Vai ter muita gente boa falando de coisa importante para a inexorável ascensão profissional dos colegas na sétima Semana de Jornalismo da Ufsc, que começou hoje e segue até o dia 19. E eu, expelindo teses rasas sobre crítica musical, na quarta-feira (17), das 9h ao meio-dia. Participo do negócio pela quarta vez, todas comprovadas pelo atestado em papel timbrado da academia e assinado pelo coordenador do curso. Deve ser algum tipo de recorde: passam os estudantes, passam os organizadores, passam os palestrantes e lá estou novamente, contando que a maior satisfação neste ofício é descobrir que uma resenha consegue estragar o café da manhã de Marisa Monte em Nova York.
A fim de escandalizar ainda mais os desavisados que se inscrevem para a atividade, neste ano resolvi me preparar melhor. Pesquisei a história, revisei conceitos, indiquei bibliografia. Mas nada do que eu apresente vai refletir com tanta fidelidade o que penso do que esta análise de Ricardo Alexandre. A partir de um fato isolado, o jundiaiense mais polêmico a despontar para a mídia nacional desde Cida Marques revela a série de equívocos que vêm permeando a relação entre artista e crítica no Brasil. A única diferença é que agora a arenga se dá via blog. Não deixa de ser um avanço.
De forma sucinta e precisa, Ricardo explica: "A imprensa alimenta o sonho, bobões". Do público e da própria imprensa, completaria eu. Porque quando respondíamos pela parte musical do extinto suplemento Zap!, do Estadão, o que publicávamos era movido por "ideais". Éramos, acima de tudo, crédulos: acreditávamos nos artistas e, principalmente, em um suposto poder atribuído ao que escrevíamos. Nossas críticas, imaginávamos, orientariam mercado, artistas e consumidores. Até que saiu uma pesquisa encomendada pelo jornal, em 1996, na qual nossos leitores elegeram Carla Perez como "artista do ano".
De lá para cá, minha trajetória tem sido uma cruzada pessoal e intransferível contra a realidade que insiste em destruir o que havia de mais precioso no jornalismo que eu praticava. Se artista e público abdicaram de sonhar, pior para eles. Por isso é que hoje fico muito mais satisfeito escrevendo sobre assuntos com os quais não me afino do que sobre a música que me é cara. Fazer crítica musical no Brasil é tentar dignificar uma bobagem ou, como Ricardo lembrou, uma piada em debate, citando o surreal quadro homônimo do programa TV Pirata.
Daqui da minha laje, recorro à comparação com o filme Boogie Nights. Lançado em 1997, retrata a ascensão de um jovem astro no cinema pornô dos anos 1970. Por mais toscas e explícitas que fossem as produções, os envolvidos acreditavam que estavam fazendo arte – até o advento do VHS na virada da década, que literalmente fodeu com tudo ao baratear o processo, provocando a explosão da oferta e o conseqüente (sem trocadilho) nivelamento por baixo.
Na música, o VHS é a internet. Só não sei se a analogia se aplica melhor à crítica (qualquer um publica a sua opinião), aos artistas (qualquer um compõe, toca e grava) ou ao mercado (qualquer um coloca seu disco à disposição na rede). Mas, independentemente de quem perca menos nessa briga, o papel de Dirk Diggler é meu e ninguém tasca. Enquanto eu atendo minha Rollergirl, curta esse som da trilha do filme.
WALTER EGAN, "Magnet & Steel"
Um comentário:
eu te amo, tomate.
(e sobre a música brasileira: nosso louco amor está em seu olhar (...) / já foi assim, mares do sul / entre jogos de luz, beleza sem dor, a vida sem fogos selvagens (...) - hoje tá tudo tão diferente...)
ah, sou mais o ed motta que o alvaro pereira junior (SEMPRE!).
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