20160824

Toda a glória do pop genérico

As cantoras pop que os Estados Unidos exportam para as paradas mundiais obedecem a um padrão. Assim como celebridades brasileiras cometem desatinos e depois vão chorar perdão à opinião pública no Fantástico, as divas de lá surgem imaculadas, caem na vida e, conforme o impacto nos negócios, criam o chamado “fato novo”: trocam de produtor, adotam outra postura, anunciam uma reviravolta na carreira. Calejada nas dores e delícas da fama, Britney Spears segue a lição à risca e promete surpreender com seu nono disco, Glory. Até aí, é jogo jogado e acredita quem quiser.



Ela está mais madura, saúdam os discípulos. Nota-se: “Eis meu convite, baby. Espero que isso nos liberte para conhecermos melhor um ao outro”, balbucia a outrora Princesa do Pop na abertura, “Invitation”. Nada contra atiçar hormônios adolescentes, principalmente vindo de uma mulher que, com 34 anos e dois filhos, ostenta curvas de dar inveja a muita mocinha. Mas isso é que o Britney sempre fez, desde que saiu do Clube do Mickey para povoar os sonhos eróticos de toda uma geração de jovens eleitores republicanos. Melhor passar para outro quesito, porque esse já está manjado.

Se o apelo sexy que chegou ao ápice com “Toxic” em 2003 não funciona com tanta eficácia, a sonoridade não deixa a desejar em termos de mais do mesmo. A partir do single “Make me”, fica claro que a investida em novos compositores e a produção compartilhada entre profissionais do sucesso não passa de um fim, e não de um meio para oferecer algo diferente de um genérico dançante. Vai ver, Britney é que está certa em fingir que mudou. Como dizia P.T. Barnum, o inventor dos freak shows no século 18, “nunca, na história do showbusiness, alguém perdeu dinheiro por achar que o público é trouxa”.

Quando éramos reis
Morto em janeiro de 2015, aos 60 anos, o produtor Lincoln Olivetti gravou apenas um disco autoral, em 1982. Mas deixou sua marca em alguns dos álbuns mais suingados de Tim Maia, Jorge Ben, Rita Lee e Gilberto Gil, para citar apenas os nomes mais conhecidos do pop brasileiro com quem trabalhou. Como ninguém no mercado nacional ainda se dignou a lançar uma coletânea dele, o site americano Wax Poetics fez a gentileza de compilar singles que retratam as várias fases do mago carioca dos estúdios. O material foi dividido em duas mixtapes – Brazilian Boogie Boss 1978-1984 e Brazilian Disco Don & AOR Ace 1975-1997 –, dissecadas aqui e aqui. Imperdível.






 ANÇAMENTOS



Max Romeo, Horror Zone – Aos 68 anos, o jamaicano é das poucas vozes da era de ouro do reggae que continua na ativa. Seu novo disco retoma a pegada do clássico “War ina Babylon” (1976) muitíssimo bem acompanhado por músicos dos Upsetters e dos Wailers. “Fed Up” e a faixa-título mostram que o veterano nunca deixou de cultivar as raízes.



Bilhão
, Atlântico Lunar – Munidos de duas guitarras e um sintetizador, os cariocas Felipe Vellozo (baixista de Mahmundi) e Gabriel Luz (com quem toca no Crombie) deram vazão ao seu projeto de dream pop com vibração balneária. É música para se escutar largado, como se a vida estivesse ganha em “Horizontalidade” ou “Tô pra Ver o Tempo”.



(coluna publicada ontem no Diário Catarinense)

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