20190212

Empatia na entrevista de emprego

Enquanto finge que lê meu currículo, ele me pergunta por que eu gostaria de trabalhar ali. Respondo que vejo a empresa como um lugar onde poderei exercer todas as minhas habilidades e desenvolver novas aptidões – uma tradução cordial para “a vaga falava em jornalista, é o que sou e é o que temos para esta merda de profissão nesta merda de mercado”.

Impassível, meio blasé até, o RECRUTADOR começou então a explicar o que esperava de um candidato ao cargo. Quanto mais banal a função, mais empolada ficava a versão em inglês que a designava – em matéria de eufemismo, ele (também) me dava aula. Pelo que entendi, deveres de empregado e direitos de pejotinha. Pelo piso. Mas, às sextas, poderia ir para a firma de PANTUFAS.

Não sei se a cara que fiz denunciou meu pavor. Ele reagiu com indiferença. Um pouquinho de pena, talvez. Não foi o primeiro da semana a me achar um loser, e era apenas terça. Não me deprimi nem me exaltei: eu via apenas um grande vazio naquilo tudo. É bem provável que ambos tenhamos razão. Combinamos de manter contato se surgir alguma oportunidade.



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