20091216

Menos 64 dias

Por um desses insondáveis desígnios da Providência, a indústria fonográfica aproveitou o jubileu de prata de Unforgettable Fire, do U2, para relançá-lo remasterizado, com faixas bônus e o escambau, na mesma época em que me exilei em Santantônio dos Anjos da Laguna. Nada mais adequado para embalar minha temporada na cidade.

Nunca acompanhei um disco dos Beatles, do Led Zeppelin, de Bob Marley assim que saíram porque ainda não tinha nascido ou era criança demais para me importar. Com o LP da então desconhecida banda irlandesa, não. Tão logo li que iria ganhar edição nacional (se minha memória não me trai, em 1985, um ano depois de seu lançamento no exterior), corri para a Record, a única loja do pedaço que vendia vinis e cassetes. Jamais havia ouvido U2 antes. Mas ouviria muito pelas próximas décadas – e contando.

Naqueles tempos risonhos e francos, era “Pride” que eu escutava quando queria cantar junto, “Bad” quando queria impressionar a gatinha e “Elvis Presley and America” quando queria bancar o doidão sem ter experimentado nem tabaco. Hoje, não reconheço mais o bairro em que cresci. A casa do Dudu agora é uma loja, a do Xulipa (onde antes morava o Ubiratan) está à venda, a do Lucius deu lugar a um edifício.

Meus pais também se mudaram. Não tenho mais quarto na casa deles. Vivo calado, não sinto necessidade de convencer ninguém de que eu valho a pena e eventuais alterações da consciência só têm me servido para acentuar dissabores. Apenas os harmônicos da guitarra de The Edge continuam me causando o mesmo bem-estar. Certo estava Bono, que virou um cínico.

U2, Wire

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