20210922

...E o evento elevou



Em 2014, o U2 soltou o disco How to Dismantle an Atomic Bomb Songs of Innocence. Promovido como “o maior lançamento do mundo”, o álbum foi mostrado durante a apresentação do sexto modelo de um espertofone. No dia seguinte, estava disponível de graça nos celulares dos 500 milhões de clientes da loja digital da fabricante, mesmo de quem não tinha o menor interesse pela banda irlandesa.

Muitos se lembram dessa estratégia de marketing – e da aporrinhação que era para se livrar daqueles arquivos. Um número bem inferior de pessoas consegue citar o nome do disco ou do de qualquer uma de suas 11 faixas. Todo o frisson em torno do novo trabalho de um dos gigantes da indústria fonográfica se esvaiu assim que o resultado chegou ao público.

A história se repete com os recentes trabalhos de Marisa Monte e de Kanye West. Pelo tamanho dos envolvidos, receberam tratamento de eventos. Portas foi festejado simples e automaticamente por representar o retorno da cantora após dez anos. Donda, embora não esteja tão longe do antecessor (Jesus Is King, de 2019), teve pré-audições com o próprio rapper em estádios nos EUA e em carros de som espalhados pelo planeta.

Ambos ganharam ampla cobertura da mídia, mobilizaram fãs e ouriçaram toda uma cadeia produtiva, como convém a medalhões. Em seguida, desapareceram. Ou o orçamento para divulgação acabou, ou a música não convenceu. Não ouvi ainda. O desafio dos dois me parece muito maior do que ocupar espaços que o dinheiro pode comprar: chamar a atenção em um cenário que forja e descarta sucessos em velocidade tiktóxica.

(Extraído da newsletter Extrato. Assine já e garanta o seu exemplar antecipado todas as terças!)

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