20150807

É preciso sobreviver

Elvis Presley voltou para o estúdio da Sun Records para registrar seu segundo compacto caseiro e deixou endereço e telefone para o empresário Sam Philips entrar em contato. Ainda sob o nome de Quarry Men, os Beatles pagaram o equivalente a R$ 152 em valores atuais para gravar uma demo com “That’ll Be the Day”, de Buddy Holly, e “In Spite of All the Danger”, de Paul McCartney e George Harrison. James Brown e seus Famous Flames foram contratados pela gravadora Federal por 200 dólares. O Black Sabbath estreou com o disco homônimo, feito em dois dias a um custo de 600 libras.



Jimi Hendrix parou no hospital com queimaduras nas mãos depois de atear fogo na guitarra durante a abertura de sua temporada de 24 datas pela Inglaterra. Bob Marley embarcou para visitar a mãe em Wilmington, no estado americano de Delaware, e por lá se empregou como operário na Chrysler, a despeito do single com “Simmer Down” estar bombando na Jamaica. O Clash viu as três apresentações da turnê conjunta com os Sex Pistols serem canceladas por medo da violência dos punks. O Cure foi dispensado pela gravadora alemã Hansa por insistir em gravar um disco com material próprio em vez de covers.

João Gilberto, sempre atrasado para os ensaios do grupo Garotos da Lua, acabou despedido. Jorge Ben sofria por não se encaixar na Bossa Nova nem na Jovem Guarda e tampouco no samba tradicional. Os Mutantes venderam menos de 200 exemplares do compacto com Suicida e Apocalipse. Tim Maia finalmente despontou com “Meu País” e “Sentimento”, mas nenhuma das duas canções trazia a indicação de que ele era o autor. Raul Seixas ia a pé de Ipanema, para onde havia se mudado em busca de um futuro na música, até o centro do Rio do Janeiro para economizar o dinheiro que não tinha na divulgação do trabalho de sua banda, Os Panteras.

As situações acima aconteceram no primeiro ano de carreira dos artistas mencionados. É no que a coluna se agarra e com que se conforta às vésperas das bodas de papel, amanhã. Parabéns a todos os envolvidos.

Dormir faz bem à saúde
Deu a louca no mercado fonográfico brasileiro. Ao mesmo tempo que discos como a estreia do FFS (o supergrupo nascido da junção de Franz Ferdinand e Sparks) e Currents (a fossa psicodélica do Tame Impala) ganham edições nacionais, uma grande gravadora aposta em um troço chamado Le Raleh. O trio chega apadrinhado pelo titã Tony Bellotto, que escreve a respeito:

“Le Raleh faz lembrar da Bossa Nova, quando garotos cariocas misturaram samba e jazz para criar uma nova linguagem musical. A falta de preconceito musical da Le Raleh proporciona uma mistura original de samba, rock e reggae que vale a pena ser ouvida. A não ser que, como eles dizem, num dia de sol, numa tarde de domingo, você ache normal continuar dormindo…”

Se for para escutar Tá na Moda, o debute do trio, melhor ficar com a segunda opção. E o dublê de guitarrista e escritor deveria priorizar as aventuras do detetive Bellini.



(coluna publicada hoje no Diário Catarinense)

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