20160913

Dez anos depois, o que foi feito de nós

No lugar do ringue, um palco. Em vez de combates que acabavam quando alguém dissesse “pare” ou perdesse os sentidos, shows de 40 minutos que terminavam aos gritos de “mais um” e com a sensação de noite ganha. Tyler Durden nem sonhava, mas Florianópolis também teve o seu Clube da Luta. Era uma espécie de cooperativa surgida em 2006 que organizava, bancava e promovia shows de bandas locais. Enquanto a estranha confraria do filme homônimo mantinha sigilo sobre sua existência, na versão manezinha a principal regra ressaltava o caráter autoral dos desafiantes: “Você não faz músicas que não são suas”.



Os “combates” ocorriam duas vezes por mês, sempre com dois ou três grupos, para cerca de 200 pessoas geralmente em uma casa sob a cabeceira insular da ponte Hercílio Luz. Não demorou para o movimento se consolidar como uma alternativa viável para artistas que preferiam se mexer a reclamar da falta de apoio – e para gente interessada em conhecê-los por sua música, não para “dar uma forcinha”. A impressão era de, finalmente, a cidade comportava uma cena de verdade, com talento suficiente para seus representantes competirem em outras praças do país e ninguém esperar por um novo Dazaranha.

Foi nessa expectativa que o Clube da Luta comemorou o primeiro aniversário com apresentações de dez associados: Maltines, Coletivo Operante, Luciano Bilu, Aerocirco, Os Berbigão, Tijuquera, Rufus, Gubas & Os Possíveis Budas, Andrey e a Baba do Dragão de Komodo, Ilha de Nós, Kratera e Samambaia Sound Club. Passados dez anos, mudaram formações, nomes e pretensões. Mas ficaram os registros fotográficos de Cassiano Ferraz [no impresso saiu Fagundes, o Cassim que toca com Barbaria – tremenda babada pela qual só resta pedir desculpa]. Até 16 de outubro, o Museu da Imagem e do Som (MIS) lembra aquele breve período em que foi possível acreditar que Florianópolis deixaria de ser um ponto de interrogação no mapa musical brasileiro.

Oceano de emoções
Mais do que pelos hits escritos para Justin Bieber e John Legend, Frank Ocean tornou-se conhecido por ser o primeiro rapper a ter coragem de se assumir como homossexual em um estilo dominado por machos-alfa e biatches. Para o bem de si próprio, porém, sua carreira não depende das preferências afetivas e vem sendo construída por discos acima da média. O último deles chama-se Blond, lançado quase que simultaneamente ao álbum visual Endless. É uma coleção de canções contemplativas entre o rap e o R&B, em que a força dos beats abre es­paço para a delicadeza das melodias. Se você não se co­mover com “Pink + White”, talvez esteja precisando de um cardio­lo­gista.




 ANÇAMENTOS



Aíla, Em cada Verso um Contra-Ataque – Mais uma revelação que o Pará esfrega na nossa cara, a cantora faz de seu segundo disco uma profissão de fé no poder feminino. A causa é embalada por um pop que agrega MPB, ritmos regionais e modernidades, resultando em um caldo que entretém e conscientiza com libelos como “Lesbigay” ou “Será”. Baixe-o gratuitamente aqui.



Faith No More, We Care a Lot – Lançada em 1985, a estreia da banda já continha os elementos do funk metal que conquistaria o mundo (sobretudo o Brasil) nos anos 1990. Além da disposição do então vocalista Chuck Mosely, esta reedição traz demos, remixes e faixas ao vivo. Pena que o sucesso posterior deixou tudo muito datado.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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