20160906

Muito orgulho, muito amor

Independência isso, independência aquilo, mas independente mesmo é o Infrasound Fuzztival. Como o nome denuncia, trata-se de um minifestival que ocorre hoje a partir das 19h no Taliesyn Rock Bar, em Florianópolis. A escalação é encabeçada pelo Muñoz Duo, que está lançando o disco Smokestack. A nova manifestação do rock chapado dos mineiros serve de pretexto para uma rapaziada nervosa promover “a noite mais brutal da Terra” no acanhado palco do local: Red Mess, Pantanum, Cattarse, Ruí­nas de Sade e Katss. Apelo comercial, zero. Mesmo assim, tudo é feito na raça, sem promessas vazias para cativar adeptos.



Amanhã, é a vez da banda Boogarins se apresentar – em Sevilha. A perna ibérica da turnê dos goianos pela Europa começou no dia 1º, na portuguesa Coimbra. Na Espanha, tocarão também em Madri, Barcelona, Oviedo e Santiago de Compostela. Antes de cruzar o oceano, haviam mostrado a psicodelia caipira de seu Manual ou Guia Livre de Dissolução de Sonhos pelos Estados Unidos. Cantando em português um gênero dominado pelos gringos, o grupo está conquistando o que muita estrelinha venderia a alma ao diabo para obter. A proeza torna-se mais legítima quando se sabe que não há esquemas por trás, apenas receptividade natural.



As pretensões de Sammliz são mais modestas. Longe dos comparsas da banda em que defendeu os vocais por 11 anos – a metálica Madame Saatan –, a cantora paraense revela uma insuspeita versatilidade na estreia solo, Mamba. Há espaço para pós-punk, eletrônica e até alguma brasilidade, representada pelo arremedo de brega oitentista em “Quando o Amanhã Chegar”. Para viabilizar o trabalho, ela inscreveu-se no edital de uma marca de cosméticos e, como vários outros concorrentes, seguiu as regras. Simples e transparente, sem subterfúgio que a beneficiasse. Viva a música brasileira!



Alma intacta
Bancado por US$ 600 mil arrecadados via financiamento coletivo, And the Anonymous Nobody marca a volta do De La Soul após 12 anos. A novidade é que neste disco o trio de rappers nova-iorquino reaparece escorado por uma banda “convencional”, e não pelos samples e colagens típicos do gênero. A pegada, porém, continua entre o experimental e o old school, com uma lista de participações estelares. E vem dos convidados os melhores momentos, como a infalível “Pain”, com Snoop Dogg, e a alternativa “Here in After”, com Damon Albarn.




 ANÇAMENTOS



Baleia, Atlas – O sexteto carioca vem com um conceito ousado, reunindo disco e livro de 32 páginas assinado por Lisa Akerman. O abstracionismo das ilustrações traduz o caráter da música, afinada com as modernidades e de digestão que requer mais de uma audição. “Hiato” ou “Estrangeiro” estimulam a insistência.



Stars Ah Shine – Coletânea com as produções do jamaicano Tapper Zukie para a Star Records entre 1976 e 1988. Sim, reggae do prensado, ideal para aqueles momentos em que a atitude mais coerente é abandonar o pensamento cartesiano. Feche os olhos e deixe a alma passear levada pelos aromas de “Bosra” (Prince Alla) e “Morgan the Pirate” (The Mighty Diamonds).



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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