20170307

E o Oscar de canção original vai para... Não, pera

Ainda bem que o lance do Oscar é cinema. Porque se fosse música, pelamor. Salvo as exceções que só confirmam a regra, geralmente as vencedoras das categorias trilha sonora original e canção original caem no esquecimento antes mesmo de acabar a cerimônia de premiação. Quem ganhou neste ano, você se lembra? La La Land em uma, “City of Stars” (do mesmo filme) em outra. O dueto de Ryan Gosling e Emma Stone é bonitinho e tal, mas talvez não sobreviva longe da trama à qual pertence, ao contrário de músicas ouvidas nos demais concorrentes.



Risco que o tema de Trolls, por exemplo, não corre. Ninguém precisa ver a animação da Dreamworks para se animar com “Can’t Stop the Feeling”, mais uma amostra da fábrica de hits de Justin Timberlake. O xis da questão está na palavra “original”, condição que exclui da corrida pela estatueta do homenzinho dourado faixas produzidas para fins que não embalar as histórias levadas à telona. O critério impede que clássicos do quilate de “Like a Rolling Stone” (de Bob Dylan), usada em Passageiros, sonhem com o troféu – apenas a trilha do drama, inédita, competia.



Tudo isso para dizer que, tirando a originalidade imposta pelo regulamento, Moonlight seria um forte concorrente também em canção. Pelas suas quase duas horas desfilam petardos identificados com a negritude de todas as épocas. Do baú, vêm o soul de “Every Nigger is a Star” e “One Step Ahead”, defendidas por Boris Gardner e Aretha Franklin. Da safra mais contemporânea, há o R&B de Erykah Badu (“Tyrone”) e o rap de Goodie Mob (“Cell Therapy”) e Prez P (“Play that Funk”). Não se envergonhe, porém, se sair do multiplex cantarolando “Cucurrucucu Paloma”. A interpretação de Caetano Veloso martela até hoje na cabeça dos jurados da academia.



Suave na gravidade
Ninguém fez melhor a conexão entre ritmos jamaicanos e eletrônica do que o Dreadzone. Em mais de 20 anos na ativa, os ingleses sempre engordaram reggae, dub e dancehall com beats e breaks. O recém-lançado Dread Times não apenas mantém os ingredientes dosados na medida certa, como ressalta qualidades específicas de cada um. A combinação permeia todo o disco, com destaque para as batidas que invadem “Battle”, “Escape”, “Rootsman” e “Keep it Blazing”. É brisa para todos os climas.




 ANÇAMENT
OS



The Brian Jonestown MassacreDon’t Get Lost – Além de um dos nomes mais legais da atualidade – junção do ex-stone morto em 1969 com o suicídio coletivo promovido pelo fanático religioso Jim Jones na Guaiana em 1980 –, a banda californiana tem a manha de explorar o lado menos ensolarado da psicodelia. Bad trips das boas saúdam o incauto viajante em “Groove Is in the Heart”, “Melodys Actual Echo Chamber” ou “Open Minds Now Close”.



Father John Misty, Pure Comedy – O cara é superelogiado, herói indie e o escambau. Aí você vai escutar o disco novo do figura e não acredita, pensa que seus ouvidos estão lhe pregando uma peça. Na falta de uma referência mais cool, acha parecido com Elton John (?!). Beleza, mas permanece um mistério o porquê de tanto frisson.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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