20161220

Malandro também ama

Malandro não para, malandro dá um tempo. No caso de Mano Brown, um período de quase uma década desde que surgiram os primeiros rumores sobre seu disco solo. A estreia do rapper longe dos parceiros do Racionais MC's vinha sendo propagada como uma imersão ao funk, soul e R&B que o encantavam nos anos 1970 e 1980. Quanto mais demorava para sair, maior a expectativa. Finalmente lançado nos estertores deste 2016 tão fora da curva, Boogie Naipe entrega o que o single “Mulher Elétrica” – também presente no álbum – já prometia em 2009. Bem ou mal, você nunca ouviu Brown falar dessas coisas desse jeito.



Malandro não conversa, malandro desenrola uma ideia. Para revisitar a sonoridade dos bailes black sem se tornar mero decalque, ele se cercou de representantes do suíngue de ontem e de hoje. Das antigas, vêm o soulman carioca Hyldon (na autoexplicativa “Foi num Baile Black”) e o produtor americano Leon Ware, que recorre à experiência adquirida nos estúdios da gravadora Motown para revestir com classe e elegância o embalo de “Felizes (Heart 2 Heart)”. Da atualidade, aparece gente como Seu Jorge (que empresta “Louis Lane”) e aquele que poderia dividir os créditos do disco, Lino Krizz, com seu falsete a afinar de “Gangsta Boogie” a “Flor do Gueto”.



Malandro não ama, malandro sente desejo. Aí, não. Um dos baratos de Boogie Naipe é justamente trazer Brown se despindo da marra para bancar o cantor romântico. Um pouco desengonçado, é verdade, mas não deixa de ser inusitado aquele vozeirão grave a empostar versos como “Quem levou a pior fui eu/ Um dia fomos um só/ Pensei que jogo louco é o amor/ Quem ama sai perdedor” (“Mal de Amor”). Embora calejado na escola das ruas, sua falta de traquejo com as armadilhas do coração só escancara aquilo que todo marmanjo deveria saber: mulher mete mais medo em homem do que qualquer bandido.

Oásis sônico
No deserto eletrossertanejo que virou a programação de final de ano em Florianópolis, a vinda de uma banda como Os Camelos parece uma miragem. O trio carioca desembarca na cidade com um oásis sônico de jazz, baião, maracatu, silêncio e poesia para matar a sede por música orgânica & instigante. A turnê começa no Taliesyn Rock Bar (dia 24) e prossegue no Natural Veggie Hostel (27 e 31), La Cave (28 e 29), Blue Bird (5 e 6 de janeiro) e Botequim Floripa (7). O “instrumental popular” do grupo – composto por baixo, sax e djembe – pode ser conferido no disco Ampulheta, disponível no Bandcamp para audição (gratuita) ou download (o preço que o usuário desejar, inclusive nada).




 ANÇAMENTOS



The Weeknd, Starboy – Queridinho da crítica, o canadense Abel Makkonen Tesfaye continua a ascendente trajetória ao estrelato que experimentou com “Can't Feel My Face”. Desta vez, para que mais pessoas descubram sua pegada à Michael Jackson e Prince, ele convocou Daft Punk (na faixa-título e em “I Feel it Coming”) e Kendrick Lamar (“Sidewalks”).



Pharrell Williams, Hidden Figures – Como fez em Meu Malvado Favorito, de onde saiu o hit “Happy”, o cantor estrela a trilha sonora de um filme (Estrelas Além do Tempo, no título em português) na qual só tem a ganhar. Se nada acontecer, carreira que segue. Se emplacar outro sucesso interplanetário, seu próximo disco já nasce fadado ao milhão.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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