitamente aqui.




 ANÇAMENTOS



Metronomy, Summer 08 – O inglês Joseph Mount manteve o nome da banda, mas fez tudo sozinho no quinto álbum. Na concepção do mancebo, verão é época mais propícia para timbres sintéticos, scratches e batidas do que para a pegada indie que acompanhava a descrição do grupo. A estação fica mais quente com “Old Skool”, “16 Beat” e “Miami Logic”.



Maria Luiza, Jazz in Bossa, Bossa in Jazz – Neste EP com quatro faixas, a cantora que tem um pezinho em Florianópolis se arrisca no repertório, com um clássico de Tom Jobim (“Fotografia”) e outro já gravado por gente como Billie Holliday e Marisa Monte (“Speak Low”). A interpretação, porém, investe no seguro, sem tentar reinventar a roda.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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