20170228

Até Chay Suede caiu no conto sem graça dos Figueroas

Começou com uma mensagem no WhatsApp – “olha isso, kkk” –, seguida por um link. Era um clipe com um maluco em um campo de futebol dançando os passos que imortalizaram Beto Barbosa e cantando uma música tosca. Figueroas, Lambada para Bangladesh, hahaha, OK, próximo, por favor. Dois anos depois, o que era para ser uma besteira de rápido consumo e mais rápido ainda esquecimento aparece com um disco inteiro. O álbum chama-se Swing Veneno e traz a voz do galã Chay Suede em duas vinhetas. Quanto riso, ó, quanta alegria. Quanta preguiça, isso sim.



Nada contra humor. Desde que seja engraçado, coisa que os Figueroas não são. A menos que você ache graça de qualquer bobagem, a chance de rir com eles é mínima. E, ainda que caia na gargalhada, não é porque curtiu uma piada que irá querer ouvi-la de novo. Aí, danou-se, já que o único apelo da dupla alagoana é esse: letras primárias, compostas por versos que repetem o nome da música à exaustão (“Boneca Selvagem”, “Lambada das Nações”, “Melô do Beijo” etc). Influenciada por guitarrada, carimbó, brega, cumbia & quejandos, a mistura até poderia dar um caldo interessante.

O problema é essa obsessão por um lado cômico que não existe. Mesmo a releitura de “Não Há Dinheiro que Pague” (gravada por Roberto Carlos em 1968), que com a bagagem sonora carregada pelos Figueroas teria tudo para render um épico da sofrência, limita-se ao refrão entoado ad nauseam. Como senso crítico não parece ser o forte do pessoal que se diz indie, hipster ou algo equivalente, não será surpresa se Swing Veneno virar objeto de culto. Para uma geração acostumada a se refugiar no escudo da ironia, a suposta irreverência da dupla desce numa boa. Não instiga, não provoca, não incomoda.

Blues do deserto
Descoberto pelo Ocidente nos anos 2000, o Tinariwen reafirma sua força no disco Elwan. O “blues do deserto” do grupo arrebanhou fãs entre o circuito alternativo dos Estados Unidos como Kurt Vile (do War on Drugs), Matt Sweeny (que já trabalhou com Johnny Cash e Cat Power) e Alain Johannes (produtor do Queens of the Stone Age). A participação deles no álbum incorpora doses de folk americano aos ritmos tradicionais da região natal do grupo, a cadeia montanhosa do Saara entre o nordeste de Mali e o sul da Argélia. É coisa de outro mundo para ouvidinhos acostumados com pop simplório, mas quem der uma chance dificilmente vai passar incólume.




 ANÇAMENT
OS



Thundercat, Drunk – Alinhada com gente esquisitona tipo Flying Lotus na renovação da música negra, a cria do baixista americano Stephen Bruner passeia pelo jazz-funk com escalas pelo soul e pelo rap. Não desce fácil de primeira, fato. O barato, aqui, é se acostumar com as camadas contidas em faixas como “Walk on by”, com Kendrick Lamar.



Sly & Robbie Revisit Bob Marley – Um baterista e um baixista com longa folha de bons serviços prestados ao reggae resolve revisitar o papa do gênero. Não tem como dar errado, certo? Tem. As versões são tão desinspiradas que em muitos momentos resvalam para um clima asséptico de sala de espera de consultório médico.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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